O
Áudio e o Pinheiro
3.º Parte
Áudio
Jorge
Knirsch
Introdução
No artigo do mês passado, falávamos sobre o
processo de aprendizado auditivo, que ocorre principalmente ao nos
expormos à música “ao vivo” com certa assiduidade. Mencionamos o
quanto a nossa relação com o nosso próprio sistema pode ficar sofrida,
quando começamos a ouvir música “ao vivo”, justamente por constatarmos
a enorme diferença sonora existente entre o que temos ouvido em casa e
o som tocado “in loco”. E comentamos como muitos de nós acabam por
ficar bem desalentados, alguns chegam até a ficar tão baqueados que
têm a sensação de terem atingido “o fundo do poço”. Bem, se este é o
seu caso, quero lhe confortar, afirmando que a partir deste ponto em
que você se encontra só dá para melhorar, só dá para subir! Ânimo!
Vamos lá, coragem! Um grande e importantíssimo passo foi dado! O fundo
do poço foi atingido!! Vá em
frente! Este é o caminho!
Depois disto, mostramos que o mais importante,
embora muitas vezes difícil de se conseguir, é identificar o elo mais
fraco no nosso sistema. Em outras palavras, precisamos identificar
qual o equipamento, dentre todos, que possui a mais baixa pontuação em
termos de qualidade sonora e de imagem. Esta identificação pode ser
feita de duas maneiras: uma, por revistas especializadas, onde se pode encontrar avaliações dos equipamentos, através
de uma pontuação dada a cada um deles, e a partir daí verificarmos
qual, dentre os do nosso sistema, possui a menor pontuação. Como
normalmente não vamos encontrar todos os aparelhos que possuímos
mencionados numa única revista, torna-se necessário consultar várias
delas, para podermos completar a nossa lista, mas aí é preciso que
tomemos os cuidados necessários para adaptar os métodos de avaliação
de cada revista, a fim de tirarmos as conclusões corretas. Outra
maneira, um pouco mais trabalhosa, porém mais experimental, é tomarmos
emprestado, do nosso círculo de amizades, alguns aparelhos e
escutá-los em casa, já que agora os nossos ouvidos estão ficando cada
vez mais afinados com a música ao vivo! Um critério importante para
isto é escolhermos aparelhos de sistemas mais caros que o nosso e, no
caso do aparelho específico que queremos avaliar, escolhermos algum
que tenha de forma geral pelo menos o dobro do valor do nosso. Esta
regrinha, a meu ver, é fundamental!! (Infelizmente não existe mosca
branca por aí!) Por que afirmo isto? Porque quando uma revista faz uma
lista geral de pontuação de aparelhos, percebe-se que, para uma mesma
pontuação de qualidade sonora, existe uma diferença no preço dos
equipamentos de pelo menos duas vezes, senão mais, com relação ao de
menor valor para com o de maior valor. Vejam bem, estou afirmando que
isto ocorre para equipamentos de uma mesma pontuação sonora! Não estou
querendo vender o mais caro, estou simplesmente constatando o que
existe nas revistas especializadas, e isto
nada mais é do que um reflexo do mercado! Como estou supondo (e não
poderia ser diferente) que sempre procuramos fazer a melhor compra, ou
seja, que sempre compramos o aparelho mais barato da pontuação
considerada, o assim chamado “Best Buy”, temos que testar um outro
aparelho, com pelo menos o dobro do valor do nosso, para garantirmos
que estaremos subindo rumo ao topo do pinheiro, ou seja, em direção a
uma pontuação sonora mais alta! Este procedimento efetivamente nos
ajudará a darmos mais um passo a frente em termos de qualidade sonora
e de imagem!
