Estou
recolhido em minha sala de audição, desfrutando o Concerto No. 2
para piano e orquestra, opus 102 de Shostakovich (Classics for
Pleasure — EMI CFP-4547). Por sinal, excelente disco, recomendado
pelo Erich Bedricovetchi (São Paulo). Neste ambiente, tomado por um
ânimo musical excitante, inicio esta última parte da série de
artigos que venho escrevendo sobre a otimização do sistema eletrônico
para a reprodução do som. Tema da parte de hoje: o aterramento
eletrostático.
Este,
dentre todos, será o capítulo mais difícil de escrever devido às
implicações que poderá trazer ao seu equipamento.
Os
nossos colegas Holbein Menezes (Florianópolis) e Mário Bodanese
(Lagoa Vermelha) sabem do que estou falando. Ambos sofreram repetidas
queimas de fusíveis nos amplificadores, devido a algumas experiências
feitas no processo de aterramento eletrostático dos sistemas deles,
porque não haviam levado em conta todos os pré-requisitos necessários.
Ainda bem que foi só queima de fusíveis! Já no meu caso, há alguns
bons anos atrás, quando iniciei minhas experiências com aterramento,
destruí por puro descuido um par de caixas acústicas! Por esta razão
é que venho relatando a vocês com detalhes toda a teoria do
aterramento, passo a passo, e indicando todos os cuidados que se deve
tomar. Procuro levar a tarefa a bom termo para que vocês atinjam o
resultado sonoro que todos desejamos.
A
respeito do último artigo em que escrevi sobre aterramento eletromagnético,
o colega Godofredo Couto Cardoso (Aracaju) levantou uma questão
interessante: perguntou se a chapa de aço que se coloca sobre a
prateleira da estante tem que ter necessariamente as dimensões exatas
da prateleira. Quis também saber se esta chapa poderia ser pintada ou
se tal interferiria no aterramento. Naquele artigo, eu havia sugerido
para aqueles que usam estante não metálica, que colocassem uma chapa
de aço, de 2 a 3 mm de espessura, sobre cada prateleira. Isto
funcionaria como um anteparo capaz de bloquear as ondas eletromagnéticas.
Respondendo ao amigo Godofredo, esclareço que, para que a chapa metálica
funcione como um bom anteparo, protegendo o aparelho da influência
eletromagnética, bastará que tenha dimensões um pouco maiores do
que as do aparelho (tanto na largura quanto na profundidade). Em se
tratando de vários aparelhos numa mesma prateleira, a chapa precisará,
igualmente, proteger a todos. Quem quiser, poderá pintar a chapa, sem
problema algum, desde que preserve livre de tinta o local onde será
colocado o parafuso para fazer a interligação com as outras chapas
da estante. É preciso tomar este cuidado para se garantir um bom
contato elétrico e, com isso, permitir que o aterramento seja
efetivo.
No
último artigo, eu também fizera considerações a respeito dos
blocos de ferrite. Desejo agradecer aqui ao Dr. Avelino Neto (Brasília)
pelo seu entusiástico apoio. Depois de ler o artigo, Dr. Avelino
resolveu realizar experiências com os blocos de ferrite colocados nos
cordões de força dos aparelhos de som e, de igual modo como eu
relatara, também constatou alteração indesejável nos agudos, com
evidente perda de musicalidade.
Vamos
agora iniciar o estudo do aterramento eletrostático. Começaremos
pela análise do terra interno de um aparelho eletrônico.
© 2004-2014 Jorge Bruno Fritz Knirsch
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O
Terra Interno de um Aparelho de Som
Todo
aparelho eletrônico de áudio, independentemente de ter ou não o
terceiro pino no cordão de força, possui um terra interno. Este é o
ponto referencial das tensões do aparelho. Para entendermos como tal
terra é constituído, vamos aqui apresentar as principais partes
internas de um aparelho de som.
Fig.
1. Os principais componentes de um aparelho eletrônico de áudio.
No esquema, estamos mostrando apenas as partes básicas de um
aparelho e a maneira como elas estão relacionadas com o terra. Com
isso, pretendemos facilitar a compreensão de assunto tão complexo.
