E
a Entrada? Qual
a Melhor Solução?
Elétrica
Jorge
Knirsch
Introdução
Em
um artigo anterior, intitulado “Como
Realizar Sua Entrada de Energia”, analisamos como calcular a potência total do nosso
sistema, considerando as indicações das placas dos aparelhos. Vimos
também que, no caso dos amplificadores de potência, com algumas
recomendações adicionais, é possível se verificar qual a potência
realmente consumida por estes componentes, levando-se em conta a
classe de operação em que trabalham. Pudemos assim calcular não só
a potência consumida atualmente pelo nosso sistema, como também
estimar a potência necessária para uma eventual ampliação
futura. A partir dai, levando em conta a tensão da rede, calculamos a
corrente necessária e, logo a seguir, a bitola adequada dos
condutores para a instalação elétrica. Portanto, chegamos à
entrada de energia, na caixa de entrada. Espero que vocês possam
instalar uma linha dedicada exclusivamente para o equipamento de som e vídeo,
a partir da caixa de entrada da sua residência ou do seu apartamento,
pois isto pode efetivamente melhorar os resultados.
Vamos
agora ao próximo passo: que componentes elétricos poderemos utilizar
na entrada? Como deverá ser feita a fiação, caso a distância seja
maior do que cinqüenta metros?
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E a Fiação Mais Longa?
Como Fica?
Como
no final do artigo acima mencionado falávamos da fiação, vamos agora
aqui complementar este assunto, considerando o caso da fiação mais
longa.
O
problema ocorre quando a fiação, entre a sala de audição e o
quadro de luz, se torna mais longa do que 5Om. Neste caso, devido a esta
maior distância, há uma maior queda de tensão nos condutores. Em
outras palavras, ocorre aí uma redução ou uma perda maior da tensão
da rede, dependendo do consumo, e isto vai precisar ser compensado, para
que a tensão não fique muito baixa para os nossos aparelhos. A norma
brasileira faz esta compensação calculando inicialmente a perda de
tensão nos cabos, para depois calcular a nova e maior bitola necessária
para os condutores. Mas este é um cálculo muito complicado para se
expor aqui e, assim sendo, vamos dar uma regrinha mais simples, que
atende a essa norma com folga.
Voltando ao cálculo realizado no artigo acima mencionado, após
termos definido a potência necessária e levado em consideração a
tensão da rede elétrica, conseguimos obter a corrente necessária e daí
chegamos a determinar a bitola do condutor. Como agora a nossa distância
é maior do que 5Om (e menor do que 80m), teremos que aumentar a
corrente necessária em 20%,
para então definirmos a bitola dos nossos condutores. Mas se a distância
for maior do que 8Om, teremos que acrescentar mais 20% a cada 30m
adicionais. Vamos dar um exemplo prático, para ficar bem claro como se
calcula a bitola dos condutores nestes casos. Vamos supor que a sala de
som se encontre a uma distância de 53m da entrada de energia. Neste
caso, digamos que o eletroduto onde irá passar, por exemplo, a fiação
das duas fases e do neutro (esta fiação sempre rígida), tenha um
comprimento de 76m. Lembre-se de que você sempre deverá usar, para o
fio neutro, a mesma bitola que for usada para os fios das fases. Vamos
supor que a potência necessária para o sistema seja de 3000W e a tensão
da rede seja 120V. A corrente necessária, portanto, será de 25A (ou
seja, 3000/120 = 25A). Como a nossa distância no caso é maior do que
5Om, teremos que acrescentar a esta corrente 20% e, assim, iremos obter
30A (25 X 1.2 = 30A).
Observem que, neste caso, teremos que utilizar uma bitola de 6mm2, que
vai até 36A, pois a de 4mm2 só vai até 28A.
Vamos agora supor que desejamos
mudar a localização do eletroduto para um outro lugar mais conveniente
e, com isto, o comprimento dele vai se alterar de 76m para, digamos, 95m. Teremos então que
acrescentar, para os primeiros 5Om a 80m, 20% à corrente e depois, para cada 30m
adicionais,
mais 20%. Obteremos, portanto, o seguinte cálculo: 25 X 1,20 X 1,20 =
36A. Como este valor é exatamente o valor da corrente máxima da bitola
de 6mm2, nós teremos, para este caso, que utilizar a próxima bitola
maior, ou seja, a de 10mm2, que comporta uma corrente máxima de 50A.
