Número 20
Equipamentos e Cabos
Flávio
Adami
Um Bando de Gênios
Loucos
Dentro dessa minha longa estrada pelo mundo do áudio, há mais de 45 anos, e
considerando que tenho um fascínio todo especial por caixas acústicas, coisa que
venho cultivando desde os tempos da Quasar, onde fazíamos as experiências
mais malucas, confesso que já vi coisas de arrepiar os cabelos, com relação a
projetos, alguns bastante sérios e outros malucos.
No final da década de 50, até meados da década de sessenta, reinavam os projetos
de caixas enormes, liderados pelas famosas JBL, Altec e
Wharfedale. Tive a oportunidade de escutar, quando ainda era moleque, um par
de caixas Wharfedale, cujo projeto era de canto de parede, construídas em
concreto e cujos médios e tweeters, ambos de cone, ficavam voltados para
cima, criando uma ambiência espetacular e, completando, um par de woofers
de 15”, com poderosos magnéticos de alnico. Me recordo que era um som que enchia
a sala de 40 m², do amigo Sérgio, amortecida por grossos carpetes e cortinas e um
teto de caixas de ovos, obviamente sem os ovos. A Wharfedale também
desenvolveu caixas com duas placas de compensado, preenchidas com areia, que
tinham um resultado sonoro espetacular, porém necessitavam de um guindaste para
carregá-las. Tive também a oportunidade de ter um primeiro contato com as
Quad eletrostáticas, na loja Raul Duarte, e a naturalidade daqueles
médios me chamou a atenção. Entretanto careciam de eficiência, tinham uma
resposta de graves limitada e, de vez em quando, soltavam algumas faíscas. Os
modelos atuais, muito mais evoluídos, possuem uma legião de apreciadores que
jamais abrem mão desse conceito, principalmente os fanáticos por música
clássica.
Eu creio que o grupo dos maiores doidos, sem dúvida, vieram de Cambridge, liderados por Edgard Vilchur, Henry Kloss e Amar Bose, um
visionário professor de física do MIT, que projetou as famosas Bose
901, com 9 altofalantes de 4”, sendo 8 virados para as costas e apenas 1
frontal. Foi um projeto de relativo sucesso, mas tinham problemas de
posicionamento e extensão de agudos, apesar de trabalharem com um tipo de
equalizador que fazia o ajuste dos extremos de freqüências. O grande sucesso
foi, sem dúvida, o sistema acoustimass, micro-caixas que, junto a um
subwoofer, fizeram e fazem até hoje um grande sucesso para sistemas de
home theater, porém odiado pelos audiófilos pelo enorme buraco que criam na
região dos médios graves.
Na minha opinião, os grandes responsáveis por uma revolução na acústica foram,
sem dúvida, Edgard Vilchur e Henry Kloss, lançando as caixas
Acoustic Research, KLH, Advent, entre outras, culminando com a
Cambridge que atualmente faz muito sucesso no mercado de áudio e vídeo.
Dentre outros projetos, Edgard Vilchur criou o sistema de suspensão
acústica, os médios e tweeters de domo que, no primeiro modelo das AR 3,
utilizavam domos de fenolite de cor amarelada, por isso eram chamados de ovos
fritos na época. Também criou o primeiro toca-discos com suspensão, utilizando
braço e sistema motor independente do gabinete. No seu lançamento, numa feira em Las Vegas, a demonstração era feita com uma pessoa dando marteladas de forma
suave, com martelo de borracha, para mostrar que o disco não pulava.
Eu mesmo, nas minhas elucubrações acústicas, criei as caixas Loudy,
montadas numa caixa de metal, com paredes de borracha, que, na época, fizeram
sucesso, porém sucumbiram pelo excesso de peso e pela construção extremamente
complicada. Teve até um tal de Jimmy Hughes, um bruxo do som Hi-Fi,
na Inglaterra, que colocou as caixas voltadas para a parede, ou seja, com os
falantes de costas, achando aquilo o máximo, inclusive defendendo a sua teoria
numa edição da HI-FI CHOICE.
Já vi de tudo, caixas convencionais, eletrostáticas, isodinâmicas, caixas de
isopor, caixas de borracha, madeira, metal, bipolar, dipolar, caixas sem as
caixas, com os falantes expostos na parte traseira, formatos mais inusitados,
tentando evitar as reflexões internas e, atualmente, sistemas acústicos com
correção digital. Mas, na minha opinião, da mesma maneira que ainda não
inventaram nada melhor que o velho limpador de para brisa nos automóveis, ainda
não inventaram nada melhor que as velhas caixas convencionais, no velho formato
tradicional.
Boas audições!
http://www.byknirsch.com.br/produtos-cabos-connect-indice.shtml
http://www.byknirsch.com.br/produtos-antiresson-bandstand.shtml
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