OTIMIZANDO
UM SISTEMA DE SOM
PARTE
V: A Rede Elétrica II
Elétrica
Jorge
Knirsch
Introdução
Em
artigos anteriores, mostramos como a energia elétrica é gerada e
distribuída, até chegar a nós, consumidores finais. Mostramos que
qualquer aparelho elétrico, quando ligado à rede, funciona como uma
carga elétrica, produzindo interferências (os harmônicos) na linha, em
maior ou em menor escala. Vimos que, assim como a tensão elétrica, os
harmônicos também são ondas senoidais, porém ondas que se
apresentam em múltiplos ímpares da freqüência da rede. As várias cargas elétricas geram diferentes harmônicos
em diferentes freqüências, com diferentes amplitudes. Por exemplo,
aqui onde moro, no bairro das Perdizes em São Paulo, a décima
primeira harmônica (11 x 60 Hz = 660 Hz) é bastante intensa. Mas se
eu fizer uma medição a uns dois quilômetros daqui, ainda no meu
bairro, descubro que a quinta harmônica (5 x 60 Hz = 300 Hz)
é que se apresenta muito forte. Isto devido às diferentes cargas
ligadas à rede elétrica, nas redondezas da região, no instante da
medição. Provavelmente em cada bairro da cidade encontraremos uma
nova situação. Na Fig. 1 abaixo mostramos o gráfico em
barras que um analisador de redes elétricas (medidor de harmônicos)
pode apresentar numa dada região da cidade ou inclusive do campo!
Fig
1. Gráfico de barras de harmônicos da rede elétrica em uma
determinada região.
No
último artigo também falamos de outros tipos de interferência que
podem ocorrer na rede elétrica como os “spikes” (também
chamados de transientes ou transitórios e não confundir com os
"spikes" cones antivibratórios), ou como o fator de potência (que está relacionado
com uma defasagem entre a tensão e a corrente elétrica da rede).
Vamos analisar agora as conseqüências que estas anomalias trazem à
nossa reprodução sonora.
Vocês
já repararam que, à noitinha, após o serviço, quando nos sentamos
nas nossas salas de som para ouvirmos um pouco de música e
descontrair, como já estamos bem familiarizados com a reprodução do
nosso sistema, muitas vezes notamos algumas diferenças sutis no som e
não sabemos explicar a razão disso? Para trazer um pouco mais de luz
a esta questão, vamos analisar as respostas a estas três perguntas
fundamentais:
Ø
Qual a influência da tensão? Como devo ligar os aparelhos?
Ø
Quais as conseqüências dos harmônicos e “spikes” (transientes e
transitórios) ?
Ø
O que o fator de potência causa ao nosso sistema?
As
respostas a estas três perguntas vão com certeza esclarecer muitas dúvidas
que vocês provavelmente tem e que ficaram sem explicação ao longo
do tempo.
Vamos lá:
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Qual
a influência da tensão?
À
primeira vista esta pergunta parece sem nexo. Mas o que eu quero dizer
é o seguinte: se a minha rede elétrica é de digamos, de 230V e eu
tiver um aparelho de 110V (inglês ou americano) para ligar, o que
devo fazer? Ou se eu estiver numa situação contrária a esta o que
devo fazer? Muitos já me fizeram esta mesma pergunta e ela de fato é
muito importante porque, se adotarmos uma solução correta, iremos
conseguir um resultado sonoro muito melhor.
Na
verdade esta pergunta é básica pois, conforme a solução que
escolhermos, muitas vezes sem nos dar conta, estaremos gerando harmônicos
em maior ou em menor escala
e interferindo negativamente na nossa reprodução sonora. Mas vamos
deixar para analisar esta questão mais adiante.
Voltando
ao ponto que estamos querendo abordar: qual a melhor tensão de
alimentação para o nosso sistema? Saibam que fácil é fazer esta
pergunta, agora descascá-la é que é! Mas vamos lá! A resposta mais
simples e sucinta seria a seguinte: a tensão de alimentação do
sistema deve ser a mais adequada possível. Há,
no entanto, muitos aspectos que devem ser considerados e vamos aqui
analisá-los de forma detalhada.