Esta regrinha prática, de modo geral, sobredimensiona as bitolas dos
condutores, o que é favorável ao nosso sistema.
Um
alerta a vocês é que, com bitolas de fios rígidos e flexíveis acima
de 6mm2, as interligações com tomadas e disjuntores deverão ser
feitas por eletricistas competentes, pois apresentam alguma dificuldade
técnica. Tomem, portanto, muito cuidado!! Outro aspecto importante que
não deveremos esquecer é que os condutores
que passam pelo eletroduto (tanto para as fases, quanto para o
neutro), deverão ter sempre a mesma
bitola. Normalmente se costuma utilizar fios rígidos para as duas fases
e para o neutro e isto é recomendável. Porém, se vocês desejarem
realizar uma otimização, deverão usar um fio flexível para o fio
terra, mantendo, se possível, a mesma bitola dos fios rígidos das
fases e do neutro. Isto traz a vantagem da redução dos ruídos
provenientes da rede, principalmente quando o neutro e o terra estiverem
muito bem aterrados (NBR5410 TN para sistemas de HT e de entrada. Para
sistemas de referência pode ser TT com proteções especiais). A razão de sugerirmos a utilização
de fios rígidos para as fases e o neutro e fio flexível para o terra
tem a sua explicação no assim chamado efeito
Skin ou efeito pelicular. Este efeito diz
que quando uma corrente passa por um condutor, numa dada freqüência,
quanto maior for esta freqüência, tanto mais para a superfície do
condutor a corrente percorrerá. Isto quer dizer que uma corrente contínua
poderá ocupar até o centro do condutor, enquanto que uma corrente de
alta freqüência caminhará pela superfície deste condutor. Existe a
assim chamada profundidade Skin, que é a profundidade
que esta corrente pode atingir, contada da superfície do
condutor para o centro, em relação à freqüência da corrente que está
passando por este condutor. Quem estiver interessado neste assunto poderá
ver no www.google.com colocando ”efeito Skin“e aí procurar vários textos
sobre o assunto. (Vejam também o artigo:
Dicas de Áudio: A Fiação de Entrada
)
Muitos
afirmam que não existe diferença entre um condutor flexível e um rígido
de mesma bitola na condução de correntes em 60Hz, porém os harmônicos,
que estão em freqüências mais altas, caminharão com maior facilidade
pelo condutor flexível do que pelo condutor rígido, exatamente por
causa do efeito Skin. Isto porque, em primeiro lugar, a
superfície de cada fio do condutor flexível não encosta totalmente
nos fios adjacentes e, em segundo lugar, porque cada fio do condutor
flexível está parcialmente isolado dos adjacentes, devido aos
lubrificantes usados na fabricação quando da trefilação
dos fios. Como os harmônicos são prejudiciais não só para o
nosso sistema de Home Theater, como para qualquer tipo de
aparelho elétrico, é preferível usar fios rígidos (que também tem
custos menores) na alimentação dos nossos aparelhos, pois atenuarão
mais fortemente os harmônicos. Já para o condutor terra, que dá
apenas um referencial de tensão, o condutor deverá ser flexível para
facilitar o aterramento de correntes espúrias em alta freqüência.
O Disjuntor de Entrada
Vamos
ver agora, qual o aparelho seccionador e de proteção que
deveremos
utilizar na entrada. Normalmente se usam disjuntores. Esta é, sem dúvida,
uma boa alternativa. Há no mercado dois tipos de disjuntores: os que
seguem normas americanas (ANSI) e normalmente têm carcaça de baquelite
preta, e os que seguem as normas européias (IEC), que são de poliéster
ou uréia branca. O que mais se encontra por aí são os pretos, de
norma americana. Porém, as nossas normas brasileiras são baseadas nas
normas européias, de forma que os disjuntores brancos estão mais bem
adaptados para os nossos circuitos elétricos. A principal diferença
entre eles é que o limite de corrente de curto circuito dos disjuntores
de norma americana (ANSI)
é mais alto do que o dos disjuntores de norma européia (IEC). Assim,
se utilizarmos um disjuntor preto e se ele for associado à bitola do
condutor normalmente utilizado em nossas instalações residenciais
(2,5mm2 para tomadas), no caso de ocorrer um curto circuito, ele poderá
vir a causar um retardo no desligamento e possivelmente provocar danos
à fiação existente. Desta forma, como nossas normas seguem as normas
européias, com certeza será muito melhor utilizarmos disjuntores
brancos (IEC)!
