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Número 52
 

Música ao Vivo

Flávio Adami
flavioadema@uol.com.br

              O Timbre e seu Envelope                   

                  Nós, articulistas, que fazemos análise de equipamentos de áudio, costumamos nos referir a um item que frequentemente usamos, o decaimento. Na teoria musical este conceito recebe o nome de relaxamento. Existe no meio audiófilo um pouco de confusão entre o decaimento e o relaxamento, que são parâmetros diferentes, como veremos a seguir. No contexto de uma análise subjetiva, por exemplo o relaxamento suave ou não de um tweeter é, sem dúvida, muito importante. Entretanto, temos que considerar que este item relaxamento varia muito, de acordo com cada tipo de instrumento musical e a forma como a música está sendo executada, além do sistema de reprodução que estamos analisando. Tomemos, como exemplo, uma das notas mais agudas de um piano. Se esta nota for percutida de forma normal, temos um tipo de sonoridade e um tempo de relaxamento. Entretanto, se o pedal for acionado, afastando o martelo com o feltro, esse tempo de relaxamento e de sustentação serão bem maiores.

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                  No caso de um violão, a corda mi, a última corda e a mais grave do instrumento, tem um tempo de ataque bastante rápido. Considerando os tempos de ataque, decaimento, sustentação e relaxamento, o tempo total de duração da sonoridade desta nota gira em torno dos 12 segundos, dependendo, é lógico, do violão e do tamanho da sua caixa de ressonância. Na primeira corda mi aguda, ou seja, duas oitavas acima, esse tempo fica em torno dos 7 segundos, mostrando que os sons mais agudos, de um modo geral, têm naturalmente um tempo de decaimento e relaxamento mais rápidos.
                  Não é só a forma da onda que vai definir que um som é produzido por um determinado instrumento, mas também a forma como o som se inicia, se mantém e termina ao longo do tempo. Esta característica é chamada de envelope sonoro ou envoltória sonora.  Este envelope é caracterizado por quatro momentos
:
                 Ataque: É o início de cada nota musical. Dependendo do instrumento, o ataque pode durar alguns centésimos de segundo ou até pode chegar a durar um pouco mais de 1 segundo, sendo este o item mais crítico na reprodução, algo que caracteriza a micro dinâmica.
                Decaimento: Em alguns instrumentos, após o ataque, o som sofre um decaimento de intensidade, antes de se estabilizar. Em um instrumento de sopro, por exemplo, isso pode se dever à força inicial necessária para colocar a palheta em vibração e aí, normalmente, o decaimento dura alguns centésimos de segundo.
                 Sustentação: Corresponde ao tempo de duração da nota musical. Na maior parte dos instrumentos este tempo pode ser controlado pelo executante, como o exemplo que citei do piano quando utilizado ou não com os pedais. Durante este tempo de sustentação, a intensidade é mantida no mesmo nível. Existem instrumentos em que o som nem chega a se sustentar e o decaimento inicial já leva o som ao seu desaparecimento, como é o caso da tabla, instrumento de percussão indiano.
              Relaxamento: É o final da nota, quando a intensidade sonora diminui até desaparecer completamente. Pode ser bastante brusco, como acontece em um instrumento de sopro, quando o instrumentista corta o fluxo de ar, ou muito lento, como em um gongo, ou em um piano com o pedal acionado.

                  Vamos considerar, agora, o que acontece com a música, quando reproduzida por equipamentos eletrônicos. Inicialmente, para a gravação, o sinal de áudio vindo, por exemplo, de um violão, é captado por um microfone de altíssima velocidade, passa por circuitos eletrônicos também de alta velocidade e chega até a prensagem de um cd com poucas perdas, quando esta é realizada com todos os critérios técnicos necessários. Mas, na reprodução, este sinal de áudio sofre algumas perdas na leitura digital do cd. Ele tem que passar por toda a eletrônica, onde normalmente há baixas perdas, pelos cabos, que também poderão alterar o sinal, e finalmente chegar às caixas acústicas. Podemos considerar que o calcanhar de Aquiles de qualquer sistema de áudio, por mais sofisticado que seja, são as caixas acústicas, pela grande dificuldade que elas têm para acompanhar todos estes itens que formam o envelope sonoro. Isto é um dos diferenciais mais marcantes entre uma audição ao vivo em comparação a uma audição reproduzida por equipamentos eletrônicos.              

          Boas audições !!!           

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