O
Áudio e o Pinheiro
2.º Parte
Áudio
Jorge
Knirsch
Introdução
Após
todas aquelas brincadeiras, que fizemos no nosso último artigo, sobre as
diversas “espécimes raras” dos amantes do áudio e vídeo, entre as quais
havíamos mencionado aqueles que conseguem ouvir variações timbrísticas
do mugido do boi etíope nas casas dos amigos (os do tipo “audiófilo
entendedor”), pessoas essas muito em voga atualmente, ou brincávamos com
aqueles que, convictos de “finalmente terem feito a aquisição
definitiva”, após um tempinho de nada já estão impulsivamente se
enveredando a uma nova troca de aparelho... (os do tipo “audiófilo
trocador”), espécime que, de rara aparição, já está passando a ser
praga, pois é a classe que mais cresce hoje no mundo do áudio e do vídeo
no globo todo. Queremos agora neste artigo enfatizar que cada um de nós
precisa urgentemente definir para si mesmo o objetivo que quer alcançar
na reprodução do som e da imagem. E se você se determinou a chegar o
mais próximo que puder do topo do pinheiro, continue esta leitura, pois
acho que poderemos ajudá-lo a seguir o caminho mais curto entre os
vários possíveis (pois, como diz o ditado: todos os caminhos levam a
Roma). Caso contrário este artigo não lhe será útil, uma vez que poderá
mudar suas certezas e verdades, deixando-o sem sustentação e aí a sua
posição na copa verde do pinheiro poderá vir abaixo! Não é este o nosso
objetivo aqui! Só pretendemos ajudá-lo a aproximar-se do topo do
pinheiro de uma forma mais segura e econômica, do que aquela que
percorremos nestes 25 anos de áudio, poupando-o de certos percalços que
enfrentamos ao longo do tempo, muitas vezes ingênuos e malfadados.
Evidentemente, para isso, será necessário um forte querer da sua parte,
senão tudo será por nada! A vontade própria move montanhas e elimina
obstáculos!
Definido o objetivo de cada um, teremos que
fixar um plano para conhecermos a música “ao vivo”, pois somente através
deste conhecimento conseguiremos um referencial auditivo confiável que
orientará nossos passos futuros. É importante, fundamental mesmo, que
esta música “ao vivo” seja sem eletrônica alguma, para não criarmos
outros problemas mais sérios para os nossos ouvidos. É evidente que,
mesmo “ao vivo”, haverá grandes diferenças entre os vários ambientes que
iremos freqüentar. Os lugares grandes, como uma orquestra na Sala São
Paulo,ou uma opera no nosso Teatro Municipal, ou então um coro (vozes)
na catedral de São Bento em São Paulo e outros, serão os mais
reverberantes e, em contrapartida, os salões pequenos como, por exemplo,
o de um barzinho, são os que mostrarão mais as primeiras reflexões.
Apesar das várias facetas que o som “ao vivo” possa apresentar, ele
sempre será um referencial marcante quanto ao timbre e naturalidade,
tanto dos instrumentos quanto das vozes, mais musical e orgânico e muito
diferente do som eletrônico. Sempre será o melhor referencial auditivo,
no qual poderemos nos basear em todas as épocas!
