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  Veja os comentários de Fernando Sampaio (RJ) a respeito de fiação sólida e aterramento do neutro.
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Transformador, um Mal Necessário

Elétrica

Jorge Knirsch
jorgeknirsch@byknirsch.com.br

Introdução

É muito grande o volume do que se tem escrito a respeito de transformadores, em muitas revistas especializadas e principalmente em grupos de discussão de áudio/vídeo pela Internet. Porém há muita confusão nestas discussões, pois muitas vezes vários aspectos técnicos não são levados em conta. Neste artigo, vamos esmiuçar, com maior detalhamento técnico, as diferenças entre os transformadores existentes e verificar quais são os mais adequados para os nossos sistemas de áudio e vídeo.

Este artigo trata das mazelas que o transformador causa em sistemas de áudio e vídeo quando não corretamente projetado e construído.

© 2004-2014 Jorge Bruno Fritz Knirsch
Todos os direitos reservados
http://www.byknirsch.com.br

O Transformador

Como vimos em várias situações e comentários anteriores, para adequarmos a tensão da rede a um aparelho qualquer que queremos utilizar, muitas vezes se torna necessário o uso de um transformador. Mas para podermos fazer a escolha correta do tipo de transformador que deveremos empregar em cada tipo de aplicação, precisaremos nos aprofundar um pouco mais no conceito do que vem a ser um transformador. De fato, o transformador sempre será visto como um mal necessário, porém a nossa pergunta é: dentre todos os existentes, qual o que nos trará menor prejuízo sonoro?
        Existem quatro aspectos básicos que deveremos considerar em um transformador, a saber:

- tensão de entrada e tensão de saída,
- tipo de enrolamento,
- potência e
- forma do núcleo do transformador.

Quanto à tensão de entrada e à tensão de saída, o transformador pode ser:

- abaixador de tensão ou
- elevador de tensão.

O   transformador será abaixador de tensão quando a tensão de entrada for maior que a tensão de saída, e será elevador de tensão quando a situação for inversa. Voltando a recordar: o importante aqui é que a tensão de entrada seja utilizada sempre entre a fase e o neutro.
       Quanto ao tipo de enrolamento, vamos analisar aqui apenas os transformadores monofásicos, porque são os únicos adequados para o áudio e vídeo. Estes transformadores nada mais são do que circuitos eletromagnéticos constituídos de um núcleo de chapas especiais de aço-silício com grãos orientados e mais um ou dois enrolamentos. Quando o transformador tiver dois enrolamentos, vai receber o nome de transformador isolador. Veja a Fig. 1, que lhe dará uma idéia de como ele é: 

Fig 1. Esquema de um Transformador Isolador.  

Este transformador se chama isolador porque separa galvanicamente a tensão de entrada da tensão de saída, através de dois enrolamentos totalmente separados, colocados em volta de um núcleo magnético que realiza a transferência de energia. O enrolamento da tensão de entrada é chamado de primário e o da tensão de saída, secundário.
       O transformador que só apresenta um enrolamento é chamado de autotransformador e você poderá ver o seu esquema na Fig 2:  

 

Fig 2. Esquema de um Autotransformador.

Os dois transformadores mostrados nos esquemas são abaixadores. Os dois traços paralelos, em ambos os esquemas, representam o núcleo magnético de cada transformador.
       Veja que, no autotransformador, só existe o enrolamento da tensão maior (de entrada ou de saída), e a tensão menor é obtida através de uma derivação do mesmo enrolamento. É relevante notar que no autotransformador a entrada e a saída possuem um terminal em comum.

Transformador, um mal necessário. Por quê?