Antes
de qualquer coisa, quero ressaltar que há também uma regrinha muito
importante que deve ser observada. A chamaremos de
primeira
regra elétrica: todos os aparelhos eletrônicos
do nosso sistema devem ser ligados sempre que possível, diretamente
à rede elétrica. Lembre-se que tudo o que ligarmos entre os
nossos equipamentos de som e a rede, como por exemplo:
transformadores, filtros de linha comuns, etc, tudo irá atuar como
carga elétrica e gerar harmônicos que irão prejudicar a nossa
reprodução. Deveremos portanto, sempre que possível, ligar os
equipamentos diretamente à rede elétrica e assim a tensão de cada
equipamento será igual à tensão fornecida pela rede elétrica.
Sempre que isto ocorre, temos uma situação ideal. Vamos porém nos
aprofundar um pouco mais. Normalmente os equipamentos de som possuem
basicamente duas tensões de alimentação:
-22OV, 23OV ou mais recentemente 240V,
-110V, 115V, 12OV, 125V ou 127V.
Assim,
aparelhos em 220/230V devem ser ligados a redes de 220/230V e
aparelhos 115/120V devem ser ligados a redes de mesmo valor. E aqui
tem um ponto muito importante, que chamaremos de segunda regra elétrica:
os fios da rede elétrica, aos quais vamos ligar nossos equipamentos,
devem ser fase/neutro, com
o terceiro orifício de entrada
o fio terra.
Importante é que
seja fase/neutro e não fase/fase. Sabem por que? No sistema
fase/fase, quando desligarmos o aparelho, ainda haverá uma tensão
entre fase e terra que evidentemente não será desligada, pois a
chave principal do aparelho só desliga uma via, que é a via da fase,
quando a tomada está corretamente faseada. A outra via (que deveria
ser o neutro), que neste caso será a outra fase e esta, contra o
terra (o qual evidentemente deveremos ter no sistema), manterá uma
tensão da rede. Portanto, o aparelho não desliga, mesmo que não
tivermos o terra ligado. Vejam o exemplo aqui de São Paulo: são dois
grupos
de tensões desta cidade,
o 110V/115/120V/125V/127V e a 220/230V/240V. As
tensões 110V/115/120V/125V/127V estão entre fase e neutro, enquanto que
as 220/230V/240V estão entre fase e fase. Conclusão: na cidade de São
Paulo devo evitar usar a rede 220/230V/240V. Por outro lado, em muitas
cidades brasileiras, a tensão normal entre fase e neutro é a
220/230V/240V. Assim, nestas cidades, será esta a tensão que
deveremos utilizar para o nosso sistema de som. Lembrem-se caros
amigos que, olhando a tomada na parede, a fase deve ficar à direita,
o neutro à esquerda e o terra no centro, abaixo dos dois, conforme
indica a Fig 2.
A norma brasileira
NBR5410:1997 determina que
o
terceiro pino
do plugue de um aparelho e o terceiro orifício da tomada onde for
ligado, seja sempre
o terra,
e jamais
o neutro,
por motivos de segurança!! Terceira regra elétrica:
polarize corretamente sua tomada!
Fig
2. Vista de uma tomada na parede.
Retomando: vamos primeiro
analisar a nossa rede elétrica, para verificar qual é a tensão
entre fase e neutro. Nesta tensão é que deveremos colocar todos os
nossos aparelhos, não nos esquecendo de ligar todos eles diretamente
à rede, com a tomada corretamente polarizada. Mas, se isto não for
possível, o que fazer? Bem, amigos, nesta hora estaremos comprando um
belo problema! Vamos ver as várias situações que podem vir a
ocorrer e a suas soluções:
Primeira
situação.
Por exemplo, você está em São Paulo, tem um aparelho 230V e deseja
ligá-lo à rede 230V,
que nesta cidade é fase/fase. Você pode ligar o aparelho?
Evidentemente que sim. Porém tem que estar consciente de que, mesmo
com a chave liga-desliga do aparelho na posição desligada, ele nunca
estará realmente desligado, ainda que o seu sistema não possua o
terra!
