PERGUNTAS/RESPOSTAS
SOBRE A ENERGIA ELÉTRICA
1.a Parte
Elétrica
Jorge Knirsch
Introdução
Pesquisei muito, nos últimos anos a influência da
energia elétrica sobre os nossos sistemas de áudio e vídeo e chegando,
muitas vezes, a conclusões diversas a aquelas apresentadas por diversos
fabricantes e principalmente pela mídia de forma geral. Inclusive no
I Seminário de Música Ciência e Tecnologia, que na sua
primeira edição apresentou o tema, Acústica Musical, realizado no
IME da USP, no
ano passado, apresentamos a palestra “Os Harmônicos da Energia
Elétrica no Áudio” onde mostramos de forma resumida algumas
conclusões técnicas a que chegamos em nossas pesquisas, cujas
realizações práticas, possíveis de serem visitadas e ouvidas em nosso
Laboratório de Áudio e Acústica, trazem resultados impressionantes na
reprodução sonora de eventos musicais gravados. Por outro lado, venho
acompanhando vários sites e artigos pela Internet, a respeito de
diversas discussões sobre o áudio e a energia elétrica, e tenho notado
que, vez por outra, pareceres sobre assuntos de eletricidade e
eletrônica, não estão relacionados com conceitos técnicos para a melhor
reprodução do áudio e do vídeo.
Face ao marasmo de informações e contra-informações
existente no mercado na área elétrica, gerando grande confusão no nosso
meio, nos propomos a apresentar uma nova série de artigos, que irá
abordar, de forma clara e bem didática (assim espero), com perguntas e
respostas, a importância e a problemática da energia elétrica nas
instalações de áudio e vídeo, inclusive para estúdios. Conclamo a todos
os leitores a participarem ativamente e de forma cooperativa, formulando
perguntas, sugestões e críticas que visem a melhorar o nível de
entendimento do assunto e a torná-lo o mais abrangente possível. Que
tal? Não é uma boa? Então, vamos lá! Mãos à obra!!
© 2004-2008 Jorge Bruno Fritz Knirsch
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A Influência da Energia Elétrica
Pergunta: A energia elétrica influi mesmo no som e na
imagem?
Resposta: Sim, ela influi e muitas vezes pode influir muito,
mas a sua influência, no entanto, também poderá não ser perceptível
dependendo do nível do sistema.
Pergunta: Como assim? Daria para explicar melhor?
Resposta: Todos os aparelhos eletrônicos, dentre eles os de
áudio e também os de vídeo, são constituídos fundamentalmente por dois
grandes elementos: fontes de alimentação, que trazem a
energia necessária para o funcionamento do aparelho e os circuitos
eletrônicos, que realizam as funções a que o equipamento se
destina. Todos os circuitos eletrônicos
funcionam com tensão contínua, que é obtida a partir das fontes de
alimentação. Ou seja, a fonte de alimentação
realiza a transformação da energia elétrica da rede, que vem pelo cabo
de força, em tensão contínua, para alimentar os
circuitos eletrônicos. Toda vez que melhoramos a energia
elétrica, eliminando a sujeira nela contida, a tensão contínua gerada
pela fonte de alimentação também melhora, porém,
dependendo da topologia dos circuitos eletrônicos (que
pode variar desde algo muito simples até uma topologia bastante
sofisticada), esta melhoria poderá ou não ser detectada em termos de
qualidade sonora ou de imagem. Se a topologia eletrônica for muito
simples, a melhoria da energia poderá não fazer diferença alguma na
imagem e no som, mas se a topologia for mais elaborada, poderá haver uma
diferença gritante! Tudo depende onde está o elo mais fraco: nas
fontes de alimentação ou nos circuitos eletrônicos. Se o elo mais fraco
estiver nas fontes de alimentação a diferença sonora será muito grande.
Pergunta: Por que isto acontece?
Resposta: Quando a topologia do circuito eletrônico
é muito simples, a limpeza da energia elétrica na verdade não traz
melhoria no som e na imagem por causa de uma limitação do próprio
circuito do aparelho. Ou seja, a topologia dos circuitos eletrônicos,
quando pouco elaboradas, normalmente para manter custos baixos, se torna
um fator de limitação àquilo que o aparelho poderia reproduzir. Em
outras palavras é o elo mais fraco. Assim
sendo, por mais que a tensão contínua melhore, ela não possibilitará ao
equipamento tocar um som ou reproduzir uma imagem que esteja além do
nível de qualidade com o qual este aparelho foi projetado. O equipamento
não poderá tocar mais do que os seus circuitos eletrônicos lhe permitem!
