Transformador, um Mal Necessário
Elétrica
Introdução
É
muito grande o volume do que se tem escrito a respeito de
transformadores, em muitas revistas especializadas e principalmente em
grupos de discussão de áudio/vídeo pela Internet. Porém há muita
confusão nestas discussões, pois muitas vezes vários aspectos técnicos
não são levados em conta. Neste artigo, vamos esmiuçar, com maior
detalhamento técnico, as diferenças entre os transformadores existentes
e verificar quais são os mais adequados para os nossos sistemas de áudio
e vídeo.
Este artigo trata das mazelas que o
transformador causa em sistemas de áudio e vídeo quando não corretamente
projetado e construído.
© 2004-2014 Jorge Bruno Fritz Knirsch
Todos os direitos reservados
http://www.byknirsch.com.br
O
Transformador
Como vimos em várias situações e comentários
anteriores, para adequarmos a tensão da rede a um aparelho qualquer que
queremos utilizar, muitas vezes se torna necessário o uso de um
transformador. Mas para podermos fazer a escolha correta do tipo de
transformador que deveremos empregar em cada tipo de aplicação,
precisaremos nos aprofundar um pouco mais no conceito do que vem a ser
um transformador. De fato, o transformador sempre será visto como um mal
necessário, porém a nossa pergunta é: dentre todos os existentes, qual o
que nos trará menor prejuízo sonoro?
Existem quatro aspectos básicos que
deveremos considerar em um transformador, a saber:
- tensão de entrada e tensão de saída,
- tipo de enrolamento,
- potência e
- forma do núcleo do transformador.
Quanto à tensão de entrada e
à tensão de saída, o transformador pode ser:
- abaixador de tensão ou
- elevador de tensão.
O transformador será
abaixador de tensão quando a tensão de entrada for maior que a tensão de
saída, e será elevador de tensão quando a situação for inversa. Voltando
a recordar: o importante aqui é que a tensão de entrada seja utilizada
sempre entre a fase e o neutro.
Quanto ao tipo de
enrolamento, vamos analisar aqui apenas os transformadores monofásicos,
porque são os únicos adequados para o áudio e vídeo. Estes
transformadores nada mais são do que circuitos eletromagnéticos
constituídos de um núcleo de chapas especiais de aço-silício com grãos
orientados e mais um ou dois enrolamentos. Quando o transformador tiver
dois enrolamentos, vai receber o nome de transformador isolador. Veja a
Fig. 1, que lhe dará uma idéia de como ele é:
Fig 1. Esquema de um
Transformador Isolador.
Este transformador se chama
isolador porque separa galvanicamente a tensão de entrada da tensão de
saída, através de
dois enrolamentos
totalmente separados, colocados em volta de um núcleo magnético que
realiza a transferência de energia. O enrolamento da tensão de entrada é
chamado de primário e o da tensão de saída, secundário.
O transformador que só
apresenta um enrolamento é chamado de autotransformador e você poderá
ver o seu esquema na Fig 2:
Fig 2. Esquema de um
Autotransformador.
Os dois transformadores mostrados nos esquemas são
abaixadores. Os dois traços paralelos, em ambos os esquemas, representam
o núcleo magnético de cada transformador.
Veja que, no autotransformador, só existe o
enrolamento da tensão maior (de entrada ou de saída), e a tensão menor é
obtida através de uma derivação do mesmo enrolamento. É relevante notar
que no autotransformador a entrada e a saída possuem um terminal em
comum.
Transformador, um
mal necessário. Por quê?
Este assunto é atualmente bastante controvertido,
inclusive entre muitos dos engenheiros que lidam diretamente com o áudio
e o vídeo. As opiniões são divergentes, alguns considerando o
autotransformador como a melhor opção e outros acreditando ser mais
adequado o transformador isolador, que é mais comum no mercado. Porém
são opiniões do diz que diz, e muitos os seguem, sem verificar e
comprovar realmente os aspectos mais técnicos e importantes nesta
avaliação para os nossos sistemas de áudio/vídeo.
