ATERRAMENTO:
FAZ DIFERENÇA?!
(PARTE
4)
Elétrica
Jorge
Knirsch
Introdução
No
último artigo analisamos os benefícios que os dois tipos de
aterramento (eletromagnético e eletrostático) podem trazer ao nosso
sistema de som. Mencionamos várias Interferências indesejáveis que
eles podem resolver. Em seguida, apresentamos, ainda que de forma
abrangente, as ondas eletromagnéticas. Vimos como se faz para conseguir
modular estas ondas a fim de que elas adquiram condições de
transportar os sinais de áudio e de vídeo pelo ar, a longas distâncias.
Há ainda outras maneiras de se modular as ondas eletromagnéticas, mas
isso para nós aqui não vem ao caso. Nesta oportunidade vamos estudar
uma maneira de proteger o nosso sistema de áudio das ondas eletromagnéticas,
impedindo que elas atinjam os nossos equipamentos. Iniciaremos também
(se o espaço assim o permitir) o estudo dos fundamentos do aterramento
interno de um aparelho eletrônico.
Mas,
antes de tudo, em primeiro lugar, desejo tecer alguns comentários sobre
aqueles blocos de ferrite que se costuma colocar em torno do cordão de força
dos aparelhos. Acredita-se que eles consigam garantir a eliminação
completa de todas as interferências da rede elétrica (como por exemplo
as radiofreqüências e os harmônicos indesejáveis). No entanto, quem
já tentou tirar uma destas interferências do seu sistema — quem sabe
a Rádio América ... (veja o artigo anterior) —usando para isso os
blocos de ferrite, provavelmente se frustrou. Geralmente estes blocos não
alteram em nada a situação. Sabem por que? Porque, na maioria dos
casos, ao contrário do que muitos pensam, essas interferências não vêm
da rede elétrica, mas sim pelas ondas eletromagnéticas presentes no
ar. As ondas eletromagnéticas entram no sistema através dos próprios
aparelhos de som (que se tornam receptores) e/ou pelos cabos de
interconexão (como já vimos no último artigo). Notem bem o que
acontece: os blocos de ferrite, além de não resolverem o problema de
interferências como o da presença da Rádio América no sistema, eles
podem alterar o balanço tonal do som, deixando os agudos mais
pronunciados e até mesmo estridentes. Algumas pessoas comentam este
fato dizendo que “o som fica metálico”.
Pergunto:
esse fenômeno é correto? Isto é: ao se limpar a rede elétrica
deve-se esperar que apareçam mesmo mais agudos? Vamos analisar: sabemos
que a rede elétrica é uma onda senoidal em 60Hz. Isto quer dizer que
os elétrons da energia vão e voltam 60 vezes por segundo entre a fase,
a carga e o neutro. 60Hz é uma freqüência muito baixa, que fica na
região do grave, próxima ao sub-grave. Como, então, com os blocos de
ferrite, aparecem altas freqüências [harmônicos acima de 3000 Hz] nas
caixas acústicas? De onde elas vêm? O que acontece é que os blocos de
ferrite perturbam o campo magnético natural que existe em torno dos
cabos de força, gerando com isso altas freqüências que, por sua vez,
são absorvidas pela onda da rede elétrica, entrando no sistema de som.
Como as fontes de alimentação dos equipamentos de som não conseguem
filtrar estas altas freqüências, elas aparecem de forma audível nas
caixas acústicas. Portanto, com os blocos de ferrite, aumentamos o
problema: em vez de melhorarmos a filtragem para limpar a rede elétrica,
nós sujamos a rede ainda mais, acrescentando altas freqüências! Que
grande contra-senso!
© 2004-2014 Jorge Bruno Fritz Knirsch
Todos os direitos reservados
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O Aterramento
Eletromagnético
No
terceiro ano da faculdade de engenharia elétrica tivemos a cadeira de
eletromagnetismo. Que boa época aquela! Ainda desse tempo me lembro de
uma fórmula que tem tudo a ver com o nosso assunto:
divB=0
Fig.1
O divergente do campo magnético (vetorial) é nulo.
Vamos
explicar: esta fórmula refere-se ao interior de uma esfera oca metálica
e quer dizer que qualquer onda eletromagnética existente no ar não
pode se propagar no interior desta esfera, porque ali não existe campo
magnético. Vejam a importância deste princípio elétrico: há um espaço
(dentro da esfera metálica) onde a nossa querida Rádio América não
pode sobreviver! Não é uma maravilha?!!! Um espaço onde não existe
nem sobrexiste nenhuma onda eletromagnética! E realmente fabuloso!!!
Conseqüentemente, temos que: se o nosso equipamento de som for colocado
dentro de uma esfera oca metálica, não sofrerá nenhuma influência elétrica
externa. Não é genial?! Estaríamos livres de quaisquer interferências
indesejáveis! E fim do problema!
Nestas
alturas, alguém me dirá:
— “Calma aí! Não tenho as mínimas condições
de colocar meu equipamento dentro de uma esfera metálica oca. Isto
seria loucura!”
E eu lhe
direi:
— “Você tem razão. Eu só estava
sonhando...”
Mas sei
que os sonhos nos levam a novas idéias e a novas realizações. E
fiquei pensando: será que não existe uma outra forma de nos
aproximarmos do ideal? Lembrei-me que, na biomedicina, para medirem os
campos magnéticos de uma pessoa, eles usam o que se chama de “Gaiola
de Faraday” (físico-químico inglês, nascido em 1791). Como os
campos magnéticos no homem são muitos pequenos, é fundamental que não
exista nenhuma interferência externa. Por isso surgiu a idéia de se
construir grandes gaiolas, fabricadas com telas ou grades de aço.