Isto seria impossível!
Pergunta: Existe algum parâmetro que indique a partir de quando a
influência de uma energia elétrica limpa se inicia e se faz sentir no
resultado sonoro e na imagem?
Resposta: Vamos tomar as cinco classes de equipamentos usadas
pela revista alemã AUDIO: Referência, High-End,
Classe de Ponta, Mid-Fi (Classe Superior) e Classe Mediana.
Experimentalmente, poderemos verificar que somente a partir da Classe
Superior será possível sentirmos alguma diferença, para melhor, com
a melhoria da energia elétrica. Daí para frente, os efeitos da limpeza
da energia ficam cada vez mais evidentes, sendo muito significativos na
Classe de Referência. Esta lista de testes de equipamentos
da AUDIO alemã considero uma das mais sérias que existem na
atualidade na mídia internacional e pode ser abaixada por 2,30 Euros do
site da revista:
www.audio.de , onde esta lista se chama de “Bestenliste”.
Realmente vale à pena, para termos uma orientação mais segura a respeito
de equipamentos.
Pergunta: Que diferenças poderão ser percebidas no som e
na imagem?
Resposta: Bem, a influência sonora mais marcante é uma maior
independência do som das caixas acústicas, quando corretamente
posicionadas, ou seja, o palco sonoro aumenta e isso de forma
impressionante, com o aumento de todos os seus itens, principalmente a
profundidade! À medida que a sujeira da energia elétrica diminui, o
palco sonoro aumenta, adquirindo uma melhor focagem e um recorte mais
preciso. Na imagem, os negros ficam mais profundos, as cores mais vivas
e o recorte da imagem também fica bem mais definido.
Pergunta: Qualquer pessoa poderá perceber estas
diferenças?
Resposta: Sim, qualquer pessoa poderá perceber nitidamente
estas diferenças, contanto que o sistema de som e imagem seja da
Classe Superior para cima e que se faça de fato uma correta limpeza
na energia elétrica. Na audição, no nosso Laboratório de Áudio e
Acústica, (veja no nosso site: Convite para Audições), dá a impressão de
que um canal central está atuando, que porém não existe!!! Um bom
sistema 2.0, com um bom tratamento acústico, pode reproduzir um sistema 5.1!
A Sujeira na Energia Elétrica
Pergunta:
Como poderemos limpar a energia elétrica?
Resposta: Bem, antes de tudo, precisamos saber o que suja a
energia elétrica, para em seguida podermos limpá-la.
A energia elétrica é constituída de uma
corrente elétrica (elétrons, que vão e vêm, 60 vezes por segundo
no nosso caso) e de uma tensão, dada pela concessionária
de energia. Trocando em miúdos, para que estes conceitos possam ser
entendidos por todos os nossos leitores, vamos fazer uma analogia entre
um sistema hidráulico e um sistema elétrico, de corrente contínua.
Se abrirmos completamente uma torneira em nossa casa,
por exemplo, deixaremos a água passar livremente. O volume de água que
irá sair por esta torneira vai depender da pressão da água, ou seja, da
força com que essa água vai passar pelo cano. Analogamente, nos
reportando ao sistema elétrico, a água da torneira corresponderia à
corrente elétrica e a pressão que a água estaria exercendo
sobre o cano, ao passar por ele, a tensão.
A tensão da energia de cada região é dada em volts
pela concessionária de energia elétrica de cada local. Ela consta da sua
conta de luz com valores máximo e mínimo, ou seja, a tolerância da
tensão. O importante é
entender que, na rede elétrica de 220 V, por exemplo, a energia vem com
o dobro de pressão, se comparada com a rede de 110 V. Um choque elétrico
na rede de 220 V vai ser muito mais forte e perigoso!