© 2004-2008 Jorge Bruno Fritz Knirsch
Todos os direitos reservados
http://www.byknirsch.com.br
O Fundo do Poço
Quando
fixamos o objetivo de ouvir a música “ao vivo” e o perseguimos
firmemente, indo a salas de concerto, teatros, barzinhos, ou a casas de
shows com certa regularidade (precisamos ser um pouco boêmios para
isso!), dois fatos estranhos começam a ocorrer conosco. O primeiro,
muito interessante, que já se passou com vários amigos nossos e comigo
também, é que deixamos de ter prazer em ouvir o nosso sistema! Ligamos o
equipamento, ouvimos um pouco e aquilo que escutamos não nos agrada mais
e, em seguida, desligamos. Por que isso ocorre? Estamos falando que,
para ouvir música reproduzida, é necessário ouvir muita música “ao
vivo”, mas agora que estamos fazendo isto, passamos a ligar o nosso
sistema menos do que antes! O que estaria acontecendo? É que está
ocorrendo conosco um processo de educação auditiva (em parte até
frustrante e dolorido) e agora estamos percebendo as diferenças que
existem entre a música tocada “ao vivo” e o nível de reprodução do nosso
sistema. Estamos começando “a cair na real”, como se diz, de forma
elegante, para não ferir suscetibilidades, e a perceber qual o
verdadeiro nível de reprodução do nosso sistema. Inclusive, estamos
começando a nos enxergar corretamente e a nos localizar em algum ramo do
pinheiro, que nem desconfiávamos... Quando passamos a conhecer o topo do
pinheiro (música “ao vivo”) fica muito mais fácil saber em qual ramo da
árvore estamos situados. Muitas falsas verdades a respeito do nosso
equipamento caem por terra! E este novo conhecimento, conforme o caso,
pode nos decepcionar e muito! Não importa se gostamos de jazz e, digamos
que, na nossa cidade só dá para ouvir música clássica, ou vice-versa. O
aprendizado auditivo vai ocorrer, de uma forma ou de outra e nossa
memória auditiva começa a se formar! Neste momento, recomendo-lhes que
vejam as várias metodologias que existem no mercado, como o da revista
americana The Absolute Sound, ou da AUDIO alemã,
pois será importante fixar o que vem a ser: equilíbrio tonal, resolução, palco
sonoro, dinâmica, transientes, textura, transparência, corpo harmônico, organicidade e musicalidade. Estes conceitos vão nos ajudar a amadurecer
auditivamente. E, como estamos nos expondo à música “ao vivo” , estamos
também tendo o privilégio de poder discernir o timbre correto dos
instrumentos (este privilégio somente tem quem escuta “ao vivo”!). E
este é um dos parâmetros mais difíceis de serem reproduzidos em casa,
após a dinâmica!
Mas não vamos desanimar! Na verdade, agora temos um grande trunfo:
sabemos onde estamos! E isto já vale muito! A maioria nem sabe onde se
encontra! E olha que tem amantes do áudio graúdos totalmente perdidos!
A partir daí, um segundo fato pode vir a ocorrer
conosco: o de sermos atingidos por um certo desespero e, impulsivamente,
começarmos a trocar equipamentos a esmo, com a grande esperança de
conseguirmos diminuir a distância entre o som “ao vivo” e o som
reproduzido. Para a maioria de nós, que continuamos a ouvir “ao vivo”,
estas iniciativas não nos conduzirão a uma solução satisfatória e
passamos a ter a sensação de estarmos no “fundo do poço”, pela
frustração que o mau resultado da nossa reprodução sonora nos traz. Não
é fácil! Agora conhecemos a música “ao vivo” e constatamos que na
verdade o nosso sistema está muito... mas muito longe do ideal e do
real. O nosso palco sonoro não tem o foco e nem os recortes necessários,
(talvez nem exista palco sonoro e o som esteja mesmo saindo das
caixas!), a dinâmica e os transientes estão aquém do esperado, a textura
é muito pobre, o corpo harmônico embola totalmente lá embaixo e com tudo
isso, falta-nos a musicalidade e a organicidade, tão procuradas.
Reconhecemos que estamos longe da música “ao vivo” e, o que é pior,
descobrimos que trocar equipamentos pura e simplesmente também não
resolve o problema. E a diferença que constatamos no timbre nem dá para
falar! Conclusão: chegamos ao ponto em que devemos parar um pouco e
pensar. Recostemo-nos na cadeira e reflitamos!
A Acústica
E agora nos vem uma pergunta muito importante: o que,
na lei do mínimo esforço, poderíamos fazer para gastar menos e obter a
maior subida possível rumo ao topo do pinheiro? Aqui, sem
dúvida, para qualquer nível em que o nosso equipamento de som e imagem
esteja, a resposta sempre será: a acústica. E não o
equipamento! Isto porque, a acústica quando
bem realizada, garante pelo menos em torno da metade do nosso resultado sonoro, ou
seja, ela nos proporciona pelo menos metade do que precisamos para
chegar ao topo do pinheiro! Poderemos gastar
uma fortuna em equipamentos, mas, se não melhorarmos a acústica, o nosso
resultado final não passará da metade da altura do pinheiro! O nosso
palco sonoro não terá o recorte, o foco e a localização espacial que
encontramos no teatro ou no concerto, o equilíbrio tonal, e a textura não
estarão otimizados. E a dinâmica, ao contrário do que muitos pensam,
depende em grande medida da localização das caixas acústicas na
sala tratada e não propriamente do equipamento e das caixas
acústicas em si (tendo como premissa um bom casamento entre o power
e as caixas). Por exemplo, se a ressonância da
sala, que normalmente ocorre em baixa freqüência, não for fortemente
reduzida ou eliminada, seremos obrigados a posicionar as nossas caixas
de forma tal, que não haja reforço dos graves e com isto, via de regra,
acabamos perdendo muita dinâmica, pois a dinâmica do sistema depende em
muito da posição correta das caixas acústicas na sala tratada. Fala-se
muito em equipamentos e sua dinâmica e se esquece muitas vezes que a
maior parte da dinâmica vem, na verdade, de uma sala tratada (sem a
ressonância nas baixas freqüências), com um correto posicionamento das
caixas acústicas neste ambiente. Como vocês vêem, é muito complexa a
inter-relação entre a reprodução sonora e a sala, independentemente do
nível do nosso equipamento.
