CABOS DE
ÁUDIO/VÍDEO
Áudio
Carlos Alberto Santos Camardella
Introdução
Pelo que pudemos verificar
em alguns dos excelentes artigos do amigo Jorge Knirsch: “Cabos:
Uma Complexidade Eletromagnética”.achamos
que esse assunto merecia que desenvolvêssemos
essa nova série de artigos, dividida em 7 partes (capítulos), tomando
este conceito como foco de convergência e análise. Esta série se
originou de uma compilação de diversas mensagens nossas enviadas a
alguns grupos e fóruns de discussão de áudio. Aqui, elas foram
reagrupadas, complementadas e concatenadas num encadeamento o mais
natural possível.
Nossa intenção foi tornar o texto o mais
simples e agradável possível, mas devido à complexidade dos temas,
muitas vezes fomos obrigados a recorrer a fórmulas não muito básicas. No
entanto, procuramos poupar o leitor das partes mais enfadonhas. O
resultado prático que queremos atingir é o de capacitar o leitor a
entender o que realmente acontece e, inclusive, capacitá-lo a prever, em
nível “macro”, o desempenho dos cabos. Com isto, ele poderá, pelo menos,
poupar seu tempo na hora de escolher entre vários cabos no nível
“micro”, uma vez que conseguirá prever, com razoável certeza, quais
realmente não lhe levarão aos resultados desejados. Assim, a quantidade
de testes a serem feitos se reduzirá a apenas os modelos que realmente
terão condições de lhe fornecer o desempenho desejado.
Ao longo desses capítulos, iremos tratar
de praticamente todos os aspectos que causam efeitos eletromagnéticos
nos condutores e cabos, com deduções de fórmulas, figuras
auto-explicativas e diversos exemplos reais. Dessa forma, acreditamos
que se possa desmistificar um pouco esse “mundo encantado dos cabos
audiófilos”. Também estamos preparando outros artigos que tratam da
estrutura dos materiais que compõem os cabos e conectores, de forma a
dar continuidade a essa série atual.
© 2004-2010 Jorge Bruno Fritz Knirsch
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PRIMEIRA PARTE: OS
METAIS
Carlos Alberto Santos
Camardella
INTRODUÇÃO
Neste primeiro capítulo, nossa intenção
é demonstrar as possíveis diferenças que se pode conseguir na sonoridade
dos cabos de áudio, ao se usar apenas metais diferentes nos condutores.
Isto, sem levarmos em consideração os outros fatores importantes como
conectores, dielétricos, geometrias, etc. Constatamos que essa é uma
área muito “nebulosa” para o grande público e alguns fabricantes
aparentam se utilizar deste desconhecimento dos consumidores para
divulgar teorias que não parecem condizer com a realidade. Chegaremos a
conclusões muito interessantes...
O QUE ENTENDEMOS POR “CABOS IDEAIS”
O que, na verdade, deveria ser um cabo de
interconexão para equipamentos de áudio? Analisando o caso de power
integrado x módulos, um amplificador integrado, por exemplo, soa melhor
ou pior que um conjunto de pré + power ? Penso que um cabo ideal deveria
transformar os módulos pré + power... num power integrado !!! Ou seja,
ele deveria ter o mesmo comportamento eletromagnético de uma trilha que
interligasse os estágios dos circuitos impressos dos dois ou mais
módulos, caso eles "virassem" um equipamento integrado de apenas uma
placa, com todos os circuitos desenhados e os componentes instalados
nela.
No entanto, cabos são externos e, por isso, sofrem
com o meio ambiente. Seu comportamento eletromagnético também varia com
as soldas, além de variar com as interferências externas por EMI e RFI
(que deveriam ser barradas pela blindagem) e com as influências do calor
e da umidade.
O comportamento
eletromagnético também varia com a geometria, ou seja, se o cabo é
coaxial, paralelo ou trançado (twisted). A geometria é um dos fatores
que mais afeta a impedância característica dos cabos e este item, por si
só, mereceria um capítulo à parte!