Vamos voltar ao problema da sujeira da rede. O que
faz a rede ficar suja? Vejamos: um aparelho, para funcionar, vai
solicitar uma determinada quantidade de elétrons da corrente elétrica
num certo espaço de tempo. Acontece que, neste processo, este aparelho
acaba lançando de volta, na rede elétrica, uma pequena parte da energia
que ele absorveu. Quem sabe, você possa entender isto melhor,
visualizando, por exemplo, as ondas do mar se quebrando numa praia. Que
paisagem bonita, não é? Você já deve ter apreciado este fenômeno algumas
vezes. Mas já reparou que, em certos dias, as ondas ficam maiores e se
rebentam com mais força e aí, muitas vezes, podemos observar que uma
parte da energia destas ondas não consegue ser absorvida pela praia e
volta para o mar, formando aquela marola de ondinhas, em direção
contrária, se afastando da praia? Estas ondinhas da marola
corresponderiam, no caso da eletricidade, à sujeira da rede, chamada de
harmônicos, que existe tanto em corrente quanto em tensão. Talvez este
não seja o melhor exemplo, mas vamos dizer que seria algo mais ou menos
assim que acontece com a eletricidade. Estamos simplificando muito, para
que você possa “visualizar” o que acontece no campo da eletricidade e
comece a se envolver com ele, pois é fascinante! Concordo que a
simplificação aqui é grande, mas isto é proposital. Não estamos, por
exemplo, mencionando a atuação dos campos de força, para não complicar,
pois aqui não viria ao caso.
Vamos em frente! Tanto a corrente elétrica, quanto a
tensão da rede, em caso ideal, são representadas na eletricidade por
ondas senoidais. Estas ondas mostram o ir e vir da corrente e também o
sentido e o valor da tensão aplicada ao aparelho que estamos
considerando no momento. Veja isto na Figura 2.
Figura 2 – Ondas senoidais da corrente e da tensão da energia elétrica
limpas de harmônicos.
Em linguagem elétrica, qualquer aparelho, desde que
esteja consumindo energia da rede, é considerado como uma “carga” (no
nosso exemplo, a praia corresponderia a uma carga, pois estaria
recebendo a energia das ondas do mar e com ela triturando conchas,
pedras, etc, produzindo a areia, não é mesmo?). A grande maioria das
“cargas” residenciais (como geladeiras, máquinas de lavar roupa,
aquecedores, microcomputadores,etc) e também a maioria das “cargas”
industriais (como tornos, inversores, conversores, fresadoras, plainas,
serras, máquinas com controles numéricos, etc) contém motores,
indutores, capacitores, resistores, lâmpadas, componentes eletrônicos
não lineares (como tiristores ou triacs) e muitos outros componentes
elétricos que, para funcionar, além de consumir energia, sujam a rede
elétrica em maior ou em menor grau (da mesma forma que as ondinhas da
marola o fazem, voltando mar adentro). Isto é inevitável. Estes
aparelhos, ao funcionar, geram novas tensões, em valores mais baixos que
o da tensão inicial e, como são de freqüências mais altas, retornam pela
rede, sujando a energia elétrica. E a energia, agora suja, continua
seguindo em frente, pelos cabos, para abastecer as próximas cargas.
Vocês estão percebendo que até os nossos amplificadores de potência são
cargas e que, portanto, também sujam a energia elétrica?
Concluindo, são os componentes elétricos das cargas
que, quando alimentados com energia elétrica, lançam sujeira na rede, em
maior ou menor grau. A esta sujeira, criada por cada uma destas cargas,
nós chamamos de harmônicos. Cada carga gera um conjunto de
harmônicos e estes podem identificar a carga de onde saíram. Os
harmônicos são ondas senoidais, também em corrente e tensão, com
freqüências múltiplas, normalmente ímpares da freqüência da rede. A soma
destas novas e indesejáveis freqüências com a fundamental desconfigura
as ondas senoidais de tensão e corrente da rede elétrica, como mostra a
Figura 3.
Pergunta: Mas isto é muito complicado! Você está afirmando
que o nosso equipamento também cria sujeira?
Resposta: Exatamente. O nosso equipamento também cria
sujeira, lançando harmônicos na rede elétrica, que vão contaminar nossos
outros aparelhos do sistema e as
instalações à volta. Pode-se dizer que o harmônico está para o
eletricista como a erva daninha está para o jardineiro e para o
paisagista. O harmônico é o maior problema existente na alimentação de
equipamentos e é de difícil solução! No Brasil, então, este problema
está tomando um vulto assustador!
Figura 3 – As ondas senoidais de tensão e
corrente da energia elétrica sujas por harmônicos
Pergunta: De forma geral, que área cria mais harmônicos, a
residencial ou a industrial?
Resposta: Sem dúvida alguma é a área industrial, onde os
equipamentos pesados acabam infestando a nossa rede elétrica com
harmônicos.