Existem
muitas marcas de disjuntores que seguem as normas européias no mercado,
como por exemplo: Siemens, Glockner Möller, Pial Legrand, Schneider e várias
outras. Entre todas elas, prefiro e utilizo a marca Siemens. Vou
explicar.
Todo
disjuntor tem duas tarefas principais a desempenhar: a primeira é
proteger o circuito de uma sobrecorrente, isto é, quando uma pequena
quantidade a mais da corrente normal estiver porventura passando pelo
disjuntor, ele deverá, dentro de um determinado tempo, desligar. A sua
outra função é, evidentemente, proteger o circuito contra um curto
circuito. Na verdade, esta é a sua principal tarefa. E neste sentido, a
norma brasileira apresenta duas curvas de disparo ou desligamento: uma,
que é a tal chamada curva C, onde o disjuntor desliga o circuito ao
qual estiver ligado, através de uma bobina interna, quando a corrente
que estiver passando por ela for de 5 a 10 vezes maior do que a corrente
nominal do circuito. O que quer dizer isto? Por exemplo, com um
disjuntor de digamos 50A de corrente nominal, quando por ele
passar uma corrente entre 250A a 500A ele desligará imediatamente. Estes
disjuntores de curva C são utilizados preferencialmente para a proteção
de motores (e também em caso de transformadores, quando os disjuntores
de curva M não estiverem disponíveis).
A outra modalidade é aquela que oferece a
curva B, onde a corrente de curto circuito é mais baixa e está numa
faixa que corresponde de 3 a 5 vezes a corrente nominal do circuito.
Como a maioria dos nossos equipamentos de áudio e vídeo possuem
transformadores na entrada (alta corrente ao ligar), para os quais os
disjuntores de curva M seriam os mais adequados, porém muito difíceis de
achar no mercado, vamos para os nossos sistemas usar os disjuntores de
curva C.
Pelas experiências que realizei, os disjuntores da Siemens (linha 5SX1)
obedecem melhor à norma, com menor desvios das médias admissíveis do
que o das outras marcas. Por este motivo é que eu costumo utilizá-los.
É importante lembrar que o objetivo primordial dos disjuntores, no
circuito de som, é proteger a fiação instalada e não os aparelhos.
Os aparelhos já possuem proteções individuais, normalmente adequadas.
Mesmo assim, a corrente nominal dos disjuntores a serem instalados deve
ser igual ou um pouco superior à corrente calculada a partir da potência
consumida atualmente pelo sistema. Este aspecto é muito importante para
que haja a máxima proteção possível!
Um
outro lembrete importante é que não se deve colocar nenhuma proteção
ou interrupção no neutro, ou seja, não se deve colocar nenhum
disjuntor, fusível, chave faca ou seccionadora no neutro. Caso seja
colocada uma proteção, poderão ocorrer danos aos aparelhos ligados,
devido ao fenômeno chamado perda do neutro. Leiam o
artigo sobre este assunto, que está aqui no nosso site chamado:
“Alerta:
O Perigo da Perda do Neutro”
Existe Alguma Alternativa
Melhor?
A revista alemã AUDIO, em uma de
suas edições passadas, traz um artigo muito interessante sobre cem
maneiras simples de otimizar um sistema de som e imagem. Entre as dez
primeiras sugestões, que são as mais efetivas, a revista traz, em
quarto lugar, (vejam só, é o quarto lugar, dentre as cem sugestões
arroladas!) uma que se refere à entrada de energia para o nosso
sistema, que é muito interessante.