Vamos dizer que você, sem consciência de maiores riscos resolve
conectar este seu aparelho à rede. Tudo está indo às mil maravilhas,
mas num belo dia, desses com relâmpagos e trovoadas pra todo lado
(lembre-se que os relâmpagos causam transientes na rede), você
constata que o seu aparelho desligado, não liga mais e, como não
poderia deixar de ser, você fica todo espantado, se perguntando como
isto pôde acontecer... O que aconteceu é que o transiente entrou por
aquela fase que não estava desligada e, contra a própria massa
(carcaça) do aparelho fez queimar o aparelho. Pense agora: que solução
você deveria ter empregado para evitar um dano como este? Na verdade
este tipo de problema, aparentemente muito simples, vai precisar de
uma proteção para que se possa ligar o aparelho diretamente à rede, ou
então de uma chave de dois pólos. Mas a este respeito falaremos mais
tarde, num dos próximos capítulos desta série, quando abordaremos a
parte de filtragem da rede elétrica.
Segunda
situação.
Digamos que você esteja
na bela Maceió, onde a rede entre fase e neutro
é de 230V, e você quer conectar um aparelho de 110V. Quem sabe você
queira, por exemplo, conectar um “power” ou um pré-amplificador
ou um “CD-player” ou mesmo um outro aparelho qualquer. O
que você deverá fazer? Bem, neste caso não haverá outro jeito:
para adequar a tensão, você terá que utilizar um autotransformador
entre a rede e o aparelho. Terá que ser um transformador abaixador,
de tensão
de entrada 230V e
de tensão de saída 115V. Mas, como já vimos, o transformador
atua como uma carga elétrica e, por conseguinte, gera harmônicos e
estes vão acabar interferindo negativamente no resultado sonoro final
do sistema. Os harmônicos adicionais provenientes do
autotransformador
(que são
muito menores do que no transformador isolador)
vão dar ao som uma coloração no médio baixo que,
à primeira vista, até parecerá muito agradável de se ouvir, dando
aquela sensação característica de som valvulado, mas após uma análise
auditiva mais acurada, vamos acabar percebendo que esta mudança, ou
melhor dizendo, esta interferência, não foi correta. Inconformado,
você há de me perguntar: mas o que poderíamos fazer para resolver
esse problema da interferência? Resposta: este é um caso em que, além
da cuidadosa fabricação do autotransformador para gerar a menor
quantidade de harmônicos possível, também terá que fazer uma filtragem da rede, após o
transformador, para tirarmos estes harmônicos indesejados gerados por
ele.
Terceira
situação.
Muitas pessoas já me fizeram a seguinte pergunta: “Tenho um
amplificador de potência em 120V. Se eu reduzir a corrente alternada,
transformando o meu amplificador para 230V, obterei vantagens
sonoras?” Bem, em princípio a resposta é sim, mas... só se a rede
for 230V fase/neutro. Caso a rede seja 230V fase/fase, não valerá a
pena utilizá-la, como já vimos anteriormente. Vamos dizer que a rede
é 230V fase/neutro. Neste caso só teremos uma alternativa: a de
utilizar um autotransformador elevador, de 120V para 230V. Mas esta
situação também só valerá a pena se for feita uma excelente
filtragem da rede após o transformador e antes dos aparelhos. Caso
contrário, é melhor conectar o amplificador de potência em 120V
mesmo.
Quarta
situação.
Vamos supor que eu esteja em São Paulo (rede 127V fase/neutro) e que
eu tenha um aparelho inglês em 110V, daqueles que não possuem chave
comutadora de tensão da rede. Pergunto: posso ligar este meu aparelho
diretamente à rede? A resposta a esta interessante pergunta de
imediato já brota na ponta da nossa língua: “não é recomendável”.
Mas você saberia me explicar o por quê? Vejamos. A tensão da rede
elétrica é uma grandeza e, como todas as grandezas, possuem tolerâncias.
As tolerâncias para as tensões da rede elétrica são fixadas
agora
pela
ANEEL. Como
aqui no Brasil existem várias tensões nominais, em estrêla e em triângulo,
creio que será bom você consultar a concessionária de energia elétrica
da sua região, para saber qual a tolerância local, ou seja, qual a
variação máxima admissível para a tensão da rede elétrica aí na
região onde você está.