Temos afirmado que o transformador é um mal
necessário por ser um elemento colocado em série com a linha de energia.
Sabemos que todos os componentes em série alteram a impedância da linha,
gerando sujeira, ou seja, geram harmônicos que sujam a rede e aumentam a
distorção da energia elétrica. A sujeira é o que degrada a energia
elétrica recebida pelos nossos equipamentos de áudio/vídeo e é isto que
deteriora a qualidade da reprodução sonora e da imagem, reduzindo o
palco sonoro e a tridimensionalidade da imagem. Esta redução no palco
sonoro, por exemplo, se torna totalmente perceptível, pois à medida que
a sujeira existente na energia elétrica aumenta, o evento musical vai se
deslocando para as caixas acústicas, não permanecendo entre elas e atrás
delas, como se dá quando a rede elétrica está limpa. O nome técnico
correto desta sujeira é “distorção harmônica” ou “THD”
(abreviação de Total Harmonic Distortion). O THD é dado em
porcentagem em relação à senoide fundamental da rede elétrica. Bem, da
mesma forma que o THD% de um aparelho de áudio/vídeo pode ser medido, e
este valor é muito importante, assim também o THD% de um transformador
poderá ser medido. E, nos transformadores, este valor é fundamental! Não
conheço nenhum fabricante que diga quais as distorções harmônicas dos
seus transformadores pois, via de regra, são elevadas. O THD%, que varia
com a potência consumida, deveria ser sempre indicado e medido na
potência nominal máxima do transformador. Porém, a verdade é que a
maioria dos fabricantes de transformadores nem sabem o que vem a ser
isto!!! E depois ... qual o aparelho que faz esta medição? Em regra
geral, de forma muito abrangente, quanto mais leve é o transformador,
mais alto costuma ser o seu THD%. Precisamos tomar muito cuidado com a
indicação do valor da medição, averiguando se é realmente honesta,
isenta de acomodações pois, se não for assim, a indicação estará ali
simplesmente para reduzir falsamente o valor real e influir
positivamente o cliente, já que a maioria dos clientes nem tem condições
de verificar e aferir os valores indicados. Como vocês sabem, o papel
aceita tudo!
O THD% em transformadores depende de vários
parâmetros, tanto de materiais quanto construtivos.
Só para vocês terem uma idéia, vou dar um exemplo
bastante prático, contando-lhes uma pequena história. Imaginem um
aparelho de áudio, um receiver importado por exemplo, que possui
um transformador isolador bem grande na sua entrada, que irá alimentá-lo
com a potência requerida para todos os amplificadores de potência que
ele tem. Se abrirmos a tampa, vamos verificar que tudo lá dentro está
bem compactado, de forma que não há espaços vazios no seu interior.