© 2004-2008 Jorge Bruno Fritz Knirsch
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A
Compatibilidade entre Power e Caixa Acústica
Para exemplificar, como já havia comentado anteriormente, pretendemos
analisar aqui com vocês alguns aparelhos que foram agrupados num mesmo
nível de qualidade sonora, segundo uma avaliação feita pela revista
alemã AUDIO em maio/2002. Como estaremos tomando dois tipos de
aparelhos muito inter-relacionados entre si, os amplificadores de
potência (powers) e as caixas acústicas, faz-se necessário
analisar primeiro a questão da compatibilidade entre eles. Sabem por
que? É que nem todo power toca toda caixa acústica, assim como
nem toda caixa é bem tocada por qualquer power. Pretendo explicar
esse aspecto um pouco melhor, já que certas revistas especializadas
internacionais fazem alguns gráficos a respeito deste assunto e a
maioria de nós não entende bem o que eles significam.
Observem a figura apresentada, onde aparecem quatro
gráficos: os dois de cima referentes a dois amplificadores de potência
e os dois de baixo, referentes a duas caixas acústicas. São desenhos
tridimensionais, onde o eixo das abscissas, também chamado de eixo do
x, representa a defasagem entre a corrente e a tensão que o
power fornece a uma carga (nos gráficos de cima), ou a defasagem
que a caixa solicita do power (nos dois gráficos de baixo).
Pode-se observar que este eixo das abscissas varia entre –60 e +60
graus. No eixo das ordenadas, ou eixo do y, é colocada a
impedância da carga que, nesta figura, pode variar de 2 a 8 Ohms. E no
eixo z, é colocada a tensão máxima que o power pode dar a uma
determinada carga para uma dada impedância e uma dada defasagem (nos
gráficos de cima), ou é a tensão máxima que a caixa pode receber de
um power, sem saturar (nos gráficos de baixo). Espero que na
figura isto seja legível. Não cabe
explicar aqui como esta curva, muito importante para os amplificadores
de potência, é realizada em laboratório, pois sairia do escopo deste
artigo e se tornaria algo muito técnico e enfadonho. Quero apenas
apresentar estes gráficos, que têm forma de paralelepípedo e que são
muito divulgados por revistas internacionais, principalmente pela
AUDIO alemã, para mais adiante
introduzir um parâmetro muito interessante, que ela definiu
com exclusividade, denominado AK.
Os dois gráficos de cima na figura representam a
potência máxima que um power pode dar às cargas mais difíceis
de serem tocadas, sem distorcê-las (cargas com menor impedância e
maior defasagem, oriundas das caixas acústicas). Quanto mais planos
forem estes gráficos e quanto maior tensão apresentarem, melhores
serão os powers, isto é, maior será o número de caixas
acústicas difíceis que estes powers poderão tocar.
Nesta figura aparecem quatro gráficos
tridimensionais, onde os dois de
cima se referem a dois amplificadores de potência: um Krell à esquerda e
um Sherwood à direita e os dois
de baixo são referentes a duas caixas acústicas: a da esquerda é uma Infinity e a da direita é uma
JM Lab. Estes gráficos se destinam à
verificação de compatibilidade entre os
referidos aparelhos.
Muitos audiófilos crêem ser possível estabelecer
critérios de compatibilidade entre uma caixa e um power,
considerando a sensibilidade da caixa e o fator de amortecimento do
power. Estes parâmetros, já definidos, infelizmente não dizem nada a respeito da
defasagem do power, nem da caixa e, portanto, não permitem
definir a compatibilidade no seu todo. Somente através destes gráficos
que estamos agora apresentando aqui, que já têm sido utilizados pela
mídia internacional há algum tempo, é possível se obter uma resposta
satisfatória.
Mas como os deveremos interpretar, para sabermos se
um dado power toca uma determinada caixa acústica? Em outras
palavras, como poderemos saber se existe compatibilidade entre ambos?