Recentemente várias concessionárias estão colocando as tolerâncias na
conta de luz. Atualmente a regulamentação das tolerâncias é fixada
pela ANEEL e o valor médio das tolerâncias foi alterado para algo em
torno de +5% e -9%.
Voltando
agora à nossa questão, vamos nos reportar à rede elétrica aqui da
cidade de São Paulo, que é
bifásica
e em muitas regiões de 127V, cujo valor mínimo é 115,6V
(-9,0%)
e o valor máximo. que a concessionária deverá manter, o de 133,4V
(+5,0%).
Digamos que o meu aparelho inglês de 110V tenha uma tolerância na
tensão de entrada de mais ou menos 10%, pois é isto o que normalmente
costuma ocorrer, portanto o valor mínimo da tensão de entrada vai ser
99V e o valor máximo vai ser 121V. Mas como a tensão da rede pode
chegar a 133,4V,
quando não chega a valores mais altos,
devo concluir que, se este meu aparelho vier a ser ligado diretamente
à rede, estará correndo o grande perigo de algum dia se queimar.
Isto é até mais comum do que se pode imaginar!!!
Infelizmente não tem outro jeito, este caso também vai exigir, além da
utilização de um
autotransformador
abaixador de 127V/130V para 110V/115V
(nominal 130V/115V),
uma filtragem de harmônicos e aí sim, eu poderei conectar com
tranqüilidade este meu aparelho à rede.
Quinta
situação.
Pergunto: como a tensão da rede onde moro varia muito, é aconselhável
que eu use um estabilizador de tensão? O que vocês acham? A resposta
aqui é um trágico e muito importante não!
Evite a estabilização da tensão! Por que? Porque os
estabilizadores de tensão são
um dos
aparelhos que mais
coloração
introduzem
no nosso
som e
imagem!
Eles geram tantos harmônicos,
devido a alta impedância que introduzem na rede elétrica, que qualquer pessoa, com um pouco de
experiência,
percebe uma grande alteração no equilíbrio tonal e no corpo harmônico.
Como devo então contornar o problema da variação da tensão? Há
aparelhos que filtram a tensão da rede elétrica.
Normalmente, eles
possuem circuitos de supervisão de tensão, ou seja, quando a tensão
quiser passar dos limites admissíveis,
para mais ou para menos,
ele desliga os equipamentos. Infelizmente não existem estabilizadores
ou reguladores que sejam neutros para com o resultado sonoro final
de um sistema de áudio/vídeo. São componentes em série com a rede
elétrica e pioram em muito a qualidade do som e da imagem..
Sexta
situação.
Você está em São Paulo (230V, fase/fase) e possui um aparelho em
220V. Pergunto: como você deverá ligar este aparelho à rede? Você
vai ligá-lo diretamente ou acha melhor utilizar um transformador de
110V para 220V? A resposta correta aqui vai depender daquilo que você
considerar mais importante, isto é, você dá mais valor à segurança
do seu aparelho ou à qualidade do seu som? Se for à segurança do
aparelho, então você deverá utilizar um
autotransformador elevador de
115V/120V para 220V e colocar uma boa filtragem de harmônicos em
seguida. Mas se você der mais valor à qualidade sonora, então deverá
ligar o aparelho diretamente à rede de 230V, sabendo que estará
correndo o risco de queimá-lo, caso algum transiente vier a
atingi-lo. Mas vamos ser otimistas, pois há também uma saída para
esta última opção: você poderá ligar alguns condicionadores de
energia, que não geram harmônicos na rede e que dão a necessária
proteção ao seu aparelho. Mas isso veremos mais adiante!!
Sétima
situação.