Em
cima, à esquerda, temos o cordão de força, que poderá ou não ter
o terceiro pino. Como vocês sabem, a função do terceiro pino é
aterrar o aparelho, que sempre existe internamente. Ele liga a central
de terra do aparelho ao terra do sistema ou por exemplo do jardim.
Isto é feito para que o aparelho possa descarregar suas tensões
aleatórias (as cargas eletrostáticas), escoando-as pelo terra do
jardim. Estas cargas eletrostáticas não são necessárias ao
funcionamento do aparelho. Aliás, elas surgem de forma imprevista e
acidental. Como são totalmente dispensáveis, devem ser eliminadas,
para não interferirem no processo, de forma indesejável e
inadequada. O nosso planeta Terra absorve todas essas cargas elétricas
excessivas com a maior facilidade, uma vez que ele apresenta a menor
tensão possível: tensão nula.
É
importante lembrar que a fase e o neutro são os provedores de energia
do aparelho. Portanto, a energia vinda da rede elétrica entra no primário
do transformador pela fase e pelo neutro.
Sabemos
que a tensão da energia da rede elétrica é alternada. No entanto,
essa tensão só será adequada para alimentar os circuitos de áudio
se for transformada em tensão continua regulada ou não. A função
de adequar a tensão da rede aos circuitos de áudio cabe ao
transformador, à ponte retificadora e à fonte de alimentação.
Gostaria
agora de mencionar um procedimento inadequado, que acontece muitas
vezes sem que tenhamos consciência disso: a inversão dos pinos do
neutro e da fase (do cordão de força) na tomada da parede. Tal
inversão não é correta porque inverter a polaridade causa uma piora
no som. Observem no esquema (Fig. 1) o porquê disso. Sabemos que há
uma polaridade entre o primário e o secundário do transformador.
Esta polaridade está representada, no esquema, pelos pontos ao lado
dos enrolamentos do transformador. Note que o ponto no primário é
ligado à fase, enquanto que o ponto no enrolamento secundário
corresponde, após a ponte retificadora, à fonte de tensão continua
positiva (ou seja, corresponde ao positivo da fonte de alimentação).
Já o neutro, que é ligado ao primário do transformador (no lado sem
ponto), torna-se, no secundário (no lado que também não há ponto),
a parte negativa da fonte de alimentação. (É importante ressaltar
que o negativo da fonte de alimentação é totalmente diferente do
negativo do sinal de áudio ligado ao terra). É por esse motivo que
se estabeleceu a seguinte convenção: quando enfiamos os pinos do
cordão de força na tomada da parede, sabemos que o pino da fase é
sempre aquele que fica à direita. Nas tomadas americanas, para se
evitar erro de inversão, o pino do neutro já vem diferenciado do
pino da fase (o pino do neutro é mais largo).
Gostaria
agora de analisar com vocês um outro ponto interessante da problemática
do aterramento: as diferenças entre neutro e terra.
Vamos
nos reportar novamente ao nosso esquema. Como vimos, o neutro é um
dos terminais do primário do transformador isolador, enquanto que o terra,
como podemos verificar, é o centro do enrolamento do secundário.
Como vocês sabem, entre o primário e o secundário existe apenas uma
separação galvânica, por meio da qual um campo magnético transfere
toda a energia necessária ao secundário. Portanto, não existe
nenhum contato elétrico entre o neutro e o terra. Podemos observar
que, dentro do aparelho, eles estão totalmente separados: enquanto
que o neutro está no terminal do primário (sem ponto), o terra está
no centro do secundário. É verdade que ambos estão no mesmo nível
de tensão, pois o neutro, como já estudamos anteriormente, está
aterrado pela concessionária de energia e na nossa entrada de energia.
Como
pudemos constatar, o terra do transformador sai do meio do enrolamento
do seu secundário. A partir daí, sai um fio que vai até ao ponto T.
Este ponto T representa o terra central do aparelho. Em geral esse
terra é fixado em um determinado ponto da carcaça metálica do
aparelho. Mesmo que a carcaça seja de plástico, pode-se escolher
algum ponto dela para ser a central de terra do aparelho.
Note
que, desta central T saem todas as ligações de terra para cada
circuito do aparelho. O importante é que esta central esteja eqüidistante
de todos os pontos das placas eletrônicas onde os referenciais de
terra serão utilizados. Quero dizer com isso, que os comprimentos dos
fios que fazem tais ligações devem ser mais ou menos iguais entre
si. É importante que seja assim, para que haja um mesmo nível de
tensão entre todas as partes do aparelho.