Simplesmente sobrepondo os dois gráficos, do power e da caixa acústica,
para verificarmos se alguma parte do gráfico da caixa acústica se
sobressai à curva do power ou não. Se nenhuma parte se
sobressair, ou seja, se a curva do power encobrir totalmente a
curva da caixa acústica, poderemos afirmar que ambos são compatíveis
entre si!! Caso contrário, não haverá completa compatibilidade! Vejam,
na figura, que o power Krell encobre as duas caixas apresentadas, mas o
power Sherwood encobre apenas a caixa Infinity.
Já falamos que este tipo de gráfico é apresentado por
muitas revistas especializadas. O problema é que estas revistas deixam
para o leitor o exercício da sobreposição gráfica, para que ele mesmo
tire as suas próprias conclusões, o que muitas vezes não é tão fácil. A
revista alemã AUDIO, no entanto, considerando esta dificuldade que o
leitor poderia encontrar, criou com exclusividade, um parâmetro de
compatibilidade, justamente baseado neste tipo de gráfico, e o denominou
“AK” (=AUDIO-Kennzahl, traduzindo: parâmetro técnico-auditivo de
compatibilidade). Assim, toda vez que o AK do power for superior
ao da caixa acústica, isto significará que existe compatibilidade entre
estes dois aparelhos. O parâmetro “AK” teoricamente vai de 0 a 100. Na
prática, temos que quanto maior o AK de um power, maior também
será a sua possibilidade de compatibilidade com várias caixas. Não é
interessante? Um dia, quem sabe, as revistas nacionais possam apresentar
análises técnicas semelhantes. Mas o importantíssimo aqui é mencionar que o
AK não diz
absolutamente nada a respeito da qualidade sonora do referido aparelho,
muito menos da qualidade sonora do conjunto como tal. Não existe nenhuma
correlação entre o AK e os pontos de qualidade sonora! Porém, a
AUDIO
alemã garante que a análise de compatibilidade realizada através do AK é
bem segura. Digamos que um power tem um AK=57 e que uma dada
caixa acústica, um AK=64. Se ambos estiverem tocando juntos, estes
AK
vão indicar apenas que os dois aparelhos não são compatíveis entre si,
podendo portanto surgirem distorções audíveis em algumas regiões do
espectro de freqüências, como também poderá acontecer do conjunto
apresentar baixa dinâmica e baixa resolução. Porém, ambos os aparelhos
poderão ter recebido altos pontos na qualidade sonora e, se assim for,
embora não sejam compatíveis entre si, tocarão muito bem com outras
caixas e com outros powers , havendo compatibilidade.
A Metodologia
Como já comentava no primeiro artigo desta série,
assino várias revistas especializadas. A mais renomada delas é, sem
dúvida, a THE ABSOLUTE SOUND MAGAZINE, do Harry Pearson. Assino
também a AUDIOphile, AUDIO e a Stereoplay, revistas
alemãs e a Stereophile americana também. E, de vez em quando, compro ainda algumas revistas nas bancas
como a HI-FI CHOICE, entre outras. Todas elas têm metodologias
diferentes para testar equipamentos. O interessante é que, quanto mais a
sistemática usada por uma revista se torna precisa e coerente, mais lida
esta revista começa a ficar e mais criticada também! Todas as
metodologias, porém, não deixam de ser subjetivas, porque em parte
dependem dos revisores. No entanto, dentre todas elas, a que mais me
agrada, por considerá-la a mais neutra, é a pontuação feita pela revista
alemã AUDIO. Esta revista possui uma sala padrão, com os melhores
equipamentos existentes na atualidade. O valor total desta sala, hoje, é
algo em volta de alguns milhões de dolares e os testes feitos ali estão sob
a responsabilidade de uma equipe de revisores auditivamente
qualificados. Eles testam individualmente cada aparelho, nesta sala
padrão, e dão notas para cada característica sonora que avaliam. A
pontuação final é obtida pela média das notas que cada característica
sonora recebeu. Além disso, esta revista possui a maior lista de
aparelhos testados que conheço e faz questão de atualizá-la todos os
meses, algo que gira em torno de mais de 1000 aparelhos testados!
