Cabos: Uma Complexidade
Eletromagnética
1º Parte
Elétrica
Jorge
Knirsch
Introdução
Haja
discussão fértil e difícil, quando o assunto em pauta se concentra nos
cabos! Dentre os quatro cantos do universo dos amantes do áudio e da
boa música, as opiniões são as mais diversas e divergentes possíveis:
enquanto alguns não dão muita importância aos cabos, outros já estão com
sérias dúvidas a respeito da influência que eles possam ter, e outros,
apesar de terem opiniões formadas, são bem contraditórios entre si
quanto ao que pensam ser um bom cabo e quanto ao grau de importância que
ele possa ter no sistema. E há ainda os que defendam fervorosamente a
tese de que os cabos têm uma marcante influência na qualidade do som e
da imagem. Afinal de contas, onde está a verdade nesta estória toda?
Proponho-me, nestes três artigos, a compartilhar a minha experiência,
associando-a à teoria eletroeletrônica, onde vamos levantar uma tese
quanto à real influência dos cabos em um sistema de áudio e vídeo. Vamos
analisar o que ocorre nos sistemas desde a base até o topo do pinheiro.
Como vocês já devem ter
percebido, sou um apaixonado pelo áudio/vídeo. Gosto demais deste campo,
por ser ele tão abrangente e interessante. Ele vai nos envolvendo nas
áreas elétrica e eletrônica dos equipamentos, onde também nos deparamos
com a problemática do eletromagnetismo, nos envolve na acústica, que é
uma área profunda e apaixonante, na física de forma geral, na influência
das vibrações junto aos alto-falantes e também no efeito das vibrações
do solo sobre os equipamentos. Podemos ir além e entrar na questão das
sensações auditivas, nos efeitos psico-acústicos, abordando até aspectos
da área médica, etc. De fato, o áudio é bastante complexo, abrangente e
atraente. Neste artigo, pretendo trazer as minhas considerações a
respeito de um assunto bastante polêmico: o efeito dos cabos nos
sistemas de áudio e vídeo.
© 2004-2014 Jorge Bruno Fritz Knirsch
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Todos têm Razão
Entre as várias opiniões a
respeito de cabos, três grupos se destacam. Um deles acha que os cabos
não têm nenhuma influência no resultado sonoro ou na qualidade da
imagem. Este grupo, sem dúvida alguma, é o maior de todos, com larga
vantagem sobre os outros dois. Inclusive é tão grande que, somente há
poucos anos, renomadas revistas internacionais de áudio e vídeo
começaram a analisar melhor esta questão e a conferirem maior
importância aos cabos no resultado final de um sistema. Um segundo
grupo, muito menor do que o anterior, já percebeu alguma influência em
pelo menos um dos tipos dos diversos cabos existentes (cabos de
interconexão, cabos para caixas acústicas, cabos digitais, ou cabos de
força), mas essas pessoas estão inseguras nesta questão, pois percebem
alguma variação sonora, mas não têm uma explicação técnica razoável para
o fenômeno. E há um terceiro grupo, o menor de todos, que reconhece uma
enorme influência, tanto na parte sonora como na imagem. Este grupo
normalmente tem sistemas de categorias mais altas. Chegam a considerar
esta influência tão grande, como se ela equivalesse à troca de algum
aparelho do sistema por um outro de nível superior. Como explicar todo
este desencontro de opiniões?
Uma das razões é que, ainda
hoje, apenas um pequeníssimo grupo de fabricantes realmente domina a
tecnologia da confecção de bons cabos, como já havíamos relatado na
nossa série “O Topo do Pinheiro” , que brevemente também sairá no
nosso site, onde nos baseamos em informações retiradas da revista
AUDIO alemã. Estes fabricantes investem em pesquisa, mas... guardam
seus resultados a sete chaves, fazendo um marketing muito vago e pouco
esclarecedor quanto à parte técnica dos seus produtos.
E que outras razões poderiam
explicar o fato do grande público ter opiniões tão divergentes a
respeito da influência qualitativa dos cabos?
Se analisarmos, de forma
abrangente, as conclusões a que chegam os três grupos acima mencionados,
vamos perceber que todos têm razão no que falam. A experiência de cada
um pode comprovar este fato. Ninguém está se equivocando
deliberadamente. Todos têm razão e estão corretos em suas conclusões
e afirmações!