Suponhamos agora que, num belo dia, o trafo deste aparelho, que ficou
ligado a uma rede 127V (muito comum entre nós), venha a se queimar. Por
uma infelicidade, o transformador do receiver importado não
suportou as mazelas da nossa rede elétrica, que vira e mexe apresenta
altos níveis de distorção harmônica e grandes variações de energia,
muitas vezes além da tolerância informada pela concessionária. E
queimou! E agora José... o que fazer? O José vai achar que isto é muito
fácil de ser resolvido: é só mandar enrolar um novo trafo, para
substituir o que está queimado e pronto! Muitos se prestam a este
serviço, Brasil a fora. E lá vai o aparelho para o conserto. O técnico,
analisando o aparelho, aí vai constatar que o núcleo do trafo também foi
danificado e precisa ser trocado por chapa nacional. Mas agora é o
técnico quem está com um belo problema, pois não pode aumentar o tamanho
do trafo, já que no aparelho não há espaço para se colocar um trafo
maior. Mas aumentar o tamanho do transformador, diriam vocês? Vocês não
queiram saber a situação embaraçosa deste técnico para resolver este
imbróglio!! Bem, ele simplesmente “faz o melhor que pode”, constrói o
novo trafo, monta-o no aparelho e o entrega para o José. O José, por sua
vez, vai para casa, feliz da vida, com o seu aparelho supostamente
consertado, parecendo novinho em folha!! Começa a ouvir suas músicas
preferidas e, já de bate-pronto, nota uma diferença gritante: o som
perdeu a nitidez e piorou muito, inclusive o palco sonoro diminuiu
bastante!! Como é que pode ser isto? Ele não está entendendo. Fica
atônito, mas continua ouvindo a sua música, pois ainda não sabe bem o
que fazer. Já está até se familiarizando ao novo som, quando sente um
cheiro de queimado no recinto... vai verificar e nota que é o
receiver que está esquentando muito, não dá nem para por a mão! Ao
tentar desligar seu sistema, o receiver queima novamente antes
dele conseguir desligá-lo. Queimado o receiver, ele verifica que
é o transformador isolador recém consertado que está tão quente como se
estivesse pegando fogo. O José volta para o técnico, que não consegue
resolver o problema a contento, e finalmente toma a decisão acertada:
importa do fabricante do receiver um novo transformador.
Mas vocês dirão: Como pode ser isto? Transformadores
pertencentes a aparelhos importados não podem ser substituídos por
nacionais? A minha resposta é: em princípio não. Em alguns casos
somente, se houver lugar para colocar um transformador bem maior. Ou
então fazer uma adaptação externa. Por que?
Em primeiro lugar, a chapa de aço silício de grão
orientado produzida no Brasil não tem a qualidade da chapa importada e
por isto as perdas são maiores. A indução magnética que podemos criar
com a chapa nacional é bem menor do que a alcançada com a chapa
importada, de forma que, para criar o mesmo fluxo de linhas magnéticas
no transformador, precisamos usar maior número de chapas do que as
usadas em um transformador importado. Com isto, o nosso transformador
fica maior e esta é uma das razões pelas quais o técnico do José não
conseguiu resolver o problema, pois não havia espaço no receiver
para um transformador maior.
Em segundo lugar, a qualidade do nosso fio de cobre,
de modo geral, é muito ruim, pois o nosso cobre tem alto grau de
impurezas, de forma que a resistividade do nosso fio é maior do que a
encontrada nos fios importados. Caso o técnico do José pudesse ter usado
o mesmo núcleo magnético do transformador do receiver importado,
este transformador provavelmente iría ter também uma vida útil curta,
pois estaria trabalhando sobre-aquecido e depois de algum tempo acabaria
queimando também. Existem muitos fabricantes que, para reduzir os
custos, usam até fios de alumínio, o que somente piora a situação.
A solução paliativa levou a aumentar o THD% do transformador do
receiver do José, de forma que já na primeira audição ele percebeu
algo errado no som. Agora pergunto: quantos já não passaram por esta
situação?
Muitos fabricantes de transformadores, conscientes
destes problemas, evitam fazer substituições ou consertos em aparelhos
importados.
Se tivéssemos uma lei que obrigasse o fabricante de
transformadores a indicar o THD% em consumo máximo, estes problemas já
teriam vindo à tona e, conseqüentemente, melhorado a qualidade da nossa
produção de transformadores que não atende ao padrão internacional!
Vários são os fatores que definem a qualidade de um
transformador, possibilitando obter um THD% o mais baixo possível.
Entre eles, a qualidade da chapa de aço silício de grão orientado, suas
características magnéticas, suas perdas, sua espessura e sua isolação
influem na qualidade de um bom transformador. Em seguida vem a qualidade
do fio sólido esmaltado utilizado no(s) enrolamento(s) de cobre ou, mais
recentemente, de alumínio. Seu grau de pureza, seu diâmetro (A/mm2) e
sua isolação também são importantes. Em alguns transformadores de saída,
usam-se também fios sólidos com seção quadrada para a redução do THD%,
principalmente em amplificadores de potência valvulados. Por outro lado,
em transformadores adaptadores de tensão de rede elétrica, de 230V para
120V ou vice-versa preponderantemente se tem usado fios de alumínio que
reduzem a qualidade, aumentando o THD%.