Vamos pensar em um teste muito interessante, que eu
já fiz profissionalmente, cujo "setup" é o seguinte (Fig 1. abaixo):
(a) vamos pegar um cabo e desmontá-lo, separando o
condutor positivo (+) do condutor negativo (-), retirando blindagem e
dielétrico, mantendo-os bem distantes um do outro. Ou seja, a idéia é
temos dois cabos unidirecionais que serão formados somente pelos 2
condutores, um só positivo (+) e o outro só negativo (-), sem interação
eletromagnética apreciável, pois estarão bem afastados e sem conectores;
(b) como não há proteção alguma aos condutores, este
teste deverá ser feito em uma câmara anecóica para RFI e EMI, como a do
INPE (ela é anecóica eletromagneticamente falando, apesar de também ser
razoavelmente acusticamente anecóica);
(c) vamos colocar um gerador de sinais de muito boa
qualidade numa ponta do cabo (emulando um CD-player, por exemplo), que
tipicamente tem impedância de saída de 100 ohms, e na outra ponta um
resistor "audiófilo" não-indutivo de 100 kohm (emulando o
pré-amplificador ou amplificador com alta impedância de entrada). E
vamos monitorar o desempenho com um osciloscópio digital de pelo menos
50MHz.
Ao
contrário do que dizem algumas revistas e alguns fabricantes, o único
efeito que pode resultar dos condutores dos cabos, neste teste, é a
atenuação da resposta de freqüência, com relação às freqüências mais
altas, desde que estejamos tratando apenas do condutor em si, fabricado
com boa qualidade, esticado em cima de uma mesa de madeira, sem
conectores, nem soldas e não-oxidado. Essencialmente, seria o mesmo que
se usar um metal de granulação comum e de boa qualidade, mas fabricado
por equipamentos de precisão, pois a alta granularidade e as impurezas
equivalem eletricamente à oxidação, cujo efeito prático é o de alterar a
geometria do condutor que a corrente elétrica enxerga, mudando a
velocidade de propagação da onda e introduzindo distorções. É isso que
ocorre nos condutores de cabos de muito baixa qualidade. A culpa nem é
do metal em si, mas sim do fato do condutor ter sua tubularidade
alterada geometricamente ao longo de sua extensão, por falhas no
maquinário que o fabricou, ou por oxidação. Porém, se o metal for de
muito baixa qualidade, o que não é muito comum, o próprio nível de
impurezas altera sua geometria. Infelizmente, essa última afirmativa é
usada indiscriminadamente pelos fabricantes, que alegam que o alto nível
de pureza dos condutores de seus cabos é o que melhora o som, quando o
que melhora é a geometria correta do condutor e um bom dielétrico. Se a
tubularidade for ruim, o cabo vai ser ruim, independente do nível de
pureza do metal.
Por que esse teste? Ora, estamos aí com um sistema
analógico ideal, onde não há interação entre os condutores do cabo, não
há interferências externas ou internas ao cabo (o dielétrico é o ar) e a
carga (resistor) é a ideal para estar na saída de qualquer aparelho,
pois é de alto valor e somente resistiva, de baixo ruído térmico.
Com esse teste, prova-se que não existe essa história
de cabos melhores "de graves e médios" ou cabos melhores "de agudos",
devido ao emprego de MATERIAIS diferentes NOS FIOS CONDUTORES, pois a
resposta de freqüência é SEMPRE atenuada, quase que linearmente, quando
se aumenta a freqüência. O que muda, entre os diversos tipos de
condutores, é a curva de atenuação em si, de acordo com o material (ou
liga) do condutor, e com o seu diâmetro, comprimento, etc.
No meio da curva de resposta de freqüência de um
condutor NUNCA há saltos, picos ou vales. Ela é uma reta, que depois vai
decaindo, lentamente ou não, com o aumento da freqüência. Os metais
condutores, por si só, não são capazes de introduzir distorções
não-lineares !