Podemos
observar que, em aparelhos bem projetados, o ponto T assume a forma de
uma estrela, pois dele saem todos os fios terra para todos os
circuitos do aparelho, assim como para as fontes de alimentação,
para os circuitos de áudio, como também para todos os circuitos de
proteção que porventura o aparelho tenha.
Entre
os principais fatores que vão assegurar a boa qualidade sonora de um
aparelho estão: o ponto terra corretamente projetado e a adequada
topologia dos circuitos de áudio desse aparelho. Ao lado de outras
premissas relevantes, é isso que vai distinguir os aparelhos de
primeira linha dos de qualidade inferior.
Infelizmente,
muitos fabricantes de equipamentos de áudio ainda não reconheceram
este fato. Utilizam-se do assim chamado “terra em linha”, isto é,
ao invés de adotarem uma central T bem definida, vão interligando,
em linha, um ponto ao outro dos referenciais de terra, percorrendo,
deste modo, todos os circuitos do aparelho. Procedendo assim, estão,
sem se dar conta, gerando pequeníssimas diferenças de tensão entre
os referenciais. Isso vai acarretar vários problemas sonoros, sendo o
mais danoso deles a perda da nitidez do som. Outro inconveniente que
poderá surgir, por exemplo, é o aparecimento de um zumbido muito
baixo nas caixas acústicas.
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Outro aspecto importante que devemos analisar a partir do
nosso esquema é o seguinte: observem que tanto o negativo do sinal de
entrada quanto o negativo do sinal de saída, ambos estão aterrados
no ponto central T. Quando existir o terceiro pino da tomada, este
também estará aterrado ali no ponto central T. Porém, em muitos
aparelhos observamos algo diferente: o negativo do sinal de entrada não
é diretamente ligado à central de terra T, mas indiretamente, por
meio de resistores de baixo valor, ou de outros componentes eletrônicos,
colocados em série. Esse procedimento em geral é feito como um
recurso para proteger-se a saída do aparelho contra níveis de tensão
continua inadequados, caso os níveis de tensão indesejáveis apareçam
na entrada do aparelho (off set). Esse artifício de proteção, no
entanto, não é adequado para se efetivar o aterramento no seu
conceito mais pleno. Por tal motivo, sugiro que você verifique, em
cada aparelho do seu sistema, se o negativo do sinal de entrada está
realmente em curto com o negativo do sinal de saída. Para isso, você
deve, em primeiro lugar, desligar todos os aparelhos da tomada e, em
seguida, desconectar todos os cabos. Faça então a verificação, com
a ajuda de um multitester ou de um ohmimetro, de preferência
digital. Vá anotando os dados constatados para cada aparelho. Não
deixe de anotar também a existência ou não do terceiro pino e se
ele está realmente em curto (=resistência nula) com os negativos do
sinal. Quero, no entanto, lhe pedir para não iniciar ainda nenhuma
medição, pois explanarei mais adiante todos os passos que devem ser
dados, com detalhes. Peço isso para que você não venha a correr
riscos desnecessários.
Os
Cabos
Quanto
aos cabos, você precisará verificar a resistência do negativo e do
positivo, de um terminal ao outro. Para essa verificação, utilize-se
também do ohmímetro. Entre os negativos dos dois terminais do cabo,
e também entre os positivos, o ohmímetro deverá indicar um curto
(resistência nula). Isso normalmente ocorre com todos os cabos que
utilizam cobre ou prata como condutor. No mercado, porém, há cabos
que utilizam outros tipos de materiais, onde a resistência interna não
é nula, seja no positivo, seja no negativo. Anote os valores que
encontrar, pois, neste caso, teremos que tomar outras medidas com relação
ao seu sistema de som. Da mesma forma, faça igual verificação para
os cabos digitais caso você esteja utilizando transporte e conversor
digitais separados.
Um Pouco
de Teoria
Um
pouco de teoria será necessário para que você venha a entender o
conceito do aterramento. Há princípios importantes que não podemos
deixar de respeitar. O primeiro deles versa que: “Todo loop de
terra gera instabilidade em um sistema eletrônico (oscilações) e, em
conseqüência pode gerar ruído em um sistema de áudio”.
