No
último artigo, colocamos as três seguintes questões pertinentes à
entrada de energia para o nosso sistema de áudio e vídeo: Vale a
pena se fazer uma entrada exclusiva e direta para o equipamento de som
e imagem, a partir da entrada de energia da nossa residência ou
apartamento, ou mesmo da entrada do nosso prédio? Quantas fases deverão
ser utilizadas? Haverá vantagem em se fazer a instalação do terra?
Como
vimos, a primeira pergunta foi respondida de forma positiva. No caso
de morarmos num apartamento, vimos que seria melhor, se possível,
puxar a nossa entrada direto da entrada do prédio. Na segunda questão,
a utilização de duas fases se prova ser a melhor opção e, quanto
à última pergunta, chegamos à conclusão de que o aterramento
adequado do sistema traz diversas vantagens.
Muito
bem! Vamos então começar a analisar como poderemos realizar esta
nova entrada de energia para o nosso sistema de áudio e vídeo. Mais
adiante incluiremos, evidentemente, a realização do aterramento. Vou
ser muito específico, no sentido de que esta análise só valerá
para esta proposta específica que estamos estabelecendo: ela não será
aplicável a nenhum outro circuito elétrico. Isto, com o intuito de
evitarmos muitas explicações teóricas relativas a outros tópicos,
o que não nos interessaria aqui. Pretenderemos, portanto, nos ater
mais sobre a parte prática daquilo que nos diz respeito.
Inicialmente
vamos analisar a potência consumida pelo nosso sistema. A partir daí,
vamos calcular a potência necessária para projetarmos a nossa fiação
e, em seguida, vamos determinar o disjuntor ou algum outro dispositivo
elétrico de proteção, que utilizaremos na entrada do circuito específico
para a alimentação de energia do nosso sistema de som e imagem.
Espero
que tudo isso caiba nesse artigo. Caso não seja possível, a última
parte irá para o próximo.
© 2004-2008 Jorge Bruno Fritz Knirsch
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Qual a Potência do Sistema ?
A
primeira pergunta que deveremos fazer é: qual a real potência que o
meu sistema está consumindo hoje? E, em seguida, precisaremos também
nos perguntar: qual a potência que ele possivelmente virá a consumir
no futuro?
Estas
questões são muito importantes para que possamos fazer um projeto
coerente, sem corrermos o risco de sub- ou superdimensioná-lo
desnecessariamente. Em princípio, a potência real atual é muito fácil
de se saber, pois ela vai ser igual à soma de todas as potências dos
aparelhos ligados. Mas aqui há um porém: no geral, as potências
indicadas nas placas ou nos manuais dos aparelhos, infelizmente, não
são as potências efetivamente consumidas. Isto porque as potências
indicadas são potências máximas, que os equipamentos poderão vir a
consumir em determinadas situações específicas. Assim sendo, vamos
considerar, para o nosso cálculo, apenas 80% da potência de placa ou
daquela indicada nos manuais.
Vejam que estaremos incluindo aqui todos os aparelhos do nosso
sistema de áudio e vídeo, como cd-players, pré-amplificadores,
transportes, conversores, televisores e outros, com exceção dos
amplificadores de potência. Isto porque, para estes últimos, temos
que fazer algumas considerações especiais: como eles são os
aparelhos que mais energia consomem no sistema, vamos considerar 100%
da potência indicada pelo fabricante.
No caso de
amplificadores de potência em classe A, não deveremos apenas
considerar a potência entregue às caixas acústicas, mas também a
potência consumida pelos aparelhos em repouso, que normalmente é de
valor elevado. Por exemplo, um amplificador de potência em classe A,
que utilizei durante algum tempo, foi o Krell KSA-100S, que
possui uma potência nominal de 100W RMS por canal, porém que também
consome uma potência em repouso que pode chegar a 400W para ambos os
canais!
