ATERRAMENTO:
FAZ DIFERENÇA?!
(PARTE
2)
Elétrica
Jorge
Knirsch
Introdução
Meus caros amigos, sentado na
minha sala de som e escutando o excelente disco da Proprius PRCD 9093,
com o coro da Catedral de Estocolmo em conjunto com o coro infantil de
uma escola de música também de Estocolmo, volto a escrever, com muito
prazer, a continuação destes artigos sobre o aterramento.
Fiquei muito impressionado com a repercussão do nosso último
artigo. Muitos amigos me ligaram para esclarecer as mais diversas dúvidas
as quais irei elucidar, complementando assim as informações necessárias
sobre a problemática do aterramento. Um deles, o nosso amigo Holbein
Menezes, ligou e disse que havia feito as medições de tensão entre
fase e neutro e entre fase e terra, como havíamos sugerido, e encontrou
os seguintes valores:
Tensão
fase-neutro = 217V (nominal:220V)
Tensão
fase-terra = 127V
(com a lâmpada ligada)
O Menezes reside em Florianópolis,
uma região muito arenosa, e estava utilizando um outro sistema de
terra, sobre o qual nada relatei no último artigo, pelo
simples
fato de ser pouco usual.
Fig. 1 Aterramento usual
Trata-se
do aterramento horizontal, que também é descrito nos vários livros de
teoria sobre aterramento. Consiste na colocação de hastes de
aterramento de forma seqüencial (uma após outra): interligadas entre
si com cabo flexíveis (AWG 10 ou 12), enterradas horizontalmente em
baixa profundidade, a cerca
de 0,5 a 1,0 metro. Este tipo de aterramento é recomendado para solos
rochosos, onde não é possível bater estacas, devido à pequena
espessura da camada de terra. O aterramento horizontal, porém, não é
adequado para solos arenosos, que, diga-se de passagem. é um dos piores
solos para se conseguir um bom terra. Vejam a diferença de tensões que
havia no aterramento do nosso amigo:
217V
- 127V = 90V
90V
é realmente uma diferença muito grande!
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As
Diferenças de Tensões
O terra, que deve ser um
referencial de tensão, neste caso não é um bom referencial e,
portanto, pode vir a afetar a segurança dos aparelhos! (Menezes, estou
me lembrando das nossas experiências com o terra e dos problemas que
tivemos nos powers!).
A
diferença máxima de tensões, para redes de 120V é de 10V, como eu
havia me referido no último artigo. Nas redes de 220V esta diferença
poderá chegar ao dobro ou seja, 20V.
A
rede em Florianópolis é de 220V. E o Menezes partiu assim, para a
execução de um aterramento mais adequado e efetivo à sua realidade: o
aterramento vertical. Como sugerimos, bateu as 3 hastes no solo,
formando um triângulo eqüilátero de 2 metros de lado. Depois,
interligou as hastes e fez novamente as medições.
Desta
vez a diferença das tensões se mostrou ainda um pouco acima dos 20V
permitidos, mas já não se apresentava tão grande como antes! Note
bem: as hastes devem ser bem enterradas, para se evitar o problema da
oxidação. Outra observação importante e que à distância de 2
metros entre as hastes é um padrão comumente adotado justamente por
ser uma medida normalmente disponível nos quintais ou nas áreas de
recreação dos edifícios. Porém, não há nenhum inconveniente em se
aumentar esta distância,isto é, em se aumentar os lados do triângulo.
Muito pelo contrário: quanto maior for o triângulo, melhor será o
aterramento e, portanto, menor será a diferença das tensões que serão
encontradas. Caso você tenha feito o aterramento usual e verificado
que a diferença das tensões entre fase-neutro e fase-terra
ultrapassou o valor máximo permitido (ou seja, 10V para as redes de
120V e 20V para as redes de 220V), não se aflija. Existe ainda uma
forma de alcançar um melhor ajuste do seu aterramento.
Se o seu espaço disponível permitir,
bata mais
três novas
hastes de aterramento, afastando-as o máximo possível de cada vértice
do triângulo e interligando cada uma delas ao vértice mais próximo.