O carretel, onde é enrolado o enrolamento
primário/secundário, é outro item que também tem influência na
qualidade, pois em conjunto com outros parâmetros, define o chamado
acoplamento magnético entre primário e secundário, que é um item
fundamental na qualidade de um transformador e tem grande participação
no seu THD%. Entre estes outros parâmetros está o próprio projeto do
transformador, onde existem vários aspectos a serem considerados, como o
cálculo térmico e menciono também o entreferro, que evita a saturação do
núcleo.
Qual o Melhor
Transformador para Adaptar a Tensão da Rede Elétrica?
Para os transformadores adaptadores de tensão da rede
elétrica são usados normalmente dois tipos: o transformador isolador e o
autotransformador. As partes construtivas destes dois tipos de
transformadores já foram apresentadas acima. Se considerarmos dois
transformadores, um deles isolador e o outro autotransformador,
projetados e construídos com os mesmos cuidados técnicos necessários,
com boa chapa magnética de grão orientado, de baixas perdas e de alta
indução, com fio de cobre de boa qualidade e não de alumínio, que hoje é
largamente usado no nosso mercado nacional, com o menor entreferro
possível, com construção aprimorada e, finalmente, com um bom projeto
térmico, dentro da norma brasileira, qual dos dois deveremos escolher?
Se analisarmos todos os aspectos importantes para os nossos sistemas de
áudio/vídeo, veremos que o autotransformador tem várias vantagens em
relação ao isolador.
A primeira delas, e talvez a mais importante para os
nossos sistemas de áudio/vídeo, quando pretendemos chegar ao topo do
pinheiro, é que o THD% do autotransformador é muito menor do que o do
transformador isolador. O fato de o autotransformador ter apenas um
enrolamento, onde estão o primário e o secundário juntos, faz com que,
entre outros aspectos, o acoplamento magnético seja muito superior, de
forma que a distorção harmônica cai muito, além da regulação ser
superior, oferecendo aos nossos sistemas melhor dinâmica.
Os dois enrolamentos separados, no transformador
isolador (como se diz no jargão popular “trafo com separação
galvânica”), fazem com que o acoplamento magnético seja inferior ao do
autotransformador e não só isto, o acoplamento magnético muito
dependente da parte construtiva do carretel e dos enrolamentos dos fios.
Portanto, esta tão propalada separação galvânica entre primário e
secundário não traz nenhuma vantagem e também não é relevante na
aplicação do áudio/vídeo, sendo um ponto negativo deste transformador,
pois isto na verdade aumenta o seu THD%, além do que cria outros
problemas, como as capacitâncias parasitas entre primário e secundário,
que não existem nos autotransformadores.
Todas estas diferenças fazem com que o
autotransformador tenha a menor distorção harmônica (THD%) possível,
permitindo o melhor resultado sonoro, muito mais neutro do que o
isolador. E este, por possuir um THD% maior, tem uma tendência a
valvular o som, algo que não deixa de ser uma coloração, o que não é
correto.
O segundo aspecto a ser considerado é que toda a rede
elétrica residencial, em todo mundo, por normas nacionais e
internacionais, deve possuir um neutro!!! Mas, por incrível que pareça,
existem regiões no Brasil onde isto ainda não acontece, como por exemplo
na cidade de Santos e em outras cidades do interior de São Paulo, onde a
tensão oferecida pela concessionária da rede elétrica é apenas em 230V
fase-fase. Existem outras regiões, como ocorre no Nordeste, onde além
das duas fases em 230V ou 380V disponíveis, o neutro também é oferecido
e, juntamente com a fase, resulta em 120V ou 230V respectivamente. São
estas tensões com neutro que devem ser sempre usadas.