Você tem um aparelho europeu em 50 Hz. O que você deve fazer? A
resposta vai depender do aparelho em questão. Em primeiro lugar,
sugiro que você pegue o manual e verifique se o fabricante menciona a
possibilidade de utilizá-lo também na freqüência de 60 Hz, fato que
nos dias de hoje é cada vez mais comum. Os aparelhos modernos
costumam ter bifrequências, ou seja, podem ser utilizados tanto em 50
quanto em 60 Hz. Se este não for o caso do seu aparelho, você
precisará ter um certo cuidado. Por exemplo, em amplificadores de potência,
onde as fontes de tensão de saída normalmente não são reguladas
podem ocorrer alterações que, ao longo do tempo, acabam por
danificar o aparelho. Portanto é sempre melhor consultar o
fabricante. No caso de pré-amplificadores. amplificadores integrados
e
cd-players, normalmente não há problema algum em ligá-los
diretamente à nossa rede. Mas em alguns conversores digitais/analógicos
mais antigos, daqueles que utilizam a freqüência da rede como clock
(sincronismo), podem surgir problemas mais sérios. Todavia, em caso
de dúvida, quando não houver uma indicação clara quanto às freqüências
admissíveis ao aparelho, nem no manual nem no próprio aparelho,
consulte o revendedor, ou melhor ainda, consulte o fabricante.
O
Transformador
Como
vimos em várias situações anteriores, para adequarmos a tensão da
rede a um aparelho qualquer que queremos vir a utilizar, muitas vezes se torna necessário
o uso de um transformador. Mas para podermos fazer a
escolha correta do tipo de transformador que deveremos empregar
precisaremos nos aprofundar um pouco mais no conceito do que vem a ser
um transformador. De fato, o transformador sempre será visto como um
mal necessário, porém a nossa pergunta é: dentre todos, qual o que
nos trará menor
prejuízo sonoro em cada caso específico?
Existem quatro aspectos que deveremos considerar em
um transformador, a saber:
-
tensão de entrada e tensão de saída
-
tipo de enrolamento
-
potência e
-
forma do núcleo do transformador.
Quanto à tensão de entrada e à tensão de saída,
o transformador pode ser:
-
abaixador de tensão ou
-
elevador de tensão.
O transformador
será abaixador de tensão quando a tensão de entrada for maior que a
tensão de saída, e será elevador de tensão quando a situação for
inversa. Voltando a recordar: o importante aqui é que a tensão de
entrada seja utilizada sempre entre a fase e o neutro.
Quanto ao tipo de enrolamento, vamos analisar aqui
apenas os transformadores monofásicos. Estes transformadores nada
mais são do que: um circuito magnético, constituído de um núcleo
de chapas de
aço especiais, e mais um ou dois enrolamentos. Quando o
transformador tiver dois enrolamentos, vai receber o nome de
transformador isolador. Veja a Fig. 3 que lhe dará uma boa idéia de
como ele é:
Fig
3. Esquema de um transformador isolador.
Este
transformador se chama isolador porque separa totalmente a tensão de
entrada da tensão de saída, através de
dois enrolamentos totalmente separados, colocados em
volta de um núcleo magnético que realiza a transferência de
energia. O enrolamento da tensão de entrada é chamado de primário e
o da tensão de saída, secundário.
Contrário a que muitos pensam, e como o nome contudo
indica, ele não isola os aparelhos ligados ao seu secundário dos
problemas que possam existir no primário como raios, relâmpagos e
transientes. Ele não oferece proteção!! Ele apenas faz uma separação
galvânica entre primário e secundário sem oferecer, como muitos
imaginam, qualquer proteção! Esta separação galvânica não trás
nenhum benefício para nossos sistemas, bem ao contrário, gera mais
harmônicos, como vamos ver!
O
transformador que só apresenta um enrolamento é chamado de
auto-transformador e você poderá ver o seu esquema na Fig 4:
Fig
4. Esquema de um auto-transformador.
Os
dois transformadores mostrados nos esquemas são abaixadores
de tensão, porém ambos, ou seja, os transformadores isoladores e os
autotransformadores, podem ser abaixadores ou elevadores de tensão.
Os dois traços paralelos
e verticais em ambos os esquemas representam o núcleo magnético
de cada transformador.
Veja
que no autotransformador, só existe o enrolamento da tensão maior
(de entrada ou de saída), e a tensão menor é obtida através de uma derivação do
mesmo enrolamento.
Não existe neste autotransformador separação galvânica que não trás
nenhuma vantagem para nossos sistemas.
O importante é que a entrada e a saída possuem um
terminal em comum,
que será o neutro.
Este
transformador é especialmente indicado para redes fase-neutro e, é o
transformador que apresenta o menor índice de distorção harmônica
total.
