Número 88
Mídia Gravada
Humberto
Santilli
humbertosantilli@uol.com.br
Os Órfãos da Indústria Musical
Desde que surgiu o mp3 e a distribuição de música “gratuita”, pela internet, as lojas de disco começaram a fechar as portas.
Quem acompanhou o início do Napster e outros programas de
distribuição de música, no fim dos anos 90, acreditava ter
encontrado o paraíso na terra: Qualquer música, a qualquer
momento, de graça!
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Mal sabíamos que estávamos dando um tiro no próprio
pé... Só para começar, o hábito de baixar mp3 diminuiu
brutalmente a qualidade dos equipamentos de som caseiros, que
foram trocados por caixas de computador e fones de ouvido
baratos. Isso tudo sendo executado por uma interface de som,
embutida no computador, de qualidade sofrível. A própria
qualidade do mp3 era inferior à qualidade do CD. Foi o primeiro
passo para trás, em qualidade de áudio para o consumidor, em quase
cem anos de venda de música gravada.
A seqüência óbvia desta mudança, na aquisição de música, foi a
quase completa destruição da indústria fonográfica. Começou a
existir um mercado onde o disco já não é lucrativo, pois vai ser pirateado em
mp3 e distribuído de graça. Por este motivo, as gravadoras
passaram a abandonar o hábito de gastar fortunas em estúdios e
em profissionais de primeira, para produzirem seus discos, abaixando,
pela primeira vez na história, o padrão de qualidade comercial
dos discos.
A decadência da indústria se tornou clara, real e praticamente
irreversível, quando as lojas de discos (na época já lojas de
CDs) começaram a fechar as portas. Não uma, nem duas, mas TODAS!
Algumas poucas ainda sobrevivem (mal) do pouco consumo de nichos
como audiófilos (os últimos moicanos que ainda esperam qualidade
de áudio!) e alguns poucos saudosistas do disco.
Essa destruição total do comércio de música “palpável” acabou com
o conceito de álbum, nos restando apenas comprar o último hit do verão
na iTunes store, sem capa, sem sequência, sem 1 hora de execução
de um repertório prazeroso e coeso. Como diz o professor
Marcello Ribeiro, do audiobrazil, “comprar um disco era uma
balada!”. Com satisfação, nos reuníamos com os amigos para ouvir os discos,
pois guardávamos nosso rico dinheirinho para comprar aquele
específico CD! E
passávamos a conhecê-lo por completo, todas as suas nuances,
além dos carros chefe que iam para as rádios. Esperávamos, com
uma fita k7 no ponto, aquela música tocar na rádio, prá gente
gravar, para tê-la a qualquer momento. A música era valiosa!
Além de perdermos todo esse romantismo, tecnicamente também perdemos a oportunidade
de um upgrade do CD. Deixamos de obter uma melhoria na qualidade do som
comercializado. O super audio CD nunca deu certo, assim como o
DVD Audio também não conseguiu vingar, já que ninguém comprava mais discos mesmo.
Por fim, e não menos triste, a venda de CDs, que justificava
extensos catálogos de gravadoras, agora justifica apenas a
promoção de poucos artistas, com potencial de lotarem arenas para
mais de 20 mil pessoas, e o lucro com estes eventos gigantes (pois as
gravadoras agora exigem participação de shows em contrato).
Infelizmente, hoje sobrou apenas espaço para o hit do verão.
Bem vindos ao admirável mundo novo... (e àquilo que ele conseguir nos
reservar musicalmente)...
Boas audições!
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