Esta norma, muito importante, que toda tomada
residencial precisa ter o neutro, foi estabelecida por motivo de
segurança. Como o neutro deve ser aterrado pela concessionária e pelo
consumidor final, torna a tensão referenciada e também mais segura.
Aqui, o autotransformador é ideal para transformar a tensão de 230V
fase-neutro para 120V fase-neutro, pois mantém o neutro na entrada/saída
comum da nova tomada com a nova tensão. O único incômodo, no Brasil, é
que é preciso fasear a tomada na parede e muitos eletricistas entre nós
não conhecem ainda a posição correta do neutro na tomada. Nos EUA este
problema é inexistente pois o pino do neutro no plugue a ser colocado na
tomada é mais grosso e mais largo, não permitindo inversão. A nova norma
brasileira, que modificará o nosso plugue e tomada e entrará em vigor,
se não falha a memória em 2007, com uma geometria exclusiva e estabanada
também, não permitirá a inversão como ocorre hoje.
© 2004-2014 Jorge Bruno Fritz Knirsch
Todos os direitos reservados
http://www.byknirsch.com.br
A aplicação do transformador isolador, então, como
adaptador de tensão é incorreta, pois cria a tensão no secundário com os
dois fios vivos não referenciados, devido justamente à separação
galvânica entre primário e secundário. Se formos rigorosos e corretos,
como manda o figurino, caso quisermos usar o transformador isolador
assim mesmo, teremos que aterrar o secundário novamente, por motivos de
segurança. Portanto, o uso do transformador isolador, em tomada
fase-neutro, não é correto e nem recomendável, pois na verdade é um
contra-senso o seu uso, se não houver um novo aterramento do secundário,
além do problema do aumento do THD%, que introduzirá uma coloração no
sistema, como já vimos.
O terceiro aspecto relevante, que no entanto não tem
nada a ver com aspectos técnicos, é que, comparando-se os dois tipos de
transformadores, o autotransformador e o transformador isolador,
manufaturados e projetados conforme o estado da arte técnica atual, o
autotransformador apresentará evidentemente um custo menor, devido ao
menor valor agregado, pois é constituído, entre outros aspectos, apenas
por um enrolamento.
Comenta-se também da blindagem eletrostática, que é
possível ser feita no transformador isolador, entre primário e
secundário. Esta blindagem tem a finalidade de evitar a entrada de
ruídos eletromagnéticos provenientes pelo ar, mas deve ser aterrada para
ter o efeito desejado. Infelizmente ela não é uma proteção e nem reduz a
distorção harmônica do transformador, ou seja ela não reduz o THD%, como
muitos gostariam de crer.
Comenta-se também que o transformador isolador
elimina ruídos de modo comum da rede elétrica, mas isto não é
característica somente do isolador e sim de qualquer transformador,
inclusive do autotransformador.
Outro comentário existente na mídia é que
transformadores oferecem uma proteção ao sistema ao qual estão ligados.
Infelizmente, nenhum tipo de transformador, seja ele isolador ou
autotransformador, ambos em núcleos E/I, ou toroidais, ou em núcleos C,
oferecem uma proteção digna de nota. Se porventura ocorrer um raio ou um
transiente na linha de energia, entrará no primário do transformador e
passará para o secundário. Transformadores não são elementos de
proteção, seja ele qual for.