Pessoalmente, considero que todas as revistas idôneas têm
seus pontos fortes e penso que todas elas deveriam ser consideradas na
hora de uma análise para uma possível compra, o que nos ajudaria
bastante a reduzir a possibilidade de erro.
Antes de entrarmos nos pontos da qualidade sonora,
vou lhes mostrar as diferenças que existem entre duas metodologias da
Áudio & Vídeo e a
realizada pela revista AUDIO alemã. Essas diferenças precisam ser
esclarecidas para podermos nos situar com clareza e entendermos melhor a
análise que será feita a seguir. São dadas notas para as várias
características sonoras do aparelho que está sendo avaliado e depois a
somatória destas notas é que vai colocar o aparelho em uma dada
categoria.
Vamos primeiro colocar quais são as características
sonoras que são avaliadas e quais as que a revista alemã adota para as suas
avaliações. A metodologia nacional abrange oito características, enquanto a
alemã, somente cinco. São elas:
Características
Sonoras
Áudio & Vídeo |
AUDIO |
|
|
Equilíbrio
Tonal |
Neutralidade |
Textura |
|
Organicidade |
|
Musicalidade |
|
Transientes |
Precisão |
Dinâmica |
Dinâmica |
Palco Sonoro |
Palco Sonoro |
Corpo Harmônico |
Fundamento do
Grave |
A revista alemã tem um método mais simplificado, onde
o equilíbrio tonal, a textura, a organicidade e a musicalidade estão
todos englobados na mesma característica de neutralidade. É necessário
entender as características de cada revista em detalhe. As outras características
são mais ou menos correlatas. Talvez um dia, quem sabe, sonhar é
permitido, exista a possibilidade de termos uma metodologia única para
todas as revistas, como já se comentou, há meses atrás, na THE ABSOLUTE
SOUND MAGAZINE. Hoje isso ainda é uma utopia! Mas quem sabe?!... O
futuro dirá!
A cada característica sonora, a revista nacional atribui
uma nota, que vai até 10 (dez), e a revista alemã até 100 (cem). Além
disso, as duas revistas não excluem a possibilidade de, em casos
especiais, poderem dar uma nota acima destes valores citados, devido a
certa melhoria significativa em alguma das características sonoras, pelo
desenvolvimento tecnológico dos aparelhos. Isto também se justifica,
para manter a coerência de tudo aquilo que tem sido feito através das
avaliações realizadas até o momento. Após algum tempo, as escalas acabam
ficando obsoletas e precisam ser novamente re-alinhadas e é isto o que
acontece. Na revista AUDIO, as notas de cada característica são sempre
múltiplas de cinco, de forma que, da média destas nota, se obtém a nota
global do equipamento, que será, portanto, sempre um número inteiro.
Como uma ou mais características podem apresentar uma nota acima de 100,
a nota final do aparelho também poderá ficar acima deste valor. No caso
da revista nacional, faz-se a soma das notas das características, de forma
que a nota global máxima, dada para um equipamento,
poderá ficar no máximo em 80 pontos, uma vez que são oito
características sonoras. O fato de que não é possível chegar a 100
pontos pode atrapalhar a análise.
Os equipamentos, com pontos globais, são divididos
pela revista nacional em quatro categorias e pela revista AUDIO alemã em
seis classes. Abaixo apresentamos uma tabela que mostra melhor essas
diferenças:
A Divisão dos
Equipamentos
Áudio&Vídeo |
AUDIO |
Categorias |
Classes |
|
|
|
Referência
(acima de 91) |
Diamante (de 74
a 80) |
de Ponta (de
76 a 90) |
Ouro (de
62 a 72) |
Superior (de
61 a 75) |
Prata (de
44 a 60) |
Média (de
31 a 60) |
Bronze (de
31 a 40) |
Padrão (de
16 a 30) |
|
Inferior
(de 0 a 15) |
Eis aí descritos os dois sistemas de avaliação!
