Número 66
Mídia Gravada
Humberto Santilli
humbertosantilli@uol.com.br
A Compressão na Gravação
A compressão é um assunto muito discutido no áudio moderno,
principalmente dos anos 90 para cá, com o início da “guerra do
volume” e do uso cada vez mais ostensivo de compressões extremas,
para obtenção de volume, a despeito da qualidade de timbres,
limpeza e dinâmica da música.
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O motivo principal do uso da compressão é a obtenção de peso e
massa, em gravações de rock e pop, através da redução dos picos de
dinâmica do áudio e conseqüente aumento do volume do mesmo.
Seu uso também é justificado pela coloração adicionada pelo
equipamento, às vezes mais desejada que a própria compressão em
si.
Por trazer uma sensação de mais volume
(média RMS), inclusive aumentando a percepção de graves e agudos
(curvas de audibilidade de Fletcher & Munson), esta
ferramenta se tornou um xodó de técnicos e produtores. Também
deve se levar em consideração que, em equipamentos padrão
consumidor, que por sinal tem qualidade cada vez mais baixa ao
longo dos anos, um áudio comprimido soa melhor e “excita” mais o
equipamento, fazendo-o reproduzir freqüências e nuances que, em
baixas dinâmicas, estes equipamentos não seriam capazes de
reproduzir.
Ouvir uma gravação audiófila, em um sistema
consumidor, pode não ser a mais agradável das audições,
ouvindo-se apenas as dinâmicas altas em reproduções estridentes
e sem detalhamento. A justificativa do uso de altas taxas de
compressão, no século 21, seria então o sistema de reprodução de
um consumidor padrão. Ou seja, um áudio em MP3 (compressão de
data, que por si só já danifica as baixas dinâmicas e cria
distorção), sendo tocado em fones de ouvido de aparelhos
celulares ou em mini falantes com formatos de bichinhos por
exemplo, ao invés dos mini systems dos anos 70 e 80, com
caixas grandes de 2 ou 3 vias e racks dedicados, que eram
capazes de reproduzir com mais qualidade uma gravação feita com
cuidado e organicidade.
A indústria do áudio vai cada vez mais
prezando a portabilidade e o design e não a maior qualidade de
som, com a quase morte do CD e o fracasso absoluto do SACD e o
domínio total do MP3 em celulares e sistemas de som de carros
(com MP3 players de fábrica). Dentro desta realidade de reprodução de som, de baixíssima
qualidade, soa melhor quem soa mais alto.
Inevitavelmente, cria-se uma divisão de nichos de mercado, onde
90% da música gravada é ultra comprimida e masterizada, para soar
bem em um celular, por exemplo, restando um pequeno nicho
segmentado de gravações audiófilas e o retorno das gravações
analógicas e discos de vinil para alguns poucos que ainda
esperam qualidade de som e não apenas volume de uma gravação.
A sugestão do tema foi apresentada por nosso amigo e leitor
Jorge Humberto C. de Almeida, de Salvador BA.
Boas audições a todos, com
um som de qualidade, sem compressão!
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