Este assunto é atualmente bastante controvertido, inclusive entre muitos dos engenheiros que lidam diretamente com o áudio e o vídeo. As opiniões são divergentes, alguns considerando o autotransformador como a melhor opção e outros acreditando ser mais adequado o transformador isolador, que é mais comum no mercado. Porém são opiniões do diz que diz, e muitos os seguem, sem verificar e comprovar realmente os aspectos mais técnicos e importantes nesta avaliação para os nossos sistemas de áudio/vídeo.
       Temos afirmado que o transformador é um mal necessário por ser um elemento colocado em série com a linha de energia. Sabemos que todos os componentes em série alteram a impedância da linha, gerando sujeira, ou seja, geram harmônicos que sujam a rede e aumentam a distorção da energia elétrica. A sujeira é o que degrada a energia elétrica recebida pelos nossos equipamentos de áudio/vídeo e é isto que deteriora a qualidade da reprodução sonora e da imagem, reduzindo o palco sonoro e a tridimensionalidade da imagem. Esta redução no palco sonoro, por exemplo, se torna totalmente perceptível, pois à medida que a sujeira existente na energia elétrica aumenta, o evento musical vai se deslocando para as caixas acústicas, não permanecendo entre elas e atrás delas, como se dá quando a rede elétrica está limpa. O nome técnico correto desta sujeira é “distorção harmônica” ou “THD” (abreviação de Total Harmonic Distortion). O THD é dado em porcentagem em relação à senoide fundamental da rede elétrica. Bem, da mesma forma que o THD% de um aparelho de áudio/vídeo pode ser medido, e este valor é muito importante, assim também o THD% de um transformador poderá ser medido. E, nos transformadores, este valor é fundamental! Não conheço nenhum fabricante que diga quais as distorções harmônicas dos seus transformadores pois, via de regra, são elevadas. O THD%, que varia com a potência consumida, deveria ser sempre indicado e medido na potência nominal máxima do transformador. Porém, a verdade é que a maioria dos fabricantes de transformadores nem sabem o que vem a ser isto!!! E depois ... qual o aparelho que faz esta medição? Em regra geral, de forma muito abrangente, quanto mais leve é o transformador, mais alto costuma ser o seu THD%. Precisamos tomar muito cuidado com a indicação do valor da medição, averiguando se é realmente honesta, isenta de acomodações pois, se não for assim, a indicação estará ali simplesmente para reduzir falsamente o valor real e influir positivamente o cliente, já que a maioria dos clientes nem tem condições de verificar e aferir os valores indicados. Como vocês sabem, o papel aceita tudo!
       O THD% em transformadores depende de vários parâmetros, tanto de materiais quanto construtivos.
       Só para vocês terem uma idéia, vou dar um exemplo bastante prático, contando-lhes uma pequena história. Imaginem um aparelho de áudio, um receiver importado por exemplo, que possui um transformador isolador bem grande na sua entrada, que irá alimentá-lo com a potência requerida para todos os amplificadores de potência que ele tem. Se abrirmos a tampa, vamos verificar que tudo lá dentro está bem compactado, de forma que não há espaços vazios no seu interior. Suponhamos agora que, num belo dia, o trafo deste aparelho, que ficou ligado a uma rede 127V (muito comum entre nós), venha a se queimar. Por uma infelicidade, o transformador do receiver importado não suportou as mazelas da nossa rede elétrica, que vira e mexe apresenta altos níveis de distorção harmônica e grandes variações de energia, muitas vezes além da tolerância informada pela concessionária. E queimou! E agora José... o que fazer? O José vai achar que isto é muito fácil de ser resolvido: é só mandar enrolar um novo trafo, para substituir o que está queimado e pronto! Muitos se prestam a este serviço, Brasil a fora.  E lá vai o aparelho para o conserto. O técnico, analisando o aparelho, aí vai constatar que o núcleo do trafo também foi danificado e precisa ser trocado por chapa nacional. Mas agora é o técnico quem está com um belo problema, pois não pode aumentar o tamanho do trafo, já que no aparelho não há espaço para se colocar um trafo maior. Mas aumentar o tamanho do transformador, diriam vocês? Vocês não queiram saber a situação embaraçosa deste técnico para resolver este imbróglio!! Bem, ele simplesmente “faz o melhor que pode”, constrói o novo trafo, monta-o no aparelho e o entrega para o José. O José, por sua vez, vai para casa, feliz da vida, com o seu aparelho supostamente