Embora
o transformador isolador seja o mais comercializado e portanto o mais
utilizado, para a nossa aplicação no áudio, ele não é o mais
indicado e
adequado,
pois é o que gera a maior quantidade de harmônicos e, em conseqüência,
a maior coloração nas
freqüências
médias
baixas.
Ele deve ser usado em redes fase-fase.
A agradável impressão
auditiva inicial logo dá lugar a um desconforto, com a
percepção de que a música está sendo reproduzida com um corpo
harmônico maior do que o que realmente deveria ter. O
autotransformador também apresenta esta característica, porém já
em
nível bem inferior. Na verdade,
ambos são
geradores de harmônicos,
mas o menos
prejudicial
é sem dúvida o autotransformador. Portanto, sempre que tivermos que
utilizar um transformador no nosso sistema, deveremos dar preferência
ao autotransformador, também pela razão que ele mantêm o neutro da
rede original.
Os
transformadores atuam como
filtros nas altas freqüências,
dando uma impressão aparente de uma melhora sonora
nas altas, que
porém, no conjunto todo, não é real,
devido a geração de harmônicos nas freqüências médias baixas.
Infelizmente
os malefícios destes componentes elétricos são maiores do que os seus
benefícios. Portanto, você só deve utilizar um transformador se isso
for mesmo absolutamente necessário.
Com
relação à potência dos transformadores, existem os seguintes
valores padronizados: 1KVA,
2KVA, 3KVA, 5KVA e 7,5KVA. Para determinar que
potência você deverá utilizar, veja qual é a soma das potências
dos aparelhos que você vai ligar ao transformador, mesmo que todos
não sejam usados simultaneamente. Agora a potência do transformador
que você eventualmente irá encomendar depende do fabricante.
Fabricantes que seguem as normas internacionais e brasileiras, aplicando-se uma carga com a potência
indicada na placa do transformador a sua
temperatura
(delta T) não deve ultrapassar 70 graus Celsius. Neste caso você pode aplicar um
fator de segurança de 1 (um). Ou seja, a soma de potência dos seus
aparelhos será um pouco menor, a menos de arredondamento, do que a
potência de placa do transformador. Para outros fabricantes, você
pode
chegar a aplicar um fator de segurança, entre 3 e 5 vezes.
Para
sistemas bem pequenos, com amplificadores integrados, um transformador
de 1KVA pode ser suficiente. Já num sistema onde os amplificadores de
potência são aparelhos separados dos pré-amplificadores, e esses
amplificadores de potência são de classe AB, um transformador de
2KVA ou de
3KVA será suficiente. Porém, quando você tiver
amplificadores de potência em classe A, deverá utilizar um
transformador de 5KVA ou um de 7,5KVA. Nesse caso seria bom verificar
a fiação elétrica da residência. Poderá ser necessária a colocação
de uma fiação mais grossa
(sempre com fios sólidos) ou mesmo de uma nova fiação, exclusiva
para o seu equipamento.
Vamos ver um pouco mais sobre as formas dos núcleos
que são utilizados nos transformadores. Basicamente existem três
tipos de núcleos:
-
núcleos E/I
-
núcleos C e
-
núcleos toroidais.
Os
núcleos E/I são formados por uma certa quantidade de chapas de
aço-silício, sobrepostas umas às outras, nos formatos de um E e de um I,
conforme a Fig. 5:
Fig.
5. Chapas Magnéticas de um Núcleo E/I
Entre
o pacote de chapas E e o de chapas I, encontra-se o entreferro, com
apenas alguns décimos de milímetro, que faz a separação galvânica
do circuito magnético, de forma tal que o transformador não venha a
saturar.
Os
transformadores com núcleo E/I são os mais utilizados nos equipamentos
elétricos (podem ser utilizados em qualquer equipamento elétrico). Mas
no áudio eles possuem a má fama de serem considerados piores do que os
toroidais (Fig.7), cujo núcleo é uma fita de
aço-silício enrolada sobre si
mesma. O que acontece é que o transformador com núcleo E/I possui uma
dispersão magnética maior do que a do toroidal. Essa dispersão magnética
maior de fato pode influir nos circuitos eletrônicos adjacentes e
causar alterações elétricas indesejáveis. Porém, quando os
transformadores com núcleo E/I, utilizados dentro dos aparelhos de
áudio/vídeo ligados a rede elétrica como um
adaptador de tensões, esta dispersão magnética pode ser compensada
pelos circuitos eletrônicos. Portanto, podemos utilizá-lo normalmente, sem
problema algum.