Vamos esclarecer o que vem a ser “loop de terra”: um loop de terra
ocorre quando uma corrente elétrica encontra mais de um caminho para
chegar ao terra. Pelo exemplo a seguir, vocês poderão visualizar
esse fenômeno e compreender o que acontece. Observem a Fig. 2:
Fig.
2. Ilustração de um Loop de Terra.
A
Fig. 2 nos mostra dois aparelhos de som ligados em série. Notem que
ambos possuem o terceiro pino na tomada e, por conseguinte, sabemos
que os dois aparelhos estão aterrados. Observem agora a carga
eletrostática I (trata-se de uma carga de corrente elétrica instantânea,
que deverá ser eliminada). Ela vem vindo pelo ramo A, passa pela
central de terra T2 e quer chegar ao terra do nosso jardim. Notem que,
a partir da central T2, ela encontra dois caminhos para chegar ao
terra do jardim. Vocês seriam capazes de identificá-los? O mais fácil
é aquele aonde a carga eletrostática vai seguindo diretamente pelo
terceiro pino do aparelho 2, para daí chegar ao terra do jardim. E o
outro caminho? Confiram: a partir da central T2, a carga I entra pelo
negativo do sinal no aparelho 1, vai até a central de terra T1, segue
para o terceiro pino do aparelho 1 para, finalmente, chegar ao terra
do jardim.
No
exemplo acima, estabeleceu-se dois caminhos para o aterramento. Isso,
no jargão técnico, é chamado de «loop de terra». A dupla
(ou múltipla) possibilidade de passagem da carga eletrostática I
cria um certo vai-e-vem no seu fluxo, ou, em outras palavras, uma
certa instabilidade, um certo titubear em seu caminhar. A isso
denominamos “oscilação eletrônica”.
Essa oscilação pode aparecer de forma audível nas caixas acústicas,
em forma de ruído, o qual poderá se apresentar de múltiplas
maneiras, isto é, poderá ser um ruído quase inaudível ou
algo mais pronunciado, em alto volume, manifestando-se na forma
de um chiado ou “rumble”, podendo se evidenciar no
grave, no médio, ou no agudo, ou até mesmo nos três
alto-falantes de forma simultânea. Alguns
aparelhos de som, por terem sido projetados com um certo
descuido, apresentam “loops de terra”, já
internamente, em suas placas de circuito impresso. Nesse caso,
como os ruídos que se manifestam são crônicos e sem solução,
não há realmente nada que se possa fazer, a não ser
substituir tais aparelhos por outros, de qualidade superior.
Devemos,
portanto, estar atentos quanto aquilo que podemos sanar ou
evitar, em especial “loops de terra” externos
criados, por algum motivo, de forma inadvertida.
Procurando
respeitar o primeiro princípio do aterramento, ao evitar loops
de terra, estamos assumindo que o segundo princípio do
aterramento é também verdadeiro. Ei-lo: “Um
sistema de som ideal é aquele que está aterrado somente em um
ponto”.
(Mais adiante veremos que isso nem sempre é possível).
Pergunto: em
que ponto da nossa cadeia de som devemos realizar o único
aterramento? A teoria, hoje bem fundamentada com comprovação prática,
nos esclarece que quanto mais próximo da emissão do som o
aterramento for feito, melhor será a qualidade sonora do sistema.
Vamos considerar, como o ponto ideal de toda a cadeia de reprodução
para se fazer o aterramento, o amplificador, já que ele é o aparelho
mais próximo da emissão sonora. (Note que falei da emissão sonora e
não da geração do sinal).
Portanto,
em uma situação ideal, o sistema de som estará aterrado em apenas
um aparelho: o amplificador. Estamos considerando aqui, como sistema
de som ideal, aquele sistema em que todos os cabos apresentam resistência
nula, tanto no ramo positivo como no ramo negativo, e em que os
negativos dos sinais de entrada e de saída de todos os aparelhos estão
em curto. É neste caso, e somente neste caso, que o segundo
princípio do aterramento poderá ser aplicado.