Nesse caso, deveríamos levar em conta, para o nosso cálculo,
um valor de 600W. Acontece que, em muitos amplificadores em classe A,
o manual não indica a potência consumida em repouso e, então, uma
alternativa seria a de consultarmos o distribuidor, para a obtenção
da informação correta. Outra maneira de se obter a potência de
repouso, é medirmos a corrente e a tensão no cabo de força do
aparelho, com ele ligado, mas sem estar tocando música. Mas sei que
esta não é a praia da maioria dos nossos leitores e, assim sendo,
para os que possuem amplificadores de potência em classe A, creio que
será melhor vocês consultarem mesmo o distribuidor. No caso de
caixas acústicas ativas, onde os “powers” estão dentro
das caixas (normalmente para os alto-falantes dos graves), as mesmas
considerações que fizemos acima deverão ser levadas em conta. Não
se esqueçam também que no caso de um “home-theater” onde
existam 5 ou 6 amplificadores de potência, (os quais normalmente são
em classe AB), a potência em RMS de cada um deles deverá ser levada
em conta no cálculo.
Vamos
agora dar um pequeno exemplo prático. Para isso, vamos tomar o meu
modesto sistema de áudio como exemplo:
Aparelho
|
Potência
Nominal
|
Potência
Consumida
|
|
PN
(W)
|
PC
(W)
|
Transporte AVM
Evolution CD 1 |
30 |
24 |
Conversor Pink
Triangle Ordinal 1307 |
60 |
48 |
Pré-Amp.
All-Fet Borbely |
50 |
40 |
Power
Audio Performance Model One Borbely |
2
X 120 |
2
X 120 |
TOTAL
|
380 |
352 |
Como
vocês podem notar, o meu sistema é muito pequeno. (Aqui vai uma
observação: muita potência nunca foi necessariamente sinônimo de
uma boa qualidade da reprodução do som ou da imagem!). Os meus
amplificadores de potência são em classe AB e vejam que levei toda
potência deles em conta. Percebam que, quem praticamente determina a
potência de um sistema, são os amplificadores de potência, pelo
maior valor. Em um sistema com vídeo com duas caixas acústicas,
devido à maior quantidade de aparelhos envolvidos, o valor total é
evidentemente maior e, em conseqüência, o peso da potência dos “powers”
é um pouco menor, mas ainda significativa.
Temos
ainda que nos lembrar que o nosso sistema ao longo do tempo não é
estático, podendo sofrer várias alterações, como por exemplo
quando trocamos alguns dos nossos aparelhos. Desta forma, a potência
efetivamente consumida poderá variar para mais ou para menos,
dependendo dos aparelhos que estiverem sendo utilizados. A maior
alteração para mais será sempre trazida pela mudança dos
amplificadores de potência, caso estes venham a consumir uma potência
maior. Portanto, é necessário introduzirmos um fator de segurança
para o futuro, ou seja deveremos dobrar ou triplicar o valor da potência
efetivamente consumida pelo nosso sistema atual. Com isso,
garantiremos a possibilidade de futuras modificações, sem nenhum
problema. Esta previsão será importante para nós hoje, para
obtermos a potência necessária para fazermos o projeto da fiação,
que será o próximo passo neste procedimento.
Recomendo-lhes,
portanto, que utilizem um fator entre duas a três vezes a potência
atual consumida: caso o seu sistema tenha dado um valor alto de
consumo, por exemplo devido ao uso de amplificadores em classe A,
recomendo a utilização do fator 2 (dois); caso o seu sistema tenha
dado um valor baixo de consumo, recomendo que você utilize um fator
mais alto, por exemplo 3 (três).
No
meu caso, onde a potência efetiva consumida deu 352W, que é um valor
baixo, utilizei um fator de três. Desta forma, cheguei a uma potência
necessária em torno de 1100W. Mas, se a potência consumida hoje por
um sistema for mais alta, digamos acima de 1000W, utilizaremos um
fator de segurança em torno de 2 (dois), e chegaremos a uma potência
necessária de 2000W. Geralmente, em condições normais, a potência
necessária de um sistema de áudio e vídeo não ultrapassa os 3000W,
em alguns casos excepcionais pode chegar talvez a 5000W, mas disso não
passa. Existe uma zona de sobreposição entre 2000W e 3000W de potência
necessária, onde recomendo decidirem pelo valor mais alto, permitindo
assim todos “up-grades” futuros
imagináveis.
É
evidente que tudo isso que estamos colocando são recomendações
gerais e que cada um terá que calcular o valor para o seu sistema,
considerando a sua situação em particular, e aí, naturalmente,
poderão aparecer grandes variações. Mas na maioria dos sistemas,
com certeza, este valor deverá estar por volta de uma faixa de potência
necessária entre 1000 e 3000W.
Qual
deverá ser a Fiação?