O grande problema está em
que as premissas de cada um são tão diferentes, envolvendo inúmeros
tipos de equipamentos, sistemas, salas, elétrica, existindo uma
diversidade muito grande entre eles. E isto traz os diferentes
resultados nas avaliações finais. Como a maioria acha que está com um
equipamento de nível já bem razoável, que seu sistema é um bom sistema,
apesar de não ser o “super ideal”, mas com uma composição de aparelhos
já respeitável - e isso tudo por uma barganha, vejam só! – estas pessoas
emitem opiniões desencontradas, sem se dar conta de que o seu
equipamento está participando de uma forma desconhecida e muito ativa
nesta avaliação pessoal. Vou lhes dar um exemplo bem geral, para vocês
terem uma idéia de como isto ocorre.
Vamos
considerar dois cabos, que podem ser de interconexão, ou de caixas
acústicas, ou cabos de força, qualquer um deles, onde o cabo A custa por
volta de US$ 100,00 o metro e o cabo B em torno de US$ 1000,00 o metro.
É sabidamente conhecido que, entre os dois, o cabo B é superior. Por
que? Devido à sua maior linearidade (equilíbrio tonal), pois reproduz
todas as freqüências de forma equilibrada e por igual. Esta
característica, aliada a outras, não tão marcantes, mas importantes
também, faz dele um cabo muito bom. Mas o cabo A já não apresenta esta
mesma planidade na reprodução sonora, pois lhe faltam os extremos, ou
seja, ele não apresenta o espectro completo nas altas e baixas
freqüências, sendo, como chamamos de um cabo “fechado”.
Muito bem, vamos aos testes!
Teste número 1: vamos
supor que um audiófilo amigo nosso vai testar estes dois cabos no seu
sistema. Vamos dizer que está se tratando de um sistema pertencente à
categoria bronze, ou prata de entrada, que tem falta na reprodução das
baixas freqüências, ou seja, se nota que há falta das freqüências mais
graves. Vamos supor também que este sistema possua um bom receiver, mas
que o nosso amigo ainda não se deu conta que o seu receiver apresenta um
equilíbrio tonal onde as altas freqüências se sobressaem, ou seja, ele
não sabe que este receiver metaliza o som. Agora o nosso amigo vai fazer
o teste auditivo com os dois cabos em questão e comparar o resultado
sonoro apresentado por cada cabo. Monta primeiro o cabo A, que é mais
“fechado”. Como resultado auditivo, constata que a parte referente às
altas freqüências ficou muito boa, quase excelente! E, com isso, o
equilíbrio geral melhorou! Por que? É que, neste caso, ocorreu uma certa
compensação entre o cabo mais “fechado” e o receiver com os agudos mais
ressaltados. Ao montar o cabo B, que é mais plano, percebe que o
resultado sonoro fica aberto demais e conclui que o cabo B é muito
aberto, podendo chegar mesmo a ser estridente na parte das altas
freqüências. Quanto à parte das baixas freqüências, não consegue ouvir
nenhuma grande diferença que valha a pena assinalar, devido à limitação
geral do seu sistema. E este nosso amigo audiófilo, então, acaba
considerando o cabo A mais musical e, apesar de não ser tão nítido como
o cabo B, vai preferir ficar com o cabo A. Além do mais, é um cabo muito
mais barato! Este nosso amigo não percebe que o problema está no
receiver e não no cabo. Mas ele ainda não se deu conta disto e pode até
concluir que o cabo mais caro (B) é uma pura enganação pois, a seu ver,
ele não tem melhor som do que o cabo A. Este audiófilo entrou por um
galho do pinheiro, uma vez que o seu elo mais fraco é o receiver e, no
entanto, ele está procurando melhorar seu sistema trocando os cabos!
Nada a ver! Vejam só a confusão que se estabeleceu neste nosso exemplo!
Ele vai gastar muito dinheiro, tentando melhorar seu resultado sonoro,
permanecendo no galho do pinheiro, até descobrir que, para voltar ao
tronco e poder continuar subindo em direção ao topo do pinheiro, terá
que fazer um “up grade” do receiver. E este exemplo é, infelizmente,
muito mais comum do que se pode imaginar! Vejam como cada um de nós
precisa tomar muito cuidado com as experiências que realiza, para não
incorrer em conclusões duvidosas. Por isso, sou de opinião que, se você
não tiver um sistema pelo menos da categoria ouro de entrada ou diamante
para fazer os seus testes, ou se você não tiver uma literatura
confiável, com revistas e magazines especializados em áudio/vídeo, deve
evitar chegar a conclusões baseadas apenas em seu sistema. Você poderá
estar chegando simplesmente a conclusões totalmente equivocadas! E se
você não questionar suas conclusões, essas suas “verdades”, infelizmente
você não sairá deste galho tão cedo!