consertado, parecendo novinho em folha!! Começa a ouvir suas músicas preferidas e, já de bate-pronto, nota uma diferença gritante: o som perdeu a nitidez e piorou muito, inclusive o palco sonoro diminuiu bastante!! Como é que pode ser isto? Ele não está entendendo. Fica atônito, mas continua ouvindo a sua música, pois ainda não sabe bem o que fazer. Já está até se familiarizando ao novo som, quando sente um cheiro de queimado no recinto... vai verificar e nota que é o receiver que está esquentando muito, não dá nem para por a mão! Ao tentar desligar seu sistema, o receiver queima novamente antes dele conseguir desligá-lo. Queimado o receiver, ele verifica que é o transformador isolador recém consertado que está tão quente como se estivesse pegando fogo. O José volta para o técnico, que não consegue resolver o problema a contento, e finalmente toma a decisão acertada: importa do fabricante do receiver um novo transformador.
       Mas vocês dirão: Como pode ser isto? Transformadores pertencentes a aparelhos importados não podem ser substituídos por nacionais? A minha resposta é: em princípio não. Em alguns casos somente, se houver lugar para colocar um transformador bem maior. Ou então fazer uma adaptação externa. Por que?
       Em primeiro lugar, a chapa de aço silício de grão orientado produzida no Brasil não tem a qualidade da chapa importada e por isto as perdas são maiores. A indução magnética que podemos criar com a chapa nacional é bem menor do que a alcançada com a chapa importada, de forma que, para criar o mesmo fluxo de linhas magnéticas no transformador, precisamos usar maior número de chapas do que as usadas em um transformador importado. Com isto, o nosso transformador fica maior e esta é uma das razões pelas quais o técnico do José não conseguiu resolver o problema, pois não havia espaço no receiver para um transformador maior.
       Em segundo lugar, a qualidade do nosso fio de cobre, de modo geral, é muito ruim, pois o nosso cobre tem alto grau de impurezas, de forma que a resistividade do nosso fio é maior do que a encontrada nos fios importados. Caso o técnico do José pudesse ter usado o mesmo núcleo magnético do transformador do receiver importado, este transformador provavelmente iría ter também uma vida útil curta, pois estaria trabalhando sobre-aquecido e depois de algum tempo acabaria queimando também. Existem muitos fabricantes que, para reduzir os custos, usam até fios de alumínio, o que somente piora a situação.
         A solução paliativa levou a aumentar o THD% do transformador do receiver do José, de forma que já na primeira audição ele percebeu algo errado no som. Agora pergunto: quantos já não passaram por esta situação?
        Muitos fabricantes de transformadores, conscientes destes problemas, evitam fazer substituições ou consertos em aparelhos importados.
       Se tivéssemos uma lei que obrigasse o fabricante de transformadores a indicar o THD% em consumo máximo, estes problemas já teriam vindo à tona e, conseqüentemente, melhorado a qualidade da nossa produção de transformadores que não atende ao padrão internacional!
       Vários são os fatores que definem a qualidade de um transformador,  possibilitando obter um THD% o mais baixo possível. Entre eles, a qualidade da chapa de aço silício de grão orientado, suas características magnéticas, suas perdas, sua espessura e sua isolação influem na qualidade de um bom transformador. Em seguida vem a qualidade do fio sólido esmaltado utilizado no(s) enrolamento(s) de cobre ou, mais recentemente, de alumínio. Seu grau de pureza, seu diâmetro (A/mm2) e sua isolação também são importantes. Em alguns transformadores de saída, usam-se também fios sólidos com seção quadrada para a redução do THD%, principalmente em amplificadores de potência valvulados. Por outro lado, em transformadores adaptadores de tensão de rede elétrica, de 230V para 120V ou vice-versa preponderantemente se tem usado fios de alumínio que reduzem a qualidade, aumentando o THD%.
       O carretel, onde é enrolado o enrolamento primário/secundário, é outro item que também tem influência na qualidade, pois em conjunto com outros parâmetros, define o chamado acoplamento magnético entre primário e secundário, que é um item fundamental na qualidade de um transformador e tem grande participação no seu THD%. Entre estes outros parâmetros está o próprio projeto do transformador, onde existem vários aspectos a serem considerados, como o cálculo térmico e menciono também o entreferro, que evita a saturação do núcleo.