Observem
o esquema do sistema ideal, conforme nos mostra a Fig. 3. Notem que,
em tal sistema, representado pela Fig. 3, o transporte e o conversor
estão presentes. Se no lugar deles, estivéssemos usando um cd player,
para efeito de aterramento, a ligação do cd player seria igual á do
transporte (pois ambas as ligações são do mesmo tipo). O cd player
estaria, portanto, diretamente ligado ao pré-amplificador. Note o
leitor que nesse esquema, a titulo de simplificação, uma única
caixa acústica foi representada (é claro que, no nosso sistema,
usamos pelo menos duas caixas).
Como já mencionamos, no
sistema ideal todos os cabos (digitais e de interconexão) possuem um
curto tanto no ramo positivo, como no ramo negativo (resistência
nula). Em cada aparelho, todos os negativos de entrada e de saída estão
ligados às suas respectivas centrais de terra. O terceiro pino no
cordão de força, de cada aparelho, ou não existe, ou foi anulado
por meio de adaptador, com exceção do amplificador, cujo terra é o
terra efetivo de todo o sistema.
Fig.
3. O aterramento de um Sistema Ideal.
Desta maneira, como vocês podem
notar, todos os aparelhos da cadeia de áudio estão aterrados, via
aterramento apenas do
amplificador.
Algumas
Considerações Importantes Antes da Prática
Como
em todas as áreas, a parte prática nem sempre se encaixa com a
teoria. Diz-se que todas as técnicas têm os seus macetes, e aqui não
é diferente. Por isso, vamos devagar, sem precipitações, analisando
cada detalhe antes de nos aventurarmos a “por as mãos na massa”.
O
nosso objetivo será, sempre que possível,
aproximarmo-nos ao máximo daquele sistema de áudio ideal.
Estaremos, no entanto, atentos para que o nosso sistema não entre em
oscilação pois, como vimos, isso cria ruído nas caixas acústicas.
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Quero
recomendar-lhes que adquiram um multiteste digital (se já não o
possuírem), para as experiências que vamos realizar em prosseguimento.
As medições com os aparelhos digitais ficam mais fáceis e precisas. No
mercado existem inúmeras marcas e modelos, a preços bastante
acessíveis. Sugiro multiteste da Fluke, existem vários modelos. São de
excelente qualidade e tem todas as funções básicas necessárias
para que realizemos um bom aterramento.
Nesta
altura do campeonato, espero que muitos de vocês já tenham instalado
o terra no jardim e puxado o fio até a tomada da sala de audição.
Espero também que não tenham se precipitado, realizando experiências
que poderão resultar em algum dano. Antes de começarmos,
providenciem alguns adaptadores de 3 para 2 pinos, para que possamos
anular o terra de alguns aparelhos. A Prime fabrica um adaptador
bastante robusto e bom. Note bem: nunca faça qualquer experiência
sem antes desconectar os cabos positivos (ou os cabos negativos, tanto
faz) de cada caixa acústica. Isso vale também para sistemas com satélites,
subwoofers, etc. Só aí você poderá alterar o terra do cordão de fôrça
de um dado aparelho, usando o adaptador. É importante que se aja
assim como medida de precaução, para que nossas caixas acústicas não
sofram dano, caso se criem oscilações no sistema ao mudarmos o
aterramento.
Volto
a frisar: nunca religue o sistema sem antes ter desconectando as
caixas!! O risco é muito grande e não compensa. Não seguir esse
procedimento poderá, de forma irremediável, danificar as caixas acústicas!!
Após
desligar as caixas e fazer as modificações necessárias, ligue de
novo o sistema. O amplificador deverá ser o último a ser ligado (da
mesma forma, quando desligar o sistema, sempre desligue primeiro o
amplificador). Em seguida religue, com um leve toque, isto é, aos
pouquinhos, o cabo positivo de uma das caixas, a fim de verificar se não
surgiu nenhum ruído nelas. Caso esteja tudo 0K, ou seja, caso não
haja zumbido algum, religue todos os cabos e avalie o resultado do
aterramento, ouvindo o seu sistema. No entanto se no processo de
religar o sistema você notar ruído na caixa, volte atrás e analise
o que aconteceu. Mais adiante lhes forneceremos alguns dados que irão
ajudar nessa análise.