Nós já escrevemos diversos artigos sobre o assunto, que já
estão no site. Portanto, obter conhecimento sobre acústica e realizar um
tratamento acústico é muito importante para quem quiser chegar
ao topo do pinheiro. Seria bom nos aprofundarmos a respeito do assunto,
checando as informações em fontes diferentes e fidedignas. Também
procurar literatura a respeito é muito válido. Outra alternativa é
contratar um engenheiro acústico competente para fazer o projeto e a
instalação dos aparatos acústicos. Valerá a pena investirmos nesta área,
pois gastaremos menos e o nosso equipamento soará melhor (sem
precisarmos trocá-lo). Realizando o tratamento acústico ocorrerá uma
grande valorização do nosso sistema! Caso contrário, já iremos ficar
pelo meio do caminho na nossa escalada ao topo do pinheiro! E, para
aqueles que não o realizarem no momento, por qualquer motivo que for,
terão grandes dificuldades de chegarem ao topo do pinheiro!!!
E agora José?
E agora que o tratamento da sala já
está definido e em andamento, como deveremos continuar? Qual o próximo
passo a ser dado, para que avancemos um pouco mais em direção ao topo do
pinheiro, pelo menor custo possível? Na nossa opinião a energia elétrica
é o segundo parâmetro mais importante na reprodução sonora e na
reprodução da imagem. Porém, a sua otimização tem que ser feito com
muito critério, pois não é colocando qualquer aparelho de filtragem que
ocorrem melhorias. Bem ao contrário: normalmente a maioria de aparelhos
que prometem melhoria de som e imagem normalmente a deteriora,
principalmente os tão aclamados no breaks e estabilizadores. Aqui a regra:
Menos é Mais é uma verdade incontestável!! É melhor não colocar
nada na rede elétrica do que ter um mau filtro! E antes de colocar
qualquer aparelho de filtragem recomendo revisar e otimizar a fiação
elétrica que faz uma enorme diferença! No nosso site tem inúmeros
artigos que versam a respeito deste assunto, inclusive dos aparelhos de
filtragem da rede elétrica. Bem, na nossa opinião, após termos acertado
a acústica e a parte elétrica, precisaremos agora identificar qual o
elo mais fraco do nosso sistema. Este elo mais fraco, ou seja, o
equipamento que apresentar a menor qualidade de reprodução, entre todos
os do sistema, é o que estará limitando o nosso resultado final. Poderá
ser qualquer um dos aparelhos, ou até mesmo o tipo de cabo que
estivermos usando. Por que devemos identificá-lo? Porque ao substituí-lo
por outro de nível bem superior, a melhoria será bastante evidente, com
uma nítida otimização do som e da imagem. Portanto, a arte do progresso
sonoro agora será descobrir qual o elo mais fraco do sistema! Confesso que esta
não costuma ser uma tarefa muito fácil não! Ela nos exigirá muita
paciência e conhecimento. Mas há algumas maneiras de atuar que nos
ajudarão a detectá-lo.
Todos nós temos um círculo de amigos
audiófilos/videófilos e estes, via de regra, possuem diferentes
aparelhos, que poderão ser experimentados nos vários sistemas, uns dos
outros. A prática de ouvir nosso aparelho na casa do amigo, ou
vice-versa, é muito boa, porém com alguns cuidados e considerações:
teremos que levar em conta o valor total do nosso sistema e o valor
total do sistema do nosso amigo, o valor do aparelho substituído e o do
substituindo, além das avaliações da crítica especializada a respeito
dos dois aparelhos e também, sem dúvida, deveremos considerar os nossos
ouvidos e os do nosso amigo, já em fase de afinação, pela música “ao
vivo” que estaremos escutando. Teremos que procurar, de forma geral,
trazer para testar no nosso sistema, aparelhos de maior valor aquisitivo
e mais evoluídos do que o nosso.