Qual o Melhor Transformador para Adaptar a Tensão da Rede Elétrica?

Para os transformadores adaptadores de tensão da rede elétrica são usados normalmente dois tipos: o transformador isolador e o autotransformador. As partes construtivas destes dois tipos de transformadores já foram apresentadas acima. Se considerarmos dois transformadores, um deles isolador e o outro autotransformador, projetados e construídos com os mesmos cuidados técnicos necessários, com boa chapa magnética de grão orientado, de baixas perdas e de alta indução, com fio de cobre de boa qualidade e não de alumínio, que hoje é largamente usado no nosso mercado nacional, com o menor entreferro possível, com construção aprimorada e, finalmente, com um bom projeto térmico, dentro da norma brasileira, qual dos dois deveremos escolher? Se analisarmos todos os aspectos importantes para os nossos sistemas de áudio/vídeo, veremos que o autotransformador tem várias vantagens em relação ao isolador.
       A primeira delas, e talvez a mais importante para os nossos sistemas de áudio/vídeo, quando pretendemos chegar ao topo do pinheiro, é que o THD% do autotransformador é muito menor do que o do transformador isolador. O fato de o autotransformador ter apenas um enrolamento, onde estão o primário e o secundário juntos, faz com que, entre outros aspectos, o acoplamento magnético seja muito superior, de forma que a distorção harmônica cai muito, além da regulação ser superior, oferecendo aos nossos sistemas melhor dinâmica.
       Os dois enrolamentos separados, no transformador isolador (como se diz no jargão popular “trafo com separação galvânica”), fazem com que o acoplamento magnético seja inferior ao do autotransformador e não só isto, o acoplamento magnético muito dependente da parte construtiva do carretel e dos enrolamentos dos fios. Portanto, esta tão propalada separação galvânica entre primário e secundário não traz nenhuma vantagem e também não é relevante na aplicação do áudio/vídeo, sendo um ponto negativo deste transformador, pois isto na verdade aumenta o seu THD%, além do que cria outros problemas, como as capacitâncias parasitas entre primário e secundário, que não existem nos autotransformadores.
       Todas estas diferenças fazem com que o autotransformador tenha a menor distorção harmônica (THD%) possível, permitindo o melhor resultado sonoro, muito mais neutro do que o isolador. E este, por possuir um THD% maior, tem uma tendência a valvular o som, algo que não deixa de ser uma coloração, o que não é correto.
       O segundo aspecto a ser considerado é que toda a rede elétrica residencial, em todo mundo, por normas nacionais e internacionais, deve possuir um neutro!!! Mas, por incrível que pareça, existem regiões no Brasil onde isto ainda não acontece, como por exemplo na cidade de Santos e em outras cidades do interior de São Paulo, onde a tensão oferecida pela concessionária da rede elétrica é apenas em 230V fase-fase. Existem outras regiões, como ocorre no Nordeste, onde além das duas fases em 230V ou 380V disponíveis, o neutro também é oferecido e, juntamente com a fase, resulta em 120V ou 230V respectivamente. São estas tensões com neutro que devem ser sempre usadas.
       Esta norma, muito importante, que toda tomada residencial precisa ter o neutro, foi estabelecida por motivo de segurança. Como o neutro deve ser aterrado pela concessionária e pelo consumidor final, torna a tensão referenciada e também mais segura. Aqui, o autotransformador é ideal para transformar a tensão de 230V fase-neutro para 120V fase-neutro, pois mantém o neutro na entrada/saída comum da nova tomada com a nova tensão. O único incômodo, no Brasil, é que é preciso fasear a tomada na parede e muitos eletricistas entre nós não conhecem ainda a posição correta do neutro na tomada. Nos EUA este problema é inexistente pois o pino do neutro no plugue a ser colocado na tomada é mais grosso e mais largo, não permitindo inversão. A nova norma brasileira, que modificará o nosso plugue e tomada e entrará em vigor, se não falha a memória em 2007, com uma geometria exclusiva e estabanada também, não permitirá a inversão como ocorre hoje.