Realizando
o Aterramento na Prática
Tendo
colocado todas essas premissas, vamos agora dar início às nossas
experiências práticas. Desligue todos os aparelhos, fazendo o mesmo
com todos os cabos. Antes de tudo, vamos analisar aparelho por
aparelho, cabo por cabo. Começaremos pelo amplificador. Em seguida
iremos observar o cabo de interconexão entre o amplificador e o pré-amplificador;
depois o próprio pré; em seguida o cabo de interconexão entre pré
e conversor; depois o próprio conversor, depois o cabo digital e,
finalmente, o transporte.
Acreditem
ou não, já vi amplificadores high-end que não apresentavam o
terceiro pino no cordão de força! O que vocês querem que eu diga?
Claro que são inadequados para um bom sistema de som! Hoje já não
é concebível um amplificador sem o terceiro pino do terra no cordão
de força.
Vamos
agora fazer algumas medidas, com o multitester. Coloque-o na
função para medir resistências, na escala mais baixa, que
normalmente é de 200 ohms. Coloque os terminais do multitester
em curto e ajuste no “zero ohms”. Caso isso não seja possível,
devido às características intrínsecas do aparelho, não se esqueça
de descontar, das suas medições efetivas, aquele valor encontrado
quando em curto (que normalmente fica entre 0,1 e 0,9 ohms). Meça a
resistência entre o terceiro pino e a carcaça do aparelho. Essa medição
deve apresentar uma resistência nula. Tome cuidado, pois é fácil
haver um mau contato na carcaça, indicando uma resistência com valor
diferente de “O ohm”. Para garantir um bom contato, escolha, por
exemplo, um parafuso da carcaça.
Essa experiência demonstra que a central de terra do aparelho
está ligada à carcaça. Vamos medir agora a resistência entre o
terceiro pino e o negativo do sinal de saída. Como resultado, você
deverá encontrar um curto-circuito, ou seja, a resistência também
deverá ser nula. Isto quer dizer que o negativo do sinal de saída
também está ligado à central de terra do aparelho. Até aqui, tudo
bem. Vamos então em frente. Mediremos agora a resistência entre o
terceiro pino e o negativo do sinal de entrada. Se você encontrar um
curto, isso é bom, pois significa que a teoria continua valendo no
seu sistema. No meu caso, por exemplo, não foi isso o que aconteceu:
ao medir o Krell (KSA- 100S), encontrei um valor de 2,2 ohms. Suponho
que deva haver um componente eletrônico aí intercalado,
provavelmente um resistor de 2,2 ohms. Isto significa que a entrada do
meu amplificador não está aterrada. Foi por isso que, além de ter
aterrado o amplificador, precisei também aterrar um aparelho anterior
a ele (no caso, o conversor), para que o sinal que chega ao
amplificador tivesse um referencial nulo de tensão. Por que escolhi o
conversor, e não o pré-amplificador, que é o aparelho logo anterior
ao amplificador, para aterrar e solucionar o problema? Vocês irão
dizer que eu cometi um equívoco ao ter deixado de respeitar aquela
premissa que versa: “quanto mais próximo da emissão do som o
aterramento for feito, melhor será a qualidade sonora do sistema”.
De fato, vocês teriam razão, se o meu pré-amplificador não fosse
passivo. Como vocês sabem, um pré-passivo não possui central de
terra; por isso, no meu caso, tive que aterrar o conversor. Utilizei,
para isso, o terceiro pino do cordão de fôrça.
Hoje
é muito comum encontrarmos, nos amplificadores, um componente eletrônico
intercalado entre o negativo do sinal de entrada e a central de terra
do aparelho. Esse é um recurso de proteção normalmente adotado, por
ser simples e barato, contra níveis de tensão continua inadequados
que porventura entrem no aparelho, e que, se não fossem eliminados,
poderiam vir a danificar as caixas acústicas. Do ponto de vista do
aterramento, sabemos que tal não é a melhor solução. No entanto, a
solução ideal seria muito complexa no aspecto técnico e, por via de
conseqüência, comercialmente cara. Uma outra alternativa para se
resolver esse problema tem sido a utilização de capacitores de
desacoplamento na entrada do aparelho. Porém, tal solução tem se
mostrado mais inadequada ainda, pois os capacitores acrescentam coloração
ao som, o que é indesejável sob todos os aspectos.
Se,
no seu caso, você encontrou um curto entre o terceiro pino e o
negativo do sinal de entrada do seu amplificador, vá ao próximo
passo: confira o cabo de interconexão entre este e o pré-amplificador.