Nos
aparelhos que construo, principalmente nos amplificadores de potência,
prefiro utilizar os transformadores com núcleo E/I por dois motivos: o
primeiro e principal deles, é que hoje existe uma chapa de
aço-silício
chamada GO, que é de qualidade superior à fita de
aço-silício usada
para fazer o núcleo toroidal, pois ela permite um fluxo magnético
maior. Com isso, os transformadores E/I ficam menores que os toroidais e
melhores, uma vez que o campo magnético deles fica concentrado numa área
menor. O outro motivo é que os transformadores toroidais nacionais
costumam ser de baixa qualidade, devido às dificuldades encontradas no
complicado processo de colocação do enrolamento sobre o núcleo, o que
exige a utilização de um maquinário sofisticado, importado e bastante
caro, inacessível a muitos fabricantes. Assim, sendo usado um processo
de fabricação inadequado, a tensão do enrolamento do fio acaba
deixando de ser uniforme, e com isso o fio do enrolamento fica meio
solto, e entre outras desvantagens técnicas, faz com que o transformador fique zumbindo. Já o enrolamento
do transformador de núcleo E/I pode ser feito por um processo mais
simples e com qualidade superior.
Estas colocações valem aqui para o Brasil. Lá fora o toroidal pode ser
muito melhor, também, devido a melhor qualidade da fita magnética!
Caso
mesmo assim você deseje utilizar um transformador toroidal, conheço
uma firma no Paraná que consegue fabricar bons trafos toroidais, a
Toroid do Brasil, ou então não haverá outra alternativa a não ser a
de você ter que importá-lo.
Os
transformadores
de núcleo C (Fig 6), por conterem dois entreferros, estão caindo em
desuso. Não os recomendo.
Fig. 6.
Transformador de núcleo C
Conclusão
Nesta
série de artigos “Otimizando um Sistema de Som", apresentamos,
ainda que de forma superficial, o principal fator de sucesso de um
sistema que é, sem dúvida alguma, a sala de som e seu tratamento acústico.
O segundo fator de sucesso é o tratamento da rede elétrica, levando-se
em consideração tanto a filtragem da rede quanto a eliminação das
ondas eletromagnéticas, através das chamadas "Gaiolas de Faraday",
utilizadas principalmente em estúdios de gravação.
Neste artigo específico,
ainda continuando a discorrer sobre o fator rede elétrica, analisamos a
melhor forma de conectar o nosso equipamento à rede, com ou sem
transformadores.
Fig.
7. Transformador Toroidal.
Vimos
que a atitude de se evitar o uso do transformador sempre que possível,
é importante para a preservação da boa reprodução sonora. Mas, caso
não haja outra saída a não ser a de sermos obrigados a utilizá-lo,
deveremos dar preferência ao autotransformador, pois comparado com o
transformador isolador, é o que menos gera harmônicos indesejáveis à
rede. Em todas as redes
elétricas que tenham a fase e o neutro é possível de se utilizar os
autotransformadores. Um
outro aspecto que fala a favor do autotransformador é que ele tem um
terminal comum para a entrada e a saída, e isso é bom, pois podemos (e
devemos) ligá-lo ao neutro da rede. Agindo assim, estaremos garantindo
que o neutro da rede seja preservado (e não inutilizado) nas ligações
do nosso sistema,
o que para nós é uma grande vantagem, pois mantém um referencial de
tensão com
baixa distorção harmônica.
Não
quero deixar de frisar também um outro aspecto importante que tratamos
neste artigo, quanto aos estabilizadores de tensão: não deveremos
utilizá-los em situação alguma, pois mesmo que eles possam trazer
algumas vantagens, os malefícios com certeza serão muito maiores, onde
a degradação da qualidade sonora já será percebida nas configurações
mais simples que existem.
No
próximo artigo vamos tratar das conseqüências eletrônicas audíveis
que os harmônicos da rede elétrica causam ao nosso sistema. Também
iremos ver os processos com que poderemos eliminá-los.
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