Pergunta: Existe algum controle sobre estes harmônicos da
rede?
Resposta: Existe sim, mas apenas nos países de primeiro
mundo. Aqui no Brasil, em particular, há um projeto de norma que, no
entanto, ainda não foi aprovado. O problema é que, entre nós, nenhum
controle tem sido feito! Imaginem como anda a nossa rede! Lá fora, sim,
na entrada de energia de cada indústria, se mede quanta sujeira cada uma
delas está lançando na rede. E, caso os valores dos harmônicos estejam
acima da norma, se a indústria em questão não providenciar os filtros
necessários para abaixar rapidamente esses níveis que ultrapassam o
permitido, ela sofre penalidades!
Pergunta: O que estes harmônicos causam no som e na
imagem? O que piora?
Resposta: No som, eles fazem com que o acontecimento musical
se concentre exclusivamente nas caixas, ou seja, o som passa a sair das
caixas e o palco sonoro nem aparece, simplesmente inexiste! Na imagem,
as cores não se distinguem tão bem umas das outras, o negro fica mais
claro e o contraste diminui. Um outro problema, que os altos níveis de
harmônicos podem criar, é que os equipamentos passam a funcionar com uma
temperatura mais alta, ou seja, passam a esquentar mais do que
esquentariam se estivessem recebendo uma energia elétrica limpa, e com
isto sofrem uma considerável redução da vida útil.
Pergunta: Como é que estes harmônicos passam através da
fonte de alimentação dos aparelhos e aparecem na tensão contínua que vai
alimentar os circuitos eletrônicos? A tensão contínua não é pura?
Resposta: Quanto mais simples for a fonte de alimentação dos
aparelhos, menos harmônicos ela conseguirá filtrar e mais harmônicos
aparecerão no circuito eletrônico e, por conseqüência, também nas caixas
acústicas ou na imagem. Mesmo nos aparelhos mais sofisticados, a
filtragem dos harmônicos não é completa. Sempre passa algum resquício
destes harmônicos, mesmo em fontes de alimentação reguladas e isto se
torna audível no som ou visível na imagem. Os harmônicos de freqüência
mais baixa são os mais difíceis de serem retirados. O harmônico mais
baixo que existe é o de terceira harmônica, na freqüência de 180Hz
(3X60Hz=180Hz). Acontece que as fontes de alimentação geralmente são
projetadas para filtrarem 120Hz (o dobro da freqüência da rede) e
conseguem filtrar uma parte dos 180Hz, mas infelizmente muito ainda
passa. Após a terceira harmônica, as mais difíceis de serem filtradas
são a quinta (300Hz), a nona (540Hz) e a décima primeira (660Hz) e a
maioria dos aparelhos de filtragem não consegue retirá-las.
Pergunta: E a questão dos raios e transientes?
Resposta: Os raios são fenômenos atmosféricos que influem na
rede elétrica, mesmo quando caem apenas perto dos fios elétricos da
concessionária, sem necessariamente terem que incidir diretamente sobre
a rede. Causam picos de tensão chamados transientes que, vindo pelos
fios, via de regra, queimam os aparelhos. São fenômenos aleatórios,
muito prejudiciais aos nossos equipamentos e, portanto, precisamos nos
defender deles, introduzindo nos nossos sistemas elementos de proteção.
Porém, é preciso escolher com muito critério e cuidado o aparelho de
proteção que vamos utilizar, pois a maioria deles tem um efeito bastante
negativo: prejudicam o som e a imagem... dureza, não?! E o pior é que
muitos deles só agüentam o primeiro tranco e, no próximo, os seus
equipamentos também se queimam!
Conclusão
Começamos aqui a série de perguntas e respostas sobre
a problemática da energia elétrica no áudio e no vídeo, com as questões
mais básicas. Nos próximos artigos espero contar com a colaboração de
todos, tudo bem? Tragam suas perguntas sobre energia elétrica, pois
teremos prazer em respondê-las! Nosso e-mail é:
jorgeknirsch@byknirsch.com.br Em paralelo, vou procurar incluir as
principais perguntas que tenho visto nos sites e nas cartas dos leitores
de várias publicações, por aí afora.
Desejo a todos vocês aquela energia de qualidade,
desprovida de harmônicos e de transientes, para que possam desfrutar de
um som prazeroso e de uma imagem bastante convidativa, com excelente
palco!
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