Alguém poderá perguntar: qual deles é o mais indicado? Como resposta,
poderemos dizer que cada um tem as suas virtudes, seus pontos fortes e
que também ambos são passíveis de erros, como tudo o que é avaliado
subjetivamente. Sou de opinião que o que traz maior vantagem ao leitor é
poder analisar e considerar o que cada revista tem de bom, não somente
levando em conta estas revistas que temos mencionado, mas também todas
aquelas às quais o leitor se identifica e tem acesso e, a partir daí,
que ele possa tirar as suas próprias conclusões, para em seguida tomar
uma decisão mais coerente e acertada para o seu próprio sistema. Entre
estas duas revistas acima mencionadas é necessário ressaltar o
investimento gasto pela revista alemã nos equipamentos e na sala
tratada, cujas fotos saem em todas as edições.
Os Pontos da
Qualidade Sonora
Bem, vamos agora fazer uma análise de algumas caixas
acústicas e powers, pertencentes a um mesmo nível de qualidade
sonora. Para isto, vamos retirar um exemplo da revista alemã, onde
queremos mostrar como poderemos fazer boas combinações entre estes dois
grupos de aparelhos.
Na publicação de maio/2002, a revista AUDIO apresentou como nota máxima para sua avaliação de qualidade
sonora (QS), para as caixas acústicas, 104 pontos e para os powers,
130 pontos. Esta alta pontuação dos powers foi devida aos fortes
avanços tecnológicos ocorridos nos últimos anos com relação a estes
aparelhos. Para este nosso exemplo, a fim de que pudéssemos comparar
algumas caixas acústicas e powers, pertencentes a um mesmo nível
de qualidade sonora, tomei o grupo de 80 pontos de qualidade sonora (QS)
para as caixas acústicas e o de 100 pontos para os powers, de
forma que os dois grupos escolhidos pudessem estar no mesmo nível
relativo, apesar de, neste caso, estarem em classes diferentes, devido à
pontuação máxima dos powers estar muito acima. Os preços foram
publicados já na nova moeda, o euro europeu.
Caixas Acústicas:
Caixa |
Preço |
AK |
QS |
|
|
|
|
Canton Karat M 80 |
1800 |
54 |
80 |
Elac 512 |
2000 |
69 |
80 |
Isophon Galileo |
2300 |
71 |
80 |
JM Lab Electra 906 |
1790 |
60 |
80 |
Tannoy D-900 |
5100 |
34 |
80 |
Thiel MCS 1 |
6800 |
55 |
80 |
Visonik Concept 5 |
2600 |
61 |
80 |
Powers:
Aparelhos |
Preço |
AK |
QS |
|
|
|
|
Aloia ST 13.01 |
2900 |
60 |
100 |
Kora Titan |
5000 |
59 |
100 |
Krell HTS |
12000 |
79 |
100 |
MBL 8010 C |
3500 |
66 |
100 |
Octave M 100 |
5800 |
49 |
100 |
T+A A 1520 |
1900 |
69 |
100 |
TAG McLaren
100 x 5 R |
4500 |
71 |
100 |
Observem atentamente a tabela acima e vejam a loucura
destes dados! Apesar de todos estes aparelhos terem recebido a mesma
pontuação sonora, isto não quer dizer que soem absolutamente iguais.