E, se notarmos com cuidado o gráfico de referência
desse teste (abaixo), veremos que, mesmo no pior caso (Condutor 4),
estes materiais têm resposta plana até bem mais do que 100 kHz, se o
condutor tiver a geometria adequada. Qualquer limitação na extensão da
faixa de áudio (que morre em pouco mais de 20kHz) não poderá ser
imputada ao material (ou à sua pureza, ou tipo de ligas). Igualmente, no
caso de uma liga menos pura (Condutor 2), a resistência do condutor
aumentou para todas as freqüências, uma vez que a diferença de
condutividade dos dois materiais da liga não é suficiente para ter
impacto notável na resposta de freqüência, e isso explica alguns cabos "audiófilos"
cujo som sai mais baixo que o de outros...
Abaixo, o gráfico de
referência dessa experiência:
Vejamos o outro gráfico abaixo, que analisa a queda
de potência em relação à freqüência, de acordo com a condutividade do
metal empregado. Temos abaixo os resultados que teremos ao montarmos
cabos que poderiam ser considerados “cabos para caixas”, com condutores
paralelos e rígidos (unifilares), com um design bem tradicional, AWG14,
com 3 metros de comprimento, dielétrico de Teflon, sem conectores, de
geometria rigorosamente igual, onde só os metais condutores são
diferentes. Para efeito do teste, os conectamos necessariamente a
uma carga não-indutiva de 8 ohms:
Dessa forma, fica bastante fácil reparar que, mesmo
numa configuração extremamente simplista, justamente no cabo de caixas,
que é o que mais “manhas” possui no ramo da audiofilia, a resposta de
freqüência é rigorosamente igual, ao se comparar os diversos tipos de
metal condutor, pois a queda de menos de 0,05dB na potência entregue às
caixas, na faixa entre 10kHz a 25kHz, já é impossível de ser notada
pelos ouvidos, quanto mais uma diferença de, no máximo, 0,02dB entre o
melhor metal condutor (prata) e o alumínio !!! Porém, se analisarmos o
grafite, veremos que há uma queda quase linear de 5,2 dB na potência
transmitida, se comparado à prata, mas ele tem resposta ligeiramente
mais linear entre 10kHz e 25kHz, ou seja, é 0,05dB mais linear que os
outros metais, diferença para melhor, que é também inaudível,
obviamente. Podemos, então, considerar que a queda de 5,2dB se dá
praticamente em todo o espectro audível, logo a resposta de freqüência,
para qualquer critério prático em áudio, também é igual à dos outros
metais, porém com uma enorme atenuação: perde-se quase 3/4 da potência
do amplificador só no cabo !!! É por isso que se fazem cabos híbridos
(metal/grafite), pois nesse caso a queda de potência fica um pouco menor
que 3dB (perde-se quase metade da potência no cabo).
Donde se conclui que, em se tratando apenas do
material de que o condutor é formado (cobre, latão, prata,
carbono e suas ligas), teremos cabos melhores ou piores apenas de
agudos, e praticamente só na faixa ultra-sônica, devido somente aos
limites físicos da liga (sua pureza, por exemplo). Logo, podemos afirmar
que NÃO É POR CAUSA DO MATERIAL DO CONDUTOR QUE UM CABO VAI TER MENOS
MÉDIOS OU MENOS GRAVES, pois o material só afetaria, em tese, os agudos
ultra-sônicos (que não são audíveis, e isso quando o condutor é muito
ruim) e não altera a curva de resposta anterior à parte do gráfico onde
começa a atenuação!!! Logo, por causa do metal utilizado, os cabos não
podem ter "mais médios" ou "mais graves". Como eles só atenuam, podem
ter menos agudos, ou menos médios num pior e absurdo caso... Ou o som
pode sair todo mais alto, claro, num condutor de resistência menor! No
entanto, falhas do material podem provocar distorções,
devido principalmente à alteração do modo de propagação da onda elétrica
ao longo do cabo, mas isso não causaria picos ou vales na resposta, e
sim uma resposta mais “suja”.