Aqui a afirmação tão em voga, de que o nosso é o
melhor, simplesmente cai por terra e deixa de existir, pois acho que
devemos nos unir para encontrarmos, em conjunto, a melhor forma para
chegarmos mais perto do topo do pinheiro. Costumamos recomendar para
teste, aparelhos com valor em torno do dobro do valor do nosso aparelho,
ou então de valor mais alto. Por que isto? Para que tenhamos alguma
garantia de que realmente estaremos fazendo um “up grade”. Pois
se pegarmos uma lista de aparelhos testados, de uma revista
especializada, nacional ou importada, veremos que, para uma mesma
quantidade de estrelas ou de pontos que indicam uma certa qualidade
sonora ou de imagem, o valor destes aparelhos chega a variar, de forma
muito geral, onde o valor maior pode chegar a ser o dobro ou um pouco
mais do dobro do valor menor. Considerando e supondo que temos feito
excelentes aquisições, escolhendo sempre os melhores aparelhos para uma
dada quantidade de pontos (que correspondem a certa qualidade
sonora/imagem), pelo menor preço, os assim chamados “best buy”
da referida classe, se não escolhermos agora um aparelho substituto que
tenha pelo menos o dobro do preço do nosso, não estaremos na realidade
fazendo “up grade” algum. Estaremos, sim, apenas trocando seis
por meia dúzia! E este não é nosso objetivo! Esse tipo de milagre, que
alguns procuram, não existe! E não adianta insistir! Se neste momento
não der para investir no montante necessário, é melhor aguardar! Espere
até poder adquirir a quantia necessária, aproveitando esse tempo para
aprofundar os estudos e as audições quanto aos aparelhos em questão.
Quanto mais nos empenharmos e nos informarmos, melhor será o resultado
final! E a nossa satisfação crescerá! Fazendo “up grades” desta
forma, procurando escolher aparelhos com pontuações mais altas do que o
anterior, o próximo elo mais fraco da cadeia passará a ser um outro
equipamento. E para avançar um pouco mais, teremos que recomeçar o
processo novamente, mas agora num caminhar seguro, firmado em progressos
significativos, com ouvidos mais afinados.
Conclusão
À
medida que formos percorrendo este caminho, em algum ponto, a energia
elétrica e o aterramento irão se tornar o elo mais fraco do sistema. E
algo a respeito disso também terá que ser feito, para não criarmos novas
limitações que não venham dos equipamentos. A respeito destes dois
itens, já publicamos inúmeras matérias, inclusive permitindo aos nossos
leitores uma implementação efetiva de um bom aterramento. A mesma coisa
também vai valer para as vibrações, das quais falaremos em futuros
artigos.
Em suma, mostramos aqui como o aprendizado auditivo
ocorre, ouvindo música “ao vivo”, quando passamos então a ter um
referencial auditivo mais correto e a partir daí, gradativamente,
conforme a emoção for permitindo, vamos nos conscientizando do real
nível do nosso sistema, seus pontos fortes (provavelmente poucos) e seus
pontos fracos (talvez muito mais do que supúnhamos). Em seguida,
sugerimos um procedimento para analisarmos o nosso sistema como um todo,
a fim de detectarmos qual o seu elo mais fraco: isto através de audições
com substituições de equipamentos e também com a orientação das revistas
especializadas, quando então poderemos tomar decisões mais corretas para
as próximas aquisições. Objetivo: chegarmos o mais próximo possível ao
topo do pinheiro!!
No próximo artigo, gostaria de analisar junto com
vocês uma classe de equipamentos com determinada pontuação, por exemplo,
caixas acústicas e amplificadores de potência, tecendo comentários
também sobre o fator de compatibilidade entre eles. Pretendo fazer isso
apoiado na revista alemã AUDIO, com os produtos do mercado europeu.
Coloco meu e-mail à disposição
de vocês: jorgeknirsch@byknirsch.com.br
Até
a próxima e aquele abraço!! Sempre avançando firmemente em
direção ao
topo do pinheiro!
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