Teste número 2:
imagine agora outro audiófilo, testando os dois cabos em seu sistema, e
que tenha um receiver com um melhor equilíbrio tonal. Chegará a uma
conclusão totalmente diferente pois, ao testar o cabo A, o som ficará
muito “fechado” e mais “escuro” e, com o cabo B, o som se abrirá e, como
um todo, ficará mais equilibrado tonalmente. Este audiófilo vai achar o
cabo B muito melhor do que o cabo A, mas... ai como ele é caro! Esta é a
coerência dos fatos!
Imaginem agora uma troca de
idéias entre estes dois audiófilos. Dois cabos de áudio e duas opiniões
bem diferentes. Quem tem razão? Evidentemente os dois estão certos, cada
um com sua análise particular e com suas premissas dos seus sistemas,
ambos procurando melhorar o seu som. Um deles está chegando à ponta de
um galho (sem saída) e o outro está indo ao topo do pinheiro. Vejam só
como são as coisas!
Quando as Diferenças começam a ser
Audíveis
Nos cursos de percepção
musical muitas vezes são mostradas as diferenças entre cabos, sejam eles
de interconexão, de caixas acústicas, digitais ou cabos de força.
Recomendo que vocês realizem estas comparações entre cabos, para que
possam aprimorar sua percepção auditiva. E, ao contrário do que eu
pensava no início da minha audiofilia, a percepção auditiva não é algo
inteiramente inato, precisa ser apreendida e desenvolvida. Se você
participar de cursos, ou fizer comparações em sistemas de topo, se
inteirar de uma metodologia e a estudar cuidadosamente, verá que, ao
longo do tempo, seu discernimento para as avaliações musicais melhorará
muito, adquirindo maior precisão. Um exemplo grosseiro é a melhoria na
capacidade de percepção de variações de pressão sonora. Uma pessoa sem
treino auditivo consegue perceber variações em torno de 3dB e, ao longo
do tempo, treinando seu ouvido, vai conseguir captar diferenças
auditivas de até em torno de 0,1 dB e isto ainda selecionado por
freqüência. Portanto, sem dúvida alguma, é necessário aprender a ouvir
música, pois como fala um provérbio alemão: “A Prática faz o Mestre”
(Die Übung macht den Meister!).
Falo isso porque, alguns
colegas têm certas dificuldades de perceber algumas diferenças auditivas
entre os cabos, provavelmente por simples falta de treino e por falta da
prática de ouvir música ao vivo, o que recomendo fortemente a todos.
Como vocês puderam perceber,
as diferenças de cabos só deverão ser analisadas quando o seu sistema já
tiver atingido um certo nível, já com um excelente equilíbrio tonal e
também quando você já tiver desenvolvido uma acuidade auditiva razoável.
É bom lembrar que existem,
nas várias metodologias de classificação de equipamentos, muitas
categorias. Uma delas seria, a saber: bronze, prata, ouro e diamante.
Sou de opinião que, somente a partir da categoria prata recomendada, os
cabos começam a ser importantes, devido à influência auditiva que
poderão ter no sistema, sendo que na categoria diamante passam a ter um
peso muito grande, inclusive sendo decisivos na avaliação final do
sistema.
Conclusão
Iniciamos
aqui a análise da influência dos cabos sobre um sistema de som,
mostrando, de início, algumas das razões para as opiniões tão
desencontradas que constatamos no nosso meio. Como vimos, é muito
difícil de se avaliar cabos. É preciso que o nosso sistema seja de alto
nível, diria na categoria ouro ou diamante, para que as nossas
conclusões sejam aceitáveis e coerentes. De outra forma, deveremos no
mínimo especificar os componentes do sistema em que os cabos foram
avaliados, juntamente com a conclusão a que chegamos, para não
cometermos erros grosseiros.
Nos próximos artigos, vamos
entrar um pouco na tecnologia dos cabos, para desvendar o que está por
trás de tanto mistério. Com certeza não são apenas dois ou três
fiozinhos entrelaçados, correndo ali por dentro, e pronto!
Coloco meu e-mail à disposição
de vocês: jorgeknirsch@byknirsch.com.br
Uma
excelente audição a todos, aquele abraço e até lá!!
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