Aliás, os graves de todos os condutores de mesmo
material deveriam ser iguais, pois essas freqüências são tão baixas que
não sofrem influência do material, nem de problemas de tubularidade
(geometria do condutor) ou de EMI / RFI. Digo “deveriam”, porque se a
resistência do condutor for mais alta, o que depende da pureza,
composição da liga, comprimento e geometria empregada para o metal
condutor, os graves até serão mais baixos do que os de outro condutor de
menor resistência, mas os médios e os agudos também, claro, pois o cabo
estará atenuando todo o espectro, devido à sua maior resistência !
Obviamente que coisas como mau contato, soldas ruins,
etc., vão prejudicar os graves, mas estamos tratando somente dos
condutores bem fabricados e não do cabo pronto, nesta primeira parte.
É importante frisar que materiais altamente impuros (como cobre de baixa
qualidade), ou oxidados, equivalem ao resultado sônico de se ter um
mal-contato numa solda fria de conector, ou um conector oxidado, e um
efeito semelhante ocorre em condutores multifilares, quando comparados
aos condutores sólidos. Discorreremos mais sobre isso adiante
Logo, se não é o material dos condutores em si, com
certeza alguma outra coisa interfere para causar picos e vales no
espectro de resposta de um cabo. Na verdade, tal comportamento se deve
basicamente às interações eletromagnéticas, coisa muito negligenciada
por alguns fabricantes de cabos, justamente pelos que ficam orbitando
atrás de ligas estapafúrdias e explicações forçadas, acerca de efeitos
incríveis na camada eletrônica das ligas dos materiais, como o
cabo-diodo, o exagero no comprometimento pelo efeito de superfície (skin-effect)
e outras explicações baseadas em meias verdades, coisas que existem em
valores notáveis, apenas em freqüências, tensões ou correntes
estupidamente mais altas que as de um rélis cabo de interconexão de
áudio. E fazem isso, ao invés de aplicar as complicadíssimas (mas
funcionais) equações matemáticas de Maxwell e demais teoremas. O pior é
que essa última opção sairia muito mais barata, ou seja, uma correta
geometria, bom isolamento dielétrico e BONS CONECTORES operam milagres!
Sempre é bom lembrar que conectores mal projetados
não só interferem no som, por causa de mau contato, mas também distorcem
o modo de propagação da onda eletromagnética que percorre o cabo (o
sinal de áudio), e isso inclusive pode trazer efeitos quanto à
velocidade de propagação das diferentes freqüências contidas no sinal!
Exatamente por esse fenômeno é que todos os
conectores para RF são cilíndricos (RF = radiofreqüências – acima de
200kHz, indo até alguns gigahertz, onde os fenômenos eletromagnéticos
têm importância fundamental), justamente para manter a forma geométrica
do cabo coaxial na conexão e evitar distorções no modo de propagação. Ao
se alterar a geometria como, por exemplo, terminar um cabo cilíndrico
colocando-se um conector com único ponto de contato de terra ao invés de
um anel para esse fim, isto faz com que possa ocorrer uma distorção no
modo de propagação. Por isso, conectores com terminações do tipo “one
pin”, que são maciços e não em forma de anel – como os da Eichmann -
vão contra a teoria eletromagnética convencional e contra a prática
vista em circuitos de RF. Por isso mesmo vemos que cabos famosos que os
usam não são coaxiais. Portanto, seu uso em cabos triple-balanced,
quad-helix, e outros, que não são coaxiais, é altamente recomendado,
pois são uma extensão natural dos condutores e não distorcem o sinal na
ponta do cabo. Já em coaxiais, eles introduzem distorções no sinal
propagado. E estas distorções podem ser interpretadas pelo ouvinte como
melhora ou piora de qualidade, por reforços e atenuações, ou mesmo delay
em determinadas freqüências (retardo de grupo), devido às reflexões que
ocorrem pela propagação distorcida do sinal.