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       A aplicação do transformador isolador, então, como adaptador de tensão é incorreta, pois cria a tensão no secundário com os dois fios vivos não referenciados, devido justamente à separação galvânica entre primário e secundário. Se formos rigorosos e corretos, como manda o figurino, caso quisermos usar o transformador isolador assim mesmo, teremos que aterrar o secundário novamente, por motivos de segurança. Portanto, o uso do transformador isolador, em tomada fase-neutro, não é correto e nem recomendável, pois na verdade é um contra-senso o seu uso, se não houver um novo aterramento do secundário, além do problema do aumento do THD%, que introduzirá uma coloração no sistema, como já vimos.
       O terceiro aspecto relevante, que no entanto não tem nada a ver com aspectos técnicos, é que, comparando-se os dois tipos de transformadores, o autotransformador e o transformador isolador, manufaturados e projetados conforme o estado da arte técnica atual, o autotransformador apresentará evidentemente um custo menor, devido ao menor valor agregado, pois é constituído, entre outros aspectos, apenas por um enrolamento.
       Comenta-se também da blindagem eletrostática, que é possível ser feita no transformador isolador, entre primário e secundário. Esta blindagem tem a finalidade de evitar a entrada de ruídos eletromagnéticos provenientes pelo ar, mas deve ser aterrada para ter o efeito desejado. Infelizmente ela não é uma proteção e nem reduz a distorção harmônica do transformador, ou seja ela não reduz o THD%, como muitos gostariam de crer.
       Comenta-se também que o transformador isolador elimina ruídos de modo comum da rede elétrica, mas isto não é característica somente do isolador e sim de qualquer transformador, inclusive do autotransformador.
       Outro comentário existente na mídia é que transformadores oferecem uma proteção ao sistema ao qual estão ligados. Infelizmente, nenhum tipo de transformador, seja ele isolador ou autotransformador, ambos em núcleos E/I, ou toroidais, ou em núcleos C, oferecem uma proteção digna de nota. Se porventura ocorrer um raio ou um transiente na linha de energia, entrará no primário do transformador e passará para o secundário. Transformadores não são elementos de proteção, seja ele qual for.
       Embora o transformador isolador seja o mais comercializado com fios de alumínio (em torno de 90% do mercado), para a aplicação da adaptação de tensão de rede elétrica em áudio/vídeo, e portanto o mais utilizado, não é o mais adequado para nós, pois é o que gera maior quantidade de harmônicos e, em conseqüência, maior coloração no médio baixo. A agradável impressão inicial logo dá lugar a um desconforto auditivo, com a percepção de que a música está sendo reproduzida com um corpo harmônico maior do que o que realmente deveria haver. O autotransformador tem característica semelhante, porém já em menor nível, bem mais baixo, e conforme o sistema de áudio/vídeo poderá não ser perceptível. Na verdade, ambos são ruins, mas o que traz menor influência negativa é sem dúvida alguma o autotransformador para a nossa aplicação. Portanto, sempre que necessitarmos de um transformador, para o nosso sistema, para adaptar a tensão da rede elétrica, deveremos dar preferência ao autotransformador.
       Existem outras aplicações, evidentemente em outras situações, como por exemplo na entrada dos próprios equipamentos de áudio e vídeo. Lá se usa um transformador isolador, em vez de um autotransformador, pelo único motivo de que não há garantia de se respeitar a posição do neutro na tomada onde será ligado o cordão de força do aparelho, ou quando a rede for fase-fase. Como é presumido que todo sistema de áudio e vídeo deve ser aterrado, o secundário do isolador estará aterrado também.

E Quanto à Potência? Como Fica?

Com relação à potência dos transformadores que deveremos utilizar, existem os seguintes valores padronizados: 1KVA, 2KVA, 3KVA, 5KVA e 7,5KVA. Para determinar que potência você deverá utilizar, veja qual é a soma das potências dos aparelhos que irá ligar ao transformador, mesmo que todos não sejam usados simultaneamente. Outro ponto importante a considerar é o fabricante. Para os transformadores de fabricantes que seguem as normas brasileiras e internacionais (onde aplicada uma carga com a mesma potência de placa do transformador, se tem que a temperatura deste transformador não venha a ultrapassar os 70 graus Celsius acima da temperatura ambiente), você pode aplicar um fator de segurança de 1 (um). Ou seja, a soma das potências dos seus aparelhos deverá ser um pouco menor do que a potência de placa do transformador. Para os outros fabricantes, você poderá aplicar um fator de segurança entre 2 a 5 vezes para mais. 

Para sistemas bem pequenos, com amplificadores integrados, ou receivers, um transformador de 1KVA pode ser suficiente. Já num sistema onde os amplificadores de potência são aparelhos separados dos pré-amplificadores, e onde esses amplificadores de potência são de classe AB, um transformador de 3KVA ou de 5KVA será suficiente. Porém, quando você tiver amplificadores de potência em classe A, deverá utilizar um transformador de 5KVA ou de 7,5KVA. Neste caso, seria bom verificar a fiação elétrica da residência. Poderá ser necessária a colocação de uma fiação mais grossa, ou mesmo de uma nova fiação exclusiva para o seu equipamento.

Os Núcleos dos Transformadores

Vamos agora analisar um pouco mais as formas dos núcleos utilizados nos transformadores. Basicamente existem três tipos de núcleos:

- núcleos E/I
- núcleos C e
- núcleos toroidais.