Embora o transformador isolador seja o mais
comercializado com fios de alumínio (em torno de 90% do mercado), para a
aplicação da adaptação de tensão de rede elétrica em áudio/vídeo, e
portanto o mais utilizado, não é o mais adequado para nós, pois é o que
gera maior quantidade de harmônicos e, em conseqüência, maior coloração
no médio baixo. A agradável impressão inicial logo dá lugar a um
desconforto auditivo, com a percepção de que a música está sendo
reproduzida com um corpo harmônico maior do que o que realmente deveria
haver. O autotransformador tem característica semelhante, porém já em
menor nível, bem mais baixo, e conforme o sistema de áudio/vídeo poderá
não ser perceptível. Na verdade, ambos são ruins, mas o que traz menor
influência negativa é sem dúvida alguma o autotransformador para a nossa
aplicação. Portanto, sempre que necessitarmos de um transformador, para
o nosso sistema, para adaptar a tensão da rede elétrica, deveremos dar
preferência ao autotransformador.
Existem outras aplicações, evidentemente em outras
situações, como por exemplo na entrada dos próprios equipamentos de
áudio e vídeo. Lá se usa um transformador isolador, em vez de um
autotransformador, pelo único motivo de que não há garantia de se
respeitar a posição do neutro na tomada onde será ligado o cordão de
força do aparelho, ou quando a rede for fase-fase. Como é presumido que
todo sistema de áudio e vídeo deve ser aterrado, o secundário do
isolador estará aterrado também.
E Quanto à
Potência? Como Fica?
Com relação à potência dos
transformadores que deveremos utilizar, existem os seguintes valores
padronizados: 1KVA, 2KVA, 3KVA, 5KVA e 7,5KVA. Para determinar que
potência você deverá utilizar, veja qual é a soma das potências dos
aparelhos que irá ligar ao transformador, mesmo que todos não sejam
usados simultaneamente. Outro ponto importante a considerar é o
fabricante. Para os transformadores de fabricantes que seguem as normas
brasileiras e internacionais (onde aplicada uma carga com a mesma
potência de placa do transformador, se tem que a temperatura deste
transformador não venha a ultrapassar os 70 graus Celsius acima da
temperatura ambiente), você pode aplicar um fator de segurança de 1
(um). Ou seja, a soma das potências dos seus aparelhos deverá ser um
pouco menor do que a potência de placa do transformador. Para os outros
fabricantes, você poderá aplicar um fator de segurança entre 2 a 5
vezes para mais.
Para sistemas bem pequenos, com amplificadores
integrados, ou receivers, um transformador de 1KVA pode ser
suficiente. Já num sistema onde os amplificadores de potência são
aparelhos separados dos pré-amplificadores, e onde esses amplificadores
de potência são de classe AB, um transformador de 3KVA ou de 5KVA será
suficiente. Porém, quando você tiver amplificadores de potência em
classe A, deverá utilizar um transformador de 5KVA ou de 7,5KVA. Neste
caso, seria bom verificar a fiação elétrica da residência. Poderá ser
necessária a colocação de uma fiação mais grossa, ou mesmo de uma nova
fiação exclusiva para o seu equipamento.
Os Núcleos dos
Transformadores
Vamos agora analisar um pouco mais as formas dos
núcleos utilizados nos transformadores. Basicamente existem três tipos
de núcleos:
- núcleos E/I
- núcleos C e
- núcleos toroidais.
Os núcleos E/I são
formados por uma certa quantidade de chapas de aço silício, sobrepostas
umas às outras, nos formatos de um E e de um I, conforme a
Fig 3:
Fig 3. Chapas Magnéticas de
um Núcleo E/I
Entre o pacote de chapas E e o de chapas I,
encontram-se os entreferros, com apenas alguns décimos de milímetro de
espessura, que fazem o gap do circuito magnético, de forma tal
que o transformador não venha a saturar. Transformadores que trabalham
em região de saturação possuem altos THD%.