Observem
a figura 2 para ter uma idéia melhor desta disposição:Com estas
hastes adicionais interligadas, conforme a figura 2, a diferença das
tensões fase-neutro e fase-terra diminui mais ainda. Caso a diferença
das tensões ainda se encontre acima do valor máximo permitido, utilize
sal em torno de cada haste. No último artigo,
falamos em dividir um quilo de sal em torno das três hastes do triângulo
eqüilátero.
Fig.2
– Otimização do Aterramento Padrão
Como
a penetração deste sal na terra dependerá das próximas chuvas,
provavelmente será melhor regar bastante, ou pegar um balde (desses que
nossas esposas usam para lavar roupas) enchê-lo com água e saturar
esta água com sal, ou seja, dissolver uma quantidade de sal tal que se
veja sal no fundo do balde. Para seis hastes de aterramento pode se
utilizar até dois baldes de água salgada em torno das hastes.
Com esta alternativa, a diferença de tensão com certeza diminui
mais rapidamente do que ter que se esperar as próximas chuvas! No
entanto, tomem cuidado com as plantas do jardim da sua esposa, pois o
sal poderá mata-las em poucos dias. Infelizmente não pude usar o sal,
pois fiz o meu aterramento no meio do jardim: certamente as rosas iriam
sucumbir a esse tratamento e... minha situação ficaria muito
delicada!
O nosso amigo Sousa, de Palmas, Tocantins, relata que existe um
tal “Terragel” que pode ser colocado em torno das hastes. Porém,
creio que deva ser nocivo às plantas também pois contém produtos químicos.
Feita toda esta otimização, o nosso amigo Holbein Menezes
conseguiu uma diferença de tensão apenas um pouco acima de 20V, o que
considero, para um solo arenoso, um número excelente, face às diferenças
que este tipo de solo apresenta.
Um outro amigo nosso, Márcio Bodanese, de Lagoa Vermelha, Rio
Grande do Sul (rede 220V), conseguiu implantar um terra nas ferragens do
edifício onde mora, com diferença nas tensões em torno de 20V.
Muitos devem estar curiosos para saber o valor do meu
aterramento. Moro num planalto, na cidade de São Paulo, no bairro do
Pacaembu, próximo ao estádio de futebol, cujo solo é muito bom (ainda
bem!!!). Minha tensão fase-neutro é igual a 119V (valor nominal da
rede 120V) e a tensão fase-terra (com lâmpada ligada) é de 121V.
Portanto, a minha diferença é de apenas 2V. O interessante é que a
tensão fase-terra é maior que a tensão fase-neutro, indicando que o
meu terra é um pouco melhor do que o aterramento do neutro feito pela
concessionária. Caso alguém tenha a tensão fase-terra acima da tensão
fase-neutro e, além disso, a diferença esteja acima de 10V (para a
rede de 120V) ou de 20V (para a rede de 220V) vale a pena verificar o
aterramento do neutro na entrada, e caso necessário, chamar a
concessionária e notificá-la disto, para que ela tome as devidas
previdências a fim de melhorar o aterramento do seu neutro, aumentando
assim a segurança da sua instalação elétrica.
Outro ponto importante a se considerar é o seguinte: se você
observar que, ao medir a diferença das tensões, o valor encontrado
estiver muito próximo de zero, desconfie. Se isto ocorrer persistentemente,
significa que o neutro e o terra estão interligados provavelmente, na
entrada de energia da residência, ou do seu edifício. Este tipo de
aterramento é denominado pela norma NBR5410 de TN. Como já vimos, esta ligação,
para os nossos equipamentos sensíveis, não permite obter o melhor
resultado auditivo, que é obtido com o assim chamado aterramento TT da
NBR5410. Neutro e terra são coisas diferentes e, em nossos sistemas de
áudio/vídeo, para otimizarmos o som e a imagem, deveriam estar
separados, com uma proteção adequada entre eles.