Pode haver diferenças em uma ou até em várias características, porém
como todos tiveram a mesma nota final, foram alistados no mesmo nível de
qualidade sonora. Vamos colocar a seguinte questão: qual seria a
combinação mais correta e mais barata entre as caixas acústicas e os
powers apresentados, para que pudéssemos escolhê-los e fazer um
teste de audição na nossa sala? Vamos fazer uma análise mais
aprofundada, pois queremos chegar a uma conclusão correta e a uma
resposta coerente. Em primeiro lugar, quero dizer que o fato da
quantidade de powers e de caixas acústicas ter sido a mesma, na
listagem da AUDIO, para este nível de qualidade sonora, isto foi pura
coincidência. Não é regra. Aliás, é uma exceção. Mas esta coincidência
não invalida a nossa análise, bem ao contrário, torna o nosso bate-papo
mais abrangente! Vamos iniciar, observando os preços das caixas
acústicas. A caixa mais barata é a JM Lab Electra 906, que custa 1.790 euros,
logo seguida pela Canton Karat M 80, com valor quase igual, ou seja,
1.800 euros. A caixa mais cara é a Thiel MCS 1, custando 6.800 euros,
um fator cerca de 3,8 vezes maior. Notem que todas estas caixas
apresentam os mesmos 80 pontos de qualidade auditiva! Vocês estão
percebendo que a caixa mais cara deste nível sonoro custa 3,8 vezes mais
o que custa a mais barata do mesmo grupo? Isto não é impressionante?!
Observem que ambas apresentam o mesmo resultado auditivo! Alguém poderá
perguntar, somente por curiosidade, qual seria o valor da caixa mais
barata do próximo nível auditivo. Vamos ver o próximo nível, que aparece
na tabela da revista AUDIO, relaciona aparelhos que obtiveram 81 pontos
de qualidade sonora. A minha experiência, no entanto, tem mostrado que é
preciso subir pelo menos três pontos nesta escala, para que possamos
perceber alguma diferença sonora significativa. Seguindo este
raciocínio, vamos verificar quanto custaria, então, lá no nível sonoro
dos 83 pontos, a caixa mais barata? A tabela mostra que esta próxima
caixa, a Triangle Ventis XS, está custando 3100 euros, ou seja, ela é
1,73 mais cara do que a caixa JM Lab Electra 906, de 1.790,00.
Foi assim que, tendo realizado esta mesma análise
inúmeras vezes, tomando os vários grupos de pontuação sonora, cheguei a
esta conclusão: como regra geral, o novo aparelho que eu tiver que
comprar deverá custar em média o dobro do valor daquele que eu quero
substituir, para que eu não tenha nenhuma frustração nesta nova compra e
para que eu realmente possa subir um pouco mais, rumo ao topo do
pinheiro.
Vejamos a mesma análise para os powers, onde a
situação ainda é mais crassa: O power mais barato deste nível é o T+A A
1520, custando 1.900 euros, e o mais caro é o Krell HTS, de 12.000 euros,
portanto com um valor 6,3 vezes maior. Vocês viram que diferença enorme!
E o próximo nível da listagem da AUDIO já apresenta 105 pontos, onde se
constata que o aparelho mais barato custa 5.000 euros, ou seja, um fator
1,63 maior. Portanto, o nosso critério de substituir um aparelho por
outro, que custe pelo menos o dobro do valor do anterior, é um critério
até modesto, em direção à conquista do menor up grade possível de
se fazer. Percebam contudo que, mesmo com todo este zelo, este critério
não nos oferece total garantia de resultado, pois ainda poderemos
permanecer no mesmo nível! Seria preciso acrescentar aqui a preciosa
avaliação de um ouvido afinado e auditivamente mais amadurecido para nos
dar a última palavra! Para piorar a situação, temos que considerar que
nem todos os aparelhos são compatíveis entre si!
Vamos, portanto, analisar agora a compatibilidade,
através do parâmetro AK. Pergunto: existe, neste exemplo, algum power
que não consiga tocar alguma caixa específica? Sim, o power Octave M 100 que, com um
AK=49, não consegue tocar nenhuma das caixas, a
não ser a Tannoy D-900, que tem um AK=34, ou seja, a única caixa que tem
um AK menor do que o deste power. Temos também o power
Kora Titan, (AK=59), que não consegue tocar as caixas Elac 512, (AK=69), Isophon Galileo, (AK=71),
JM Lab Electra 906, (AK=60) e Visonik Concept
5, (AK=61). E assim nós poderíamos continuar a análise com cada power.
