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Número 263

 

Pura Emoção

 

Mídia Gravada

Flavio Adami
flavioadema@uol.com.br

            

             Deixando de lado qualquer explicação técnica para esse fenômeno, que foi o retorno do vinil ao mercado audiófilo, eu diria que fica às vezes até difícil tentar explicar o que acontece, pelo menos nos meus ouvidos, quando ouço os discos de vinil por um longo período e depois volto a ouvir cds.

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                 Talvez até possa tentar explicar o que ocorre pela culinária. O cd toca bem, não tem nenhum chiado ou pipoca, não necessita virar de lado, comporta um tempo muito maior de registro musical, ou seja, teoricamente parece ser a receita perfeita. Porém, falta tempero, talvez um pouco de sal, uma quantidade maior de cebola e alho, ou seja, o cd tem uma receita correta, porém falta sabor e, como diz Erick Jacquin, é um prato sem emoção.

Thorens TD-124: Part two
               Uma coisa fica clara: tenho vários vinis e seus respectivos cds, com a mesma gravação, e a diferença sonora entre uns e outros é enorme. As gravações diretas da Sheffield, por exemplo, reeditadas em cds, na minha opinião, são inaudíveis. Lançamentos, com masterizações japonesas caríssimas, tentam melhorar o resultado final, mas mesmo assim ainda ficam longe do original.
                O que acontece, então? Como já havia dito, não vou entrar em detalhes técnicos como, por exemplo, o fato de, nos toca discos, não haver necessidade de se converter nada como nos cd players. Prefiro voltar ao ponto de vista emocional.
                Sem dúvida, é muito gostoso colocar um bom vinil num toca discos de qualidade. E nem se discute que, nesta receita, também entra uma pitada de saudosismo que, prá mim, é como uma iguaria.
                Retornando ao prisma emocional, eu me considero um audiófilo possuidor de uma memória musical muito grande. No início, até meados dos anos sessenta, tive o privilégio de assistir, no Teatro Municipal, a concertos como: Oscar Peterson, Bill Evans, Erroll Garner, Dave Brubeck, Ravi Shankar, Astor Piazzola, e bandas como Duke Ellington e Count Basie. Desse tempo, principalmente essas bandas, ao vivo, sem nenhum microfone, ficaram na minha memória auditiva até os dias de hoje. Ultimamente, ouvindo gravações diretas, como as bandas de Harry James, pela Sheffield, e a fantástica gravação "For Duke", pela Real Time, descobri que, através dessa sonoridade, consegui voltar no tempo e resgatar um pouco do que escutei há mais de quarenta anos!
                Talvez, agora, eu tenha encontrado uma explicação para aquilo que ouço nos vinis.

            Ótimas audições e aquele abraço!

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