A
Fase, o Neutro e o Terra na Tomada
Antes de nos aprofundarmos no estudo do terra, dos aparelhos de
som e, depois, no inter-relacionamento destes em um sistema de som,
vamos olhar um pouco como ligamos o cordão de força na tomada. Existe
para a tomada de três pinos um padrão que é comumente usado.
É
o seguinte:
Esta
disposição é hoje muito usual. Em princípio, os pinos nos cordões
de força dos equipamentos de som também obedecem esta convenção. Porém, experiências
que tenho realizado mostraram que nem todos os fabricantes de aparelhos
de som obedecem a esta convenção e, por outro lado, com vários
aparelhos, a troca entre fase-neutro tem apresentado uma diferença
sonora audível. Em face desta situação, quero apresentar-lhes uma
forma prática de identificar a ligação mais correta de um equipamento
a uma tomada. Para aparelhos que tenham três pinos no cordão de força,
é importante que a tomada ao qual ligaremos este aparelho também seja
de três pontos, para que a verificação seja válida. Para aparelhos
com apenas dois pinos, a situação fica mais fácil para se executar a
identificação, pois é só inverter os pinos.
Fig.
3 - Tomada Padrão
Como verificamos a posição correta da fase e do neutro de um
aparelho de som? Tendo uma tomada onde as posições da fase, neutro e
terra sejam conhecidos, tomamos os pinos do cordão de força do
aparelho a ser testado e ligamos na tomada. Em seguida, ligamos o
aparelho. É importante que este aparelho não esteja interconectado com
nenhum outro aparelho, ou seja, que a ele não esteja conectado nenhum
cabo de interconexão.
Necessitamos,
para este teste, de um voltímetro em corrente alternada (AC). Se
possuir um "multitester”, coloque-o na posição de um voltímetro
para medir tensão alternada e aproxime a escala de medição do
aparelho perto do valor da tensão da sua rede elétrica. Em seguida,
ligue um terminal do voltímetro no neutro da rede (afaste para isto um
pouco os pinos da tomada. Cuidado!! Não faça curto com a fase!! Muito
cuidado!!) O outro terminal, ligue ao negativo de um plugue fêmea RCA
de saída de sinal do aparelho. Abaixe a escala do voltímetro para
fazer uma leitura adequada. Anote a tensão AC medida. Em seguida,
inverta na tomada a fase e o neutro e repita toda a operação
novamente, marcando a tensão AC medida. Compare então, os dois valores
obtidos. A posição correta da fase e neutro na tomada para este
aparelho é aquela em que a tensão AC medida for menor. Em alguns
aparelhos, a diferença entre as tensões e praticamente nula e nesses
casos, recomendo um teste de audição. Caso não se revele nenhuma diferença
auditiva, pode se ligar a fase e o neutro em qualquer posição.
Conclusão
Com
os vários telefonemas recebidos, apresentamos alguns pontos não
esclarecidos no primeiro artigo, complementando a instalação de um
terra adequadamente. Agradeço a todos que me ligaram pelas sugestões e
troca de idéias sobre o assunto. Apresentamos também, o aterramento
horizontal, para ser utilizado em terrenos rochosos. Foi analisado
ainda,o modo de definir corretamente a posição da fase e neutro na
tomada, para cada equipamento.
Nos próximos artigos falaremos do sistema interno de aterramento
(tipo estrela), de um aparelho de som, para, em seguida, apresentar os
dois tipos de aterramentos necessários para um sistema completo de som
e imagem.
Boa
audição à todos!!
Atenção: Novos estudos e pesquisas,
mostram que a diferença entre a tensão entre fase-neutro e fase-terra
(medido com carga) não devem ser superiores a 1V tanto em 120V como em
redes 230V. Caso não se consiga valores tão baixos, recomendamos de
interligarem o aterramento TT realizado ao aterramento TN que deve
existir na entrada de energia do domicílio logo após o relógio de
medição, como recomendam as concessionárias. Veja
Audiophile News 47.
Veja também: Perguntas/Respostas
sobre Energia Elétrica - 5a. Parte
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