Dentro delas ficam todos os instrumentos e também o paciente, para se
realizar as medições e assim se garantir resultados confiáveis.
Pensem
bem: estas gaiolas, na verdade, nada mais são do que uma variante da
nossa esfera metálica oca.
Da mesma
forma, por que não se pensar em se construir uma sala de som ideal
(livre de interferências magnéticas externas)? Precisaríamos embutir
nas paredes uma Gaiola de Faraday. Isto é, teríamos que colocar em
baixo do reboque (tanto das paredes, quanto do teto e do piso) grades
metálicas, eletricamente interligadas entre si. Para quem está
construindo sua casa, creio que isto não seria tão complicado e
realmente valeria a pena. Claro que, para uma sala já pronta, esta solução
não é tão viável, a menos que as interferências magnéticas sejam tão
fortes que a pessoa se disponha a executá-la. De fato, esta é uma solução
radical e muito efetiva.
E quanto
àqueles que já têm sua sala de som montada, não têm nenhuma Rádio
América no sistema e, no entanto, gostariam de otimizar o seu som? Há
algumas alternativas. Uma delas seria colocar todo o equipamento em uma
estante metálica, onde as prateleiras seriam interligadas eletricamente
com um fio flexível de cobre, aterrado no terceiro pino da tomada de força.
Aconselho que façam esta ligação na parte de trás da estante, para não
ficar muito aparente. Façam um furo em cada prateleira e se preocupem
em retirar toda a tinta em torno de cada furo, para que o fio tenha um
bom contato elétrico com a prateleira. Utilizem parafusos, arruelas e
porcas de latão para prender as várias partes do fio. Adotei esta solução
em minha sala de som. A influência sonora foi impressionante! Constatei
que a extensão dos graves aumentou e a sua nitidez também. O grave
ficou mais limpo e mais articulado, ou seja, a sua constituição harmônica
se tornou mais completa.
E quanto
àqueles que utilizam estante de madeira? O que fazer? A sugestão é
colocar uma chapa metálica em cada prateleira da estante, interligar
todas elas com um fio flexível e aterrar. Essas chapas devem ser de aço,
com espessura de 2 a 3 mm, do tamanho de cada prateleira.
Podem ser colocadas por cima ou parafusadas por baixo de cada
prateleira. Para uma melhora ainda maior do som, pode-se colocar também
chapas nas laterais e no fundo da estante, sempre interligadas entre si
e aterradas através do fio flexível de cobre.
E para
aquele audiófilo que não tem o seu equipamento montado numa estante?
Ele precisaria construir uma “gaiola” para cada aparelho, ou seja,
colocar o aparelho entre duas chapas metálicas, presas entre si por
quatro colunas e interligadas por um fio aterrado. Caso queira uma isolação
eletromagnética maior, poderá colocar também chapas metálicas nas
laterais e no fundo da “gaiola”, sempre interligadas eletricamente
entre si.
Uma
sugestão adicional, que melhora ainda mais o resultado obtido, pela idéia
da “Gaiola de Faraday” na reprodução do som, é pendurar cada
aparelho, em vez de deixá-lo apoiado em cima de uma chapa metálica, O
importante é manter um pequeno vão entre o aparelho e a chapa
inferior. Para isso, o ideal é prender quatro molas na chapa metálica
superior (fazer quatro furos e encaixar as molas) e atar a elas fios de nylon
que sustentarão o aparelho. Vide Fig. 2. Se você não quiser pendurar
seus aparelhos, pode simplesmente apoiar cada um deles sobre quatro
molas.
Fig. 2 — Sugestão
de fixação em suspensão de um aparelho em uma prateleira individual.
Este
procedimento é interessante porque melhora a espacialidade e a focagem
dos instrumentos e das vozes.
Sobre
este assunto atraente e polêmico, o nosso colega Holbein Menezes vai
relatar ainda algumas outras experiências que temos feito.
Conclusão
Neste
artigo analisamos o aterramento eletromagnético, ou seja, estudamos uma
forma de impedir as ondas eletromagnéticas de atingirem o nosso
equipamento de som. Com isso, conseguimos dois benefícios: de um lado
obtivemos uma melhora na reprodução das baixas freqüências e, de
outro, garantimos que uma Rádio América ou o tic-tac do radar de um
aeroporto nas imediações não alcancem as nossas caixas acústicas.
No próximo
artigo, onde espero concluir todo este assunto, analisaremos o
aterramento interno de um aparelho. A partir daí, iremos compreender
como funciona o aterramento eletrostático. Deixei esta parte para o
final devido à complexidade que ela apresenta. Iniciaremos falando da
parte interna dos aparelhos, depois passaremos para os cabos, falando do
“Loop de Terra”, para, finalmente, achar a forma mais
adequada de aterrar todo o sistema.
Espero
vocês no próximo artigo, recomendando que tomem sempre muito cuidado,
agindo com muita cautela. Não façam experiências autodidatas. Já
estourei um par de caixas acústicas, fazendo experiências com
aterramento eletrostático!
Até
lá
e
boa audição a todos!!
Atenção: Novos estudos e pesquisas,
mostram que a diferença entre a tensão entre fase-neutro e fase-terra
(medido com carga) não devem ser superiores a 1V tanto em 120V como em
redes 230V. Caso não se consiga valores tão baixos, recomendamos de
interligarem o aterramento TT realizado ao aterramento TN que deve
existir na entrada de energia do domicílio logo após o relógio de
medição, como recomendam as concessionárias. Veja
Audiophile News 47.
Veja também: Perguntas/Respostas
sobre Energia Elétrica - 5a. Parte
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