Os transformadores com núcleo
E/I são os mais utilizados nos equipamentos elétricos (pois podem
ser utilizados em qualquer equipamento elétrico). Mas, no áudio, eles
possuem a má fama de serem considerados piores do que os toroidais (Fig.4),
cujo núcleo é uma fita de aço silício enrolada sobre si mesma. O que
acontece é que o transformador com núcleo E/I possui uma
dispersão magnética maior do que a do toroidal. Essa dispersão magnética
maior, de fato, pode influir nos circuitos eletrônicos adjacentes e
causar alterações elétricas indesejáveis. Isto vale para transformadores
importados. Infelizmente, no Brasil, a chapa de aço silício do toroidal
possui perdas maiores do as chapas E/I e aí este conceito geral
não vale. Porém, quando os transformadores com núcleo E/I
utilizados dentro dos aparelhos de áudio/vídeo são ligados à rede
elétrica, como adaptadores das tensões das fontes de alimentação, esta
dispersão magnética pode ser compensada pelos circuitos eletrônicos.
Portanto, podemos utilizá-lo normalmente, ou então importar os toroidais.
Fig 4. Transformador Isolador
Toroidal.
Nos aparelhos que construo, principalmente nos
amplificadores de potência, prefiro utilizar os transformadores com
núcleo E/I por dois motivos: o primeiro e principal deles, é que
hoje existe uma chapa de aço silício chamada GO, que é de qualidade
superior à fita de aço silício, normalmente usada para fazer o núcleo
toroidal, pois ela permite um fluxo magnético maior, com perdas mais
baixas. Com isto, os transformadores E/I ficam menores que os
toroidais e também melhores, uma vez que o campo magnético deles fica
concentrado numa área menor. O outro motivo é que os transformadores
toroidais nacionais costumam ser de baixa qualidade, devido às
dificuldades encontradas no complicado processo de colocação do
enrolamento sobre o núcleo, o que exige a utilização de um maquinário
sofisticado, importado e bastante caro, inacessível a muitos
fabricantes. Assim, usando-se um processo de fabricação inadequado,
normalmente manual, a tensão do enrolamento do fio acaba deixando de ser
uniforme e, com isso, o fio do enrolamento pode ficar meio solto, o que,
entre outras desvantagens técnicas, faz com que o transformador fique
zumbindo. O enrolamento do transformador de núcleo E/I, por outro
lado, pode ser feito por um processo mais simples e com qualidade
superior.
Mesmo assim, caso você deseje utilizar um
transformador toroidal, conheço uma firma no Paraná que consegue
fabricar bons aparelhos, a Toroid do Brasil. Outra alternativa, seria
importá-los.
Os transformadores de núcleo C (Fig
5), por serem de fixação mais complexa entre suas partes, estão
caindo em desuso. Não os recomendo.
Fig 5. Transformador Isolador de
núcleo C
Conclusão
Neste artigo, tratamos de forma mais
técnica as diferenças entre os transformadores, quanto aos enrolamentos
do primário e do secundário e também quanto às formas dos núcleos
usados. Não tratamos aqui dos transformadores de núcleo saturado, que
alguns usam como estabilizadores, pois possuem as mais altas distorções
harmônicas e não são dignos de nota para a nossa aplicação. Mostramos
que os transformadores mais adequados e recomendados para sistemas de
áudio e vídeo, para a adaptação da tensão da rede elétrica, são os
autotransformadores, por poderem apresentar um baixo THD%, ou seja, uma
distorção harmônica mais baixa do que a apresentada pelos
transformadores isoladores, por manterem o neutro da rede elétrica e por
terem um valor agregado menor, apresentando assim resultados sonoros e
de imagem superiores. Mostramos também que o núcleo toroidal apresenta
uma dispersão magnética menor do que a do transformador com chapa E/I,
mas isto somente quando a qualidade da chapa magnética for semelhante à
importada, como é no caso de transformadores importados. No nosso caso,
aqui do Brasil, devido a um consumo menor da chapa para transformadores
toroidais e também devido a maiores perdas, os transformadores com chapa
E/I apresentam normalmente resultados melhores.
Belíssimas audições e excelentes
filmes a todos, aquele abraço e ... até a próxima!!!
Desejo a todos uma excelente
audição de qualidade!
Voltar
-
PRODUTOS, PROJETOS E INSTALAÇÕES