Com
a potência necessária definida, poderemos agora calcular a bitola
dos fios que vamos utilizar. Toda a forma de cálculo que vamos
apresentar é muito simples e vale tanto para um comprimento máximo
da fiação de 50 metros quanto para a colocação dos fios em
eletroduto, que é o pior caso. Caso a fiação seja maior do que
esta, daremos a mudança necessária no cálculo posteriormente.
Dada
a tensão da nossa rede elétrica, podemos calcular agora a corrente
elétrica que poderá passar pela fiação. Tomando inicialmente a
tensão de 230V, teremos, para a potência necessária de 1000W, uma
corrente de 4,4 A e, para 3000W, uma corrente de13 A. Como
a norma brasileira NBR especifica uma bitola mínima para os fios que
irão alimentar tomadas, teremos que usar o fio com uma secção
transversal de 2,5 mm2. Este fio suporta uma corrente máxima em
eletroduto de 21A, e portanto acima dos 13A necessários. Pode então
atender até uma potência máxima necessária de 4830W em 230V.
Diferente é a situação em 120V, pois com uma tensão mais baixa,
aumenta a corrente e aí vamos precisar de fios mais grossos. Vejamos
então: para 1000W em 120V, teremos uma corrente de 8,3A, onde o fio
de 2,5 mm2 com uma corrente máxima de 21A, ainda atenderá com muita
folga a necessidade. Já com 3000W em 120V, teremos uma corrente de 25
A, onde o fio de 2,5 mm2 não atenderá mais a demanda.
Assim sendo, temos que usar o de secção transversal maior,
isto é, o de 4,0 mm2 que poderá ir até 28 A. Só para a informação
de vocês, caso necessitem, o fio de secção transversal de 6,0 mm2,
que é a próxima bitola existente, poderá ir até 36 A.
Chamo a atenção que, com esta bitola, já haverá problemas de
interconexão com tomadas e disjuntores. Só a utilizem se for
absolutamente necessária. Bitola maior do que esta realmente é
praticamente inviável e desnecessária.
Quanto
à marca de fio a se utilizar, recomendo usarem fios da marca Pirelli,
que é, na nossa opinião, a melhor marca do mercado. Para uma fiação
interna, pode-se usar os tipos Pirastic Ecoflam ou então o Sintenax
Econax. Para aplicação externa, o mais famoso é sem dúvida o
“Plastichumbo” da Pirelli que, inclusive, também pode ser usado
em interiores. Este cabo é multipolar, com três condutores internos,
permitindo levar as duas fases e o neutro até o seu sistema.
Ultimamente estou usando fio rígido normal da Pirelli, hoje
Prysmian, com excelentes
resultados. Dêem preferência aos fios rígidos, ou também chamados de
fios sólidos, para fases e neutro e cabo flexível de mesma bitola para
o terra!!
Conclusão
Analisamos
a forma de calcular a potência consumida por um sistema de áudio e vídeo,
e em seguida vimos como calcular, a partir daí, a potência necessária
que a fiação deverá atender. Calculando a corrente, pudemos definir
as bitolas de fio que serão cabíveis para as diversas situações
que poderão se apresentar. Nós analisamos o caso da entrada de
energia para duas tensões, 120V e 230V, mas o procedimento vale para
todos os outros valores que existem por aí, Brasil afora, como por
exemplo: 110V, 115V, 127V, 220V, etc. Notem como a bitola do fio é
definida apenas pela corrente necessária para o sistema, calculada a
partir da divisão da potência necessária pela tensão da rede elétrica
no local.
Esta
forma de cálculo é muito simples e absolutamente suficiente e
eficiente para atender qualquer sistema de áudio e vídeo.
A
partir do próximo artigo, falaremos sobre os aparelhos elétricos de
proteção na entrada do circuito como, por exemplo, os disjuntores e
as seccionadoras. Trataremos também das correções necessárias para
o cálculo das instalações, quando a fiação for maior do que 50m.
Em seguida, discorremos sobre o aterramento.
Quero
mencionar aqui a colaboração do amigo e colega, técnico
eletricista, Ricardo Luiz Alduini, pela troca de idéias e diversas
sugestões práticas para a formulação deste artigo. Desejo a todos
muito ânimo e um excelente trabalho quanto à realização da entrada
de energia.
Até
a próxima e aquele abraço!!