Sobre os cabos de prata ou ligas com alto teor de
prata, é fato que só conseguiremos usar a prata com segurança, como
metal condutor, onde passarem correntes razoáveis, pois a prata oxida
rápido, não importando o tratamento dado a ela. Isso é fatal para um
fino interconect: em poucos anos (ou meses, se o cabo não for bem
vedado), seu cabo high-end já era, se torna um cabo apenas bom,
principalmente se for um cabo com condutor multifilar, ou seja,
não-sólido. Pelo que me consta, não se consegue limpar um cabo
interconect com Silvo, como se faz com os castiçais de casa! A prata
oxida muito mais rápido que o cobre, porém, ao contrário dos cabos de
cobre oxidado, os cabos de prata oxidada ainda continuam sendo bons
condutores. Trataremos disto mais adiante.
Algumas poucas implementações de cabos de caixa e AC
funcionam muito bem com prata. Às vezes, quando há banho de prata, estes
cabos se tornam até melhores que os de cobre, pelo isolamento que a
prata faz no cobre, em relação ao mundo exterior, desde que tais cabos
estejam sempre sendo usados. Se ficarem muito tempo sem uso, começa a
oxidação. O carbono puro também é um composto limitativo, com relação à
freqüência e de alta atenuação, mas não oxida fácil (assim como o cobre
OFC, se bem isolado do ambiente).
Aliás, a título de curiosidade, a famosa "solda de
prata" tem prata apenas para facilitar o fluxo, e fluxo era coisa que
meu avô usava em separado e ficava num potinho, pois as soldas antigas
não eram autofluxo como as de hoje. Ou seja, a prata, nas soldas, serve
somente para facilitar a soldagem, evitando-se "soldas frias" (a solda
de prata gruda mais fácil, principalmente em condutores de cobre
recobertos com prata, ou de prata e seus compostos, pois ela escorre
menos – pra quem gosta de termos audiotas, isso se chama "wicking effect",
ou em bom português, efeito de escorrimento...), mas à custa de se
precisar de uma maior temperatura para a soldagem, pois quanto mais
prata a solda contiver, maior terá que ser a temperatura, o que
inviabiliza seu uso em diversos componentes eletrônicos sensíveis ao
calor. A diferença de condutividade entre uma solda sem prata, uma com
2% de prata e outra com 20% de prata é totalmente desprezível, logo não
afeta o som "per se". Afeta, se for bem feita, como qualquer outra
solda.
É senso comum que o uso de
cobre OFC domina o mundo do áudio hi-fi, e é acompanhado pela prata e
pelo ouro. No entanto, muito se tem falado sobre as diferenças de
sonoridade entre cabos e conectores feitos desses diversos metais, e
seria interessante nos estendermos um pouco mais sobre esse fascinante
assunto.
Em primeiro lugar, todo
metal oxida, inclusive esses três mais famosos. Somente o nível de
oxidação e a natureza dessa oxidação é que variam bastante.
COBRE
A oxidação do cobre leva a
efeitos isolantes ou semicondutivos, ou seja, um conector de cobre
oxidado ou uma parte oxidada de um cabo de cobre se tornam péssimos
condutores para os sinais elétricos, podendo atuar até como um diodo
(nos dois sentidos da corrente, antes que se pense no famoso cabo-diodo)
ou isolante mesmo, sem condução. O uso de cobre OFC/OFHC (cobre sem
óxidos, com baixíssimo nível de oxigênio) reduz tremendamente a oxidação
natural desse metal, desde que, obviamente, ele permaneça isolado do ar.