Com o multitester aferido para medir resistências, meça a
resistência do condutor negativo e, depois, do condutor positivo do
cabo. Para medir o condutor negativo, coloque as pontas do multitester
na capa dos terminais RCA. E, para medir o condutor positivo, meça os
pinos centrais dos RCA machos de cada lado. Se ambas as medidas
indicarem curtos-circuitos, a teoria do sistema ideal continua
valendo: neste caso somente o amplificador será aterrado (pelo menos,
por enquanto, a não ser que apareça a necessidade de alguma outra
intervenção). Você, neste caso, está apto a dar o passo seguinte.
No entanto, se numa destas medições você encontrar um valor não
nulo no amplificador, o pré-amplificador precisará ser aterrado, além
do amplificador. Tenho realizado experiências que mostraram que os
cabos podem provocar oscilações no sistema (ruído) e, quando
aterramos o aparelho logo anterior ao cabo, o ruído é minimizado.
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Vamos
agora ao passo seguinte: à análise do pré-amplificador.
Procederemos aqui da mesma forma como o fizemos com o amplificador. No
pré, as medições normalmente costumam mostrar que os negativos dos
sinais, tanto de entrada quanto de saída, estão em curto. Se este
for o seu caso, utilize um adaptador para anular o terceiro pino do
cordão de força do aparelho. (Perceba que, se viéssemos a aterrar
um aparelho, nesta situação, estaríamos criando um loop de terra
— Veja a Fig. 2 novamente). Mas, se você descobrir que o negativo
do sinal de entrada do seu pré não está aterrado, então deverá
aterrar o aparelho logo anterior a ele, ou seja, o seu conversor (ou o
seu cd-player).
Espero
estar conseguindo lhes transmitir a técnica do aterramento: indo do
amplificador ao transporte (ou ao cd-player, se este for o caso),
sempre que o negativo do sinal de entrada de um aparelho for
interrompido, ou seja, sempre que o negativo do sinal de entrada não
estiver diretamente ligado ao terra deste aparelho, o aparelho
imediatamente anterior a ele deverá ser aterrado.
Bem,
creio que, a partir daqui, você já poderá continuar a experiência
sozinho. Apenas um lembrete: no conversor, o negativo do sinal analógico
de saída e o negativo do sinal digital de entrada devem estar em
curto. Já no transporte, ou no cd-player, pouco se tem para
conferir, pois neles só existe um sinal de saída.
Terminada
toda a verificação, religue os cabos no sistema. Neste momento é
importantíssimo você desligar um dos terminais dos cabos de caixas
acústicas, para evitar qualquer dano à elas. Religue agora todos os
aparelhos (que estejam com o terceiro pino anulado, ou não) começando
pelo transporte (ou pelo cd-player), e terminando com o
amplificador. Ainda com um dos cabos da caixa desligado, apenas
encoste-o no terminal da caixa para verificar se não aparece ruído.
Se não aparecer, 0K, religue todas as caixas, coloque sua música
preferida e avalie o seu «novo» sistema. Mas, caso um ruído apareça,
será preciso reavaliar todo o procedimento. Refaça as medições,
tomando muito cuidado para não incorrer em erro. É mais fácil
encontrar um valor resistivo qualquer do que um curto. Confira se
existe consistência nos valores encontrados.
Conclusão
Voltados
para o áudio, acabamos de apresentar, em 5 partes, o tema “Aterramento:
Faz diferença?!” em que falamos das várias facetas do
aterramento e de suas implicações para um sistema de som.
Orientamos
como colocar as hastes de aterramento para a criação do terra, em
qualquer tipo de terreno, levando em conta também os terrenos
arenosos e os rochosos. Falamos, em seguida, a respeito da correta
colocação dos pinos dos aparelhos nas respectivas tomadas.
Comentamos sobre os malefícios que aqueles blocos de ferrite,
normalmente colocados nos cordões de fôrça dos aparelhos, trazem ao
som. Em seguida, falamos a respeito das ondas eletromagnéticas e
descrevemos a forma de se implantar o aterramento eletromagnético, a
fim de resguardar o nosso equipamento dos efeitos destas ondas.
Finalmente, apresentamos o aterramento eletrostático, dando uma
orientação precisa a respeito de qual ou quais aparelhos deverão
ser aterrados, considerando-se as peculiaridades de cada sistema.