Assim diz o artigo:
Quarta
sugestão: “FUSÍVEIS NA CAIXA DE ENTRADA”
“Aficionados
do som estão trocando seus
modernos disjuntores da entrada
por fusíveis. A menor indutividade destes componentes permite, nos
transientes musicais, maior disponibilidade de corrente.”
Realmente os
fusíveis possuem algumas vantagens em relação aos disjuntores e, para
ser mais preciso, possuem exatamente três vantagens e somente uma
desvantagem!
Em primeiro lugar, é correto dizer que os fusíveis possuem
menor indutividade do que os disjuntores. Estes possuem bobinas para a
função de proteção contra curtos-circuitos, como já comentávamos,
as quais representam maiores indutâncias à passagem da corrente,
quando da existência de transientes de corrente. Em segundo lugar, a
resistência elétrica dos fusíveis é muito mais baixa do que a dos
disjuntores, pois os fusíveis não possuem as já comentadas bobinas e
nem os enrolamentos que existem em torno dos bimetais que dão proteção
contra as sobrecorrentes. Em terceiro lugar, todo fusível de qualidade
desliga mais rápido do que qualquer disjuntor, ou seja, a proteção
que um fusível pode dar, é melhor do que aquela que o disjuntor
correspondente poderá oferecer.
A única
desvantagem do fusível é que, quando queima, precisa ser trocado. Já
o disjuntor, nesta situação, apenas precisa ser religado.
Evidentemente, não estamos aqui fazendo
comentários de qualquer fusível. Existem, como vocês bem sabem, vários
tipos de fusíveis. Há os fusíveis de rolha e também os de cartucho
que, em algumas condições especiais, podem vir até a explodir.
Não, aqui
não estou comentando sobre estes fusíveis. Refiro-me sim, aos
fusíveis Diazed e aos fusíveis NH. Àqueles componentes de aplicação
industrial (NH) e de aplicação residencial (Diazed) lá na Europa e
que também, estão à venda no mercado nacional. Há vários
fabricantes no Brasil e aqui novamente recomendo os fusíveis da Siemens,
pela sua elevada qualidade.
Para colocar os fusíveis, recomendo que vocês utilizem uma
chave seccionadora sob carga trifásica, do tipo 3NP4010 (-OCH01), da Siemens, e
de fusíveis NH, tamanho 000. Caso vocês não estejam
utilizando as três fases, não coloquem nada no pólo central, pois o
neutro deverá passar diretamente, sem ser interrompido, como vocês
poderão ver no artigo acima mencionado.
Conclusão
Nesta série de artigos, mostramos como
devemos projetar o nosso circuito de entrada. Em primeiro lugar, vimos
como calcular a potência atualmente consumida pelo nosso sistema de som
e imagem, para logo em seguida estimarmos a potência necessária para o
futuro, para uma eventual ampliação dos equipamentos. Em segundo
lugar, pudemos, a partir deste ponto, calcular o diâmetro da fiação,
ou seja, pudemos calcular a bitola dos condutores, inclusive para distâncias
mais longas. Em terceiro lugar, vimos alguns componentes elétricos de
proteção, como disjuntores e seccionadoras sob carga, com fusíveis NH,
para a proteção da fiação.
Importante aqui, torno a recomendar-lhes,
é que vocês não se aventurem a realizar estes procedimentos sozinhos,
se não tiverem experiência em instalações elétricas. Se este for o
caso, vocês deverão contratar um eletricista competente. E, mesmo
assim, deverão acompanhar toda a instalação de perto. Dêem bastante
atenção às conexões e isolações necessárias. A melhor conexão não
é aquela que é soldada, mas a que é realizada com pressão entre as
partes condutoras. Quanto maior a pressão, melhor é o contato elétrico.
Isto é fundamental!! Lembrem-se que um mau contato pode vir a ser um
ponto gerador de harmônicos e de calor e, eventualmente, isto poderá
vir a provocar um incêndio.
Desejo a todos excelentes contatos elétricos
e tudo o mais e ótimas audições, com a nova e magnífica instalação
que vocês irão realizar! (Escrevam para nós relatando as diferenças
auditivas que tiverem notado).
Até
a próxima e aquele abraço!!
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