O único power que toca todas as caixas é justamente o mais caro
(digo que, neste caso, coincidiu de ser o mais caro) que é o Krell HTS e
que apresenta um AK=79. Bem, finalizando, dentre estas opções, qual a
combinação que deveríamos escolher e levar para ouvir em nossa casa?
Neste exemplo aqui apresentado, os dois aparelhos mais baratos são
compatíveis entre si, ou seja, a caixa JM Lab Electra 906, (AK=60) e o
power T+A A 1520, (AK=69), onde gastaríamos um total de 3.690
euros. Uma segunda opção seria tomarmos a caixa Canton Karat M 80, (AK=54)
e o power Aloia ST 13.01, (AK=60), o que corresponderia a um
valor total de 4.700 euros. E aí desfrutaríamos de uma bela
audição! Que tal?!
Conclusão
Neste artigo, mostramos aspectos importantes para se
fazer uma escolha coerente de equipamentos e analisamos especificamente
como fazer uma boa escolha entre power e caixas acústicas. Vimos
que, como estes dois aparelhos estão muito inter-relacionados, se torna
importante verificarmos logo de início se há ou não compatibilidade
entre eles, antes de pensarmos em combiná-los entre si. Vimos também
como a análise da compatibilidade é feita lá fora, com que base técnica,
e como ela é obtida pelo leitor, através da sobreposição dos dois
gráficos de tensão-impedância-defasagem dos powers e das caixas
acústicas. A partir daí, a fim de exemplificar, escolhemos uma revista
especializada em áudio, de renome internacional, a revista AUDIO alemã.
Procuramos discutir a metodologia desta revista em relação a uma revista
nacional, a
fim de que pudéssemos entender a linguagem de cada uma para, então,
estarmos em condições de fazer comparações válidas, a partir de tudo
aquilo que elas nos apresentam e chegarmos a conclusões corretas.
Para que esta nossa análise não perdesse a coerência,
tomamos como exemplo algumas caixas acústicas e powers, avaliados pela
revista alemã como pertencentes a um mesmo nível de qualidade sonora. O
nosso objetivo, com este exercício, foi chegar a descobrir a melhor
escolha que poderíamos fazer, dentre as várias combinações possíveis,
entre estas caixas acústicas e powers arrolados. Desta análise, também
resultaram as combinações que não seriam recomendáveis para este caso.
Espero, com tudo isto, ter conseguido demonstrar que
trocar “6” por meia dúzia não vale a pena. É perda de dinheiro e tempo!
Portanto, cuidado! Num futuro up grade, levem em conta o preço do
aparelho a ser adquirido, considerando o valor que vocês já gastaram com
aquele aparelho que agora pretendem substituir. Recomendo-lhes que o
novo aparelho tenha pelo menos o dobro do valor do antigo. Mas façam
isto com muito critério, pois o risco de fazer uma má escolha ainda
continua alto! Não tenham pressa para decidir. Procurem se informar o
melhor possível. (Vejam também a venda de usados do mercado)
Embora toda esta análise aqui seja passível de
crítica, creio que a grande arte é conseguirmos nos posicionar,
refletindo em cima destas idéias e posturas, com o intuito de
edificarmos e otimizarmos os nossos sistemas. O nosso desejo é tornar os
nossos sistemas cada vez mais prazerosos e também que eles possam se
tornar modelos para outros! Nós, leitores, só teremos a ganhar,
melhorando as nossas compras e orientando melhor a indústria do áudio!
Aquele abraço a todos vocês!! Ótimas audições!! E até a próxima!
Coloco meu e-mail à disposição
de vocês: jorgeknirsch@byknirsch.com.br
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