OTIMIZANDO
UM SISTEMA DE SOM
PARTE
4: A Rede Elétrica
Elétrica
Jorge
Knirsch
Introdução
Esta
série de artigos, que se iniciou em dezembro de 1999 e foi publicada a cada dois meses, tem como principal objetivo
transmitir a você, caro leitor audiófilo, alguns conhecimentos básicos
sobre a reprodução eletrônica da música. Conhecendo-os, você poderá
empregá-los aí na sua sala de audição e assim dar mais alguns passos
à frente para conseguir obter e desfrutar do melhor resultado sonoro
possível para o seu sistema. A acústica da sala, por exemplo, é um
fator que não tem recebido a importância devida, uma vez que exerce
uma enorme influência sobre o resultado sonoro. Já falamos sobre isto
nas revistas de dezembro de 99 e março de 00. Entre todos os elementos
que influenciam a reprodução sonora, a acústica é o mais importante
para o resultado final. Chego a afirmar, com um certo exagero e uma boa
dose de humor, que a acústica é mais importante do que o próprio
equipamento eletrônico em si. Aliás, o que mais influencia uma reprodução
sonora de qualidade não é o equipamento de som utilizado, mas sim dois
fatores externos a toda a aparelhagem: a acústica e a qualidade da rede
elétrica que chega às nossas casas. Inclusive o próximo elemento de
maior influência na reprodução sonora, também é externo aos
equipamentos, ou seja, o aterramento.
No
último artigo, começamos a falar da nossa rede elétrica, que ainda é
um grande problema nacional. Isso porque a energia elétrica tem chegado
até nós muito contaminada, apresentando não apenas aquela onda
senoidal de 60 Hz, pura, gerada nas hidroelétricas, mas juntamente com
ela muitas outras ondas indesejáveis, que ao longo do caminho têm sido
indevidamente acrescentadas à rede, tudo por falta de uma legislação
mais eficiente aqui no nosso Brasil (lá fora, nos países de primeiro
mundo, isto não acontece!). Desta forma, a energia elétrica se torna
um fator de influência negativa para a qualidade da nossa reprodução
sonora, pois ela pode ser audível! Sem mencionar os problemas mais sérios
que têm acontecido, como variações muito fortes na tensão, ou oscilações
intermitentes, que vira e mexe chegam até a danificar os aparelhos.
Vamos portanto tratar destes problemas ainda nos próximos artigos e
sugerir soluções.
No
início da nossa revista, quando ela ainda se chamava “Clube do Áudio
de Som Hi-Fi”, publiquei uma série intitulada “E a rede elétrica,
você consegue ouvi-la?”. Esta série saiu em quatro partes,
onde tratei do assunto de forma bastante abrangente. Temos constatado
que hoje este assunto continua atualíssimo!
© 2004-2008 Jorge Bruno Fritz Knirsch
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Como
a Energia Elétrica é Gerada?
Quando
falamos que estamos gerando energia elétrica, não queremos dizer com
isto que estamos dando origem a esta energia. De fato nós não temos a
capacidade de gerar nenhuma forma de energia. O que fazemos é observar
a energia que já está presente na natureza, como por exemplo no calor
do sol, no calor do vapor, nos ventos (energia eólica), nas quedas d’água,
etc. e, a partir daí, criamos um jeito de transformar alguma destas
formas de energia já existentes, em uma outra forma mais adequada ao
nosso propósito. Assim, por exemplo, pegamos a energia liberada na fissão
do urânio radioativo e a transformamos em energia elétrica. Isto é o
que acontece nas usinas nucleares. Já nas usinas termoelétricas,
utilizamos a queima de óleo para conseguirmos obter eletricidade. Aqui
no Brasil, o método usualmente mais empregado tem sido o da transformação
da energia mecânica das quedas d’água em energia elétrica. Apesar
das hidroelétricas exigirem altos investimentos para serem instaladas,
elas têm sido ideais para nós, pois nos têm proporcionado a energia
elétrica mais barata que poderíamos conseguir. Graças a Deus temos
quedas d’água em abundância!
Todos
estes três tipos de usinas (nucleares, termoelétricas e hidroelétricas)
geram a energia elétrica na forma de uma corrente elétrica alternada e
trifásica, com uma tensão por conseguinte também alternada e trifásica.
Para que vocês possam entender isto com clareza, vamos fazer uma
comparação entre a rede elétrica e a rede hidráulica: a corrente elétrica
que passa pelo fio corresponderia ao volume de água que passa pelo
cano, numa certa unidade de tempo. Já o conceito de tensão se refere
à pressão que esta água estaria exercendo sobre o cano ao passar por
ele, ou seja, seria a força com que a água passa pelo cano. Só que,
na rede elétrica