Os núcleos E/I são formados por uma certa quantidade de chapas de aço silício, sobrepostas umas às outras, nos formatos de um E e de um I, conforme a Fig 3:

Fig 3. Chapas Magnéticas de um Núcleo E/I

Entre o pacote de chapas E e o de chapas I, encontram-se os entreferros, com apenas alguns décimos de milímetro de espessura, que fazem o gap do circuito magnético, de forma tal que o transformador não venha a saturar. Transformadores que trabalham em região de saturação possuem altos THD%.
       Os transformadores com núcleo E/I são os mais utilizados nos equipamentos elétricos (pois podem ser utilizados em qualquer equipamento elétrico). Mas, no áudio, eles possuem a má fama de serem considerados piores do que os toroidais (Fig.4), cujo núcleo é uma fita de aço silício enrolada sobre si mesma. O que acontece é que o transformador com núcleo E/I possui uma dispersão magnética maior do que a do toroidal. Essa dispersão magnética maior, de fato, pode influir nos circuitos eletrônicos adjacentes e causar alterações elétricas indesejáveis. Isto vale para transformadores importados. Infelizmente, no Brasil, a chapa de aço silício do toroidal possui perdas maiores do as chapas E/I e aí este conceito geral não vale. Porém, quando os transformadores com núcleo E/I utilizados dentro dos aparelhos de áudio/vídeo são ligados à rede elétrica, como adaptadores das tensões das fontes de alimentação, esta dispersão magnética pode ser compensada pelos circuitos eletrônicos. Portanto, podemos utilizá-lo normalmente, ou então importar os toroidais.

Fig 4. Transformador Isolador Toroidal.

Nos aparelhos que construo, principalmente nos amplificadores de potência, prefiro utilizar os transformadores com núcleo E/I por dois motivos: o primeiro e principal deles, é que hoje existe uma chapa de aço silício chamada GO, que é de qualidade superior à fita de aço silício, normalmente usada para fazer o núcleo toroidal, pois ela permite um fluxo magnético maior, com perdas mais baixas. Com isto, os transformadores E/I ficam menores que os toroidais e também melhores, uma vez que o campo magnético deles fica concentrado numa área menor. O outro motivo é que os transformadores toroidais nacionais costumam ser de baixa qualidade, devido às dificuldades encontradas no complicado processo de colocação do enrolamento sobre o núcleo, o que exige a utilização de um maquinário sofisticado, importado e bastante caro, inacessível a muitos fabricantes. Assim, usando-se um processo de fabricação inadequado, normalmente manual, a tensão do enrolamento do fio acaba deixando de ser uniforme e, com isso, o fio do enrolamento pode ficar meio solto, o que, entre outras desvantagens técnicas, faz com que o transformador fique zumbindo. O enrolamento do transformador de núcleo E/I, por outro lado, pode ser feito por um processo mais simples e com qualidade superior.
       Mesmo assim, caso você deseje utilizar um transformador toroidal, conheço uma firma no Paraná que consegue fabricar bons aparelhos, a Toroid do Brasil. Outra alternativa, seria importá-los.
       Os transformadores de núcleo C (Fig 5), por serem de fixação mais complexa entre suas partes, estão caindo em desuso. Não os recomendo.

 

 

Fig 5. Transformador Isolador de núcleo C 

 Conclusão

Neste artigo, tratamos de forma mais técnica as diferenças entre os transformadores, quanto aos enrolamentos do primário e do secundário e também quanto às formas dos núcleos usados. Não tratamos aqui dos transformadores de núcleo saturado, que alguns usam como estabilizadores, pois possuem as mais altas distorções harmônicas e não são dignos de nota para a nossa aplicação. Mostramos que os transformadores mais adequados e recomendados para sistemas de áudio e vídeo, para a adaptação da tensão da rede elétrica, são os autotransformadores, por poderem apresentar um baixo THD%, ou seja, uma distorção harmônica mais baixa do que a apresentada pelos transformadores isoladores, por manterem o neutro da rede elétrica e por terem um valor agregado menor, apresentando assim resultados sonoros e de imagem superiores. Mostramos também que o núcleo toroidal apresenta uma dispersão magnética menor do que a do transformador com chapa E/I, mas isto somente quando a qualidade da chapa magnética for semelhante à importada, como é no caso de transformadores importados. No nosso caso, aqui do Brasil, devido a um consumo menor da chapa para transformadores toroidais e também devido a maiores perdas, os transformadores com chapa E/I apresentam normalmente resultados melhores.
       Belíssimas audições e excelentes filmes a todos, aquele abraço e ... até a próxima!!!
       Desejo a todos uma excelente audição de qualidade!


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