Mas,
até agora, não mencionei nada sobre os sistemas com sinal
balanceado. Em principio, o procedimento deve ser o mesmo, com uma
diferença fundamental: se, com os plugues RCA fizemos a verificação
do sistema em relação aos negativos do sinal, em sistemas
balanceados faremos em relação ao pino 1, que é o terra. Veja a
Fig. 4.
Fig.
4. Tomada de Sinal Balanceada.
Em
sistemas balanceados, tanto o positivo como o negativo do sinal são
vivos e não estão ligados ao terra. Esperamos ter sido bastante
abrangentes na nossa abordagem sobre o aterramento, porém temos
consciência que estamos longe de esgotar o assunto. A cada dia
estamos aprendendo mais um pouquinho sobre este vasto tema.
Outro dia, o Ricardo Pontes (Fortaleza) me ligou, relatando um
sintoma pouco comum acontecendo no seu som: relatou que surgiu, há
cerca de quinze dias, uma seqüência de “clics”, tanto no seu som
quando no seu telefone, e ele não conseguia descobrir a origem da
interferência. Isso me inquietou também. Mais tarde, trocando idéias
com o Erich (São Paulo), e depois novamente com o Ricardo,
conseguimos “matar a charada”. O Ricardo mora na cobertura de um
prédio. Como vocês sabem, na cobertura dos prédios fica também a
casa das máquinas dos elevadores: ali ficam vários motores que são
ligados e desligados, conforme a utilização dos elevadores. Estes
motores são chaveados com contatores de potência. Sabemos que fortes
ondas eletromagnéticas são emitidas quando tais motores são ligados
e desligados, por meio de contatores. Para se evitar que isso aconteça,
são colocados supressores de ruídos sobre os contatos dos contatores.
Porém, quando os supressores se queimam, as ondas eletromagnéticas,
geradas ali nos contatores, se espalham pelo ar e entram em todos os
sistemas elétricos que estejam por perto como, por exemplo, o som e o
telefone do Ricardo. Ao ser chamada, a empresa de manutenção do
elevador confirmou a queima dos supressores, que já estão sendo
trocados. Como vocês vêem, há sempre novidades.
Desejo
a todos uma boa audição, curtindo o “algo mais” obtido com toda
essa trabalheira do aterramento. Espero que tenha valido! Até mais!
Atenção: Novos estudos e
pesquisas, mostram que a diferença entre a tensão entre fase-neutro
e fase-terra (medido com carga) não devem ser superiores a 1V tanto
em 120V como em redes 230V. Caso não se consiga valores tão baixos,
recomendamos de interligarem o aterramento TT realizado ao
aterramento TN que deve existir na entrada de energia do domicílio
logo após o relógio de medição, como recomendam as concessionárias.
Veja
Audiophile News 47.
Veja também:
Perguntas/Respostas
sobre Energia Elétrica - 5a. Parte
Carta de Clientes
Boa noite, mestre!!
Consegui!!! Refiz a elétrica toda!! Fios sólidos, fase dedicada
para as tomadas dos seus autotrafos e, o melhor: consegui fazer
aquela opção de aterramento!!!
____________ Neutro aterrado na entrada
__________________ || || Barramento de
terra
/
||
||
/
Barramento de neutro ||
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/
_______________ ||
||____
/
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||___________|| |
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Haste 1 (1,5m)|
Hastes 2, 3, 4 (3,0m/cada)
Deu certo! Três
hastes de 3m, interligadas com dois condutores, saindo
da haste central, um indo para o barramento do neutro e
outro para o barramento do terra.
Os últimos três
dias foram de MUITO trabalho! Mas valeu!!!! Acabei de
ensaiar e fiquei surpreso com a maior nitidez que
observei. Confesso que esperava ver melhoras nas
gravações, mas o ensaio ficou muito mais claro!! Fazendo
o teste fase-neutro X fase-terra, obtenho quase sempre
os mesmos valores... às vezes uma diferença de 0,1 ou
0,2 volts!!
Muito obrigado pela
ajuda!! Ah! Estou ansioso para o curso, vai ser uma
honra estar na primeira turma!!! (Curso de Apreciação
Musical em jan/14)
Grande abraço!
Fernando Sampaio -
Rio de Janeiro