Em contato com o ar, onde se encontram partículas de água (H2O)
e gás carbônico (CO2), o cobre geralmente oxida sua
superfície através da formação de um carbonato de fórmula CuCO3·Cu(OH)2
e cor esverdeada. Os cobres OFC/OFHC, apesar de serem muito mais puros
que as ligas tradicionais, ainda possuem em sua liga uma quantidade
muito pequena de enxofre (0,0015% no OFHC e 0,0020% no OFC). Por causa
da presença do enxofre, na forma de sulfeto cuproso (Cu2S),
mesmo com todos os cuidados, ainda aparecem, em contato com o ar, óxidos
como o CuO e Cu2O. Ou seja, por mais que se tome cuidado na
confecção do cabo, por não haver isolamento total do ar e devido à
presença de enxofre, o cabo de cobre vai oxidar com o tempo. Para se ter
uma idéia de seus efeitos, o óxido cuproso Cu2O chegou a ser
usado em um tipo de retificador, no início dos tempos da eletrônica,
fazendo às vezes dos diodos modernos, através da oxidação da superfície
de uma placa de cobre, gerando uma película de Cu2O que
atuava como uma junção P, e a placa como uma junção N, formando uma
junção P-N, como a de um diodo moderno, só que com tensão de ruptura de
quase 10V (o mais comum eram 6V), ao invés dos 0,3V dos diodos de
germânio e os 0,7V dos diodos de silício, e com temperatura de operação
mais baixa também.
PRATA
A prata é por um mínimo
valor mais condutiva que o cobre, pois sua resistividade é da ordem de
1,59 x 10-8 Ω m e a do cobre é ligeiramente maior, 1,67 x 10-8
Ω m. Num primeiro momento, a oxidação da prata leva a efeitos menos
danosos que a oxidação do cobre, pois o óxido que se forma em sua
superfície é ainda bom condutor (embora pior que o ouro e que o cobre em
bom estado). Mas, apesar de ser mais resistente à corrosão que o cobre e
menos que o ouro, a prata oxida muito mais rápido que ambos. A prata não
forma carbonatos, mas na presença de enxofre (que existe em boa
quantidade no ar das grandes cidades ou em locais onde chove muito) sua
superfície forma o sulforeto Ag2S pela reação 2 Ag + H2S
= Ag2S + H2, ou seja, como Ag2S (Argentite)
que é a forma básica que se encontra a prata na natureza, o cabo de
prata tende a voltar à sua forma original no planeta... Outro problema
sério dos cabos de prata ou com cobertura de prata é o níquel e o
alumínio presentes em quase todos os conectores, mesmo em alguns que se
dizem "puros". O Ag2S forma um catodo e o níquel/alumínio
forma um anodo de uma pilha virtual, na solda do conector com o
condutor, principalmente na presença de umidade, aparecendo um offset DC
que pode alterar bastante a sonoridade do equipamento, pois aparece uma
corrente catódica na junção condutor-conector. A isso chamamos
“incompatibilidade galvânica”.
Uma outra propriedade da
prata é sua sensibilidade à luz infravermelha, por presença de óxidos
AgO na sua superfície, mesmo estando protegida pelo isolante dielétrico
dos cabos, e por isso se deve tomar muito cuidado para não expor esses
cabos ao sol ou iluminação que contenha esse espectro luminoso.
Quanto à compatibilidade
galvânica, todo metal possui uma característica de anodicidade ou
catodicidade, definida pelo que chamamos de potencial de eletrodo. Os
metais nobres, como cobre, prata e ouro são catódicos, já os metais mais
comuns, como o alumínio, o aço, o níquel e o cromo são anódicos. A
diferença de potencial que aparece na fronteira entre metais
galvânicamente diferentes leva a um fluxo de elétrons que forma o que
chamamos de corrente catódica. Geralmente, em presença da umidade, esse
processo se acelera.
Apenas como referência, vejamos a tabelinha
abaixo:
Metal |
|
Tipo |
|
Potencial de Eletrodo |
Ouro |
...... |
Catódico |
...... |
+1,680 |
Prata |
...... |
Catódico |
...... |
+0,800 |
Cobre |
...... |
Catódico |
...... |
+0,345 |
Níquel |
...... |
Anódico |
...... |
-0,250 |
Ferro |
...... |
Anódico |
...... |
-0,440 |
Cromo |
...... |
Anódico |
...... |
-0,710 |
Zinco |
...... |
Anódico |
...... |
-0,762 |
Alumínio |
...... |
Anódico |
...... |
-1,670 |
Quanto
maior a diferença de potencial galvânico, obviamente maior será essa
corrente, a qual poderá causar problemas mesmo em equipamentos sem
acoplamento DC (por exemplo, aqueles com um capacitor de 2,2uF, ou
próximo disso, nas entradas de linha, ou seja, quase todos). No elo
entre amplificadores e caixas, o mal maior é a corrosão que sofre o
metal menos catódico. Isso porque as correntes que circulam já são por
si só bem altas, para que haja alguma apreciável interferência sonora
pela corrente catódica. Não são os mA dos cabos de interconexão...
Um exemplo do cotidiano é o aço
galvanizado, que nada mais é que aço recoberto com uma película de
zinco. Como o zinco é menos catódico, a corrente catódica protege o aço
e quem se corrói é o zinco, na presença de água ou alta umidade. Um dos
motivos de se pintar ferro com zarcão (que é feito de cromato de zinco)
é que ele atua da mesma forma que o caso do aço galvanizado. Por outro
lado, nunca se deve pintar quaisquer desses metais com tinta à base de
cobre, pois o efeito será justamente o contrário: como o cobre é
catódico, quem vai se corroer será o metal menos nobre, que é mais
anódico. Pela tabelinha acima, podemos notar facilmente que o único
material correto para um conector é o mesmo material do condutor.
Imagine, pela tabela acima, que beleza não seria a associação de um cabo
de prata pura com esses conectores niquelados de baixa qualidade, ou
pior, de cromo ruim mesmo. Em geral, o que os fabricantes chamam
de conector de prata pura é, na verdade, um conector de cromo
industrial, cujo potencial de eletrodo é muito próximo ao da prata, por
haver realmente prata em sua liga. Ele não tem o potencial do cromo
puro, outro material errado que se usa em conectores de baixa qualidade
junto com o níquel. E, nos melhores conectores para cabos de cobre, se
usa cobre puro como base, com um banho de cromo, ouro ou um composto
deles como proteção, em uma camada bem tênue, só para proteger o metal
base, ao evitar a oxidação e arranhões na estampagem do cobre.
Conclusão
Verificamos que o melhor material
para o conector é o do condutor mesmo, o problema é a oxidação
inevitável e a sua excessiva maleabilidade.
Então, no caso dos cabos de cobre
para caixas, para os conectores/terminais pode-se até usar o cobre nu
mesmo, mas tem-se que dar um polimento leve de vez em quando. Geralmente
essa configuração fica melhor que com conectores soldados, no caso de
conectores esculpidos na ponta do cabo. Já o uso do fio nu dependerá
muito do receptáculo nos bornes do amplificador e caixas, e se for um
cabo multicondutor (ou multifilar) isso
geralmente não fica nada bom. Já cabos de caixas com conectores em prata
pura sofreriam com a excessiva moleza do metal, e se estragariam
facilmente, porém sua oxidação não causaria tantos transtornos como com
o conector de cobre, uma vez que já sabemos que o óxido formado é ainda
bom condutor (mas pior que o metal não-oxidado, claro).
Outra constatação é que as diferenças sônicas entre os
cabos, quando novos, praticamente nada têm a ver com o tipo de metal
utilizado, a não ser em casos muito extremos. No que tange aos metais,
essas diferenças são em muito estimuladas pelas compatibilidades ou
incompatibilidades entre os metais dos condutores, dos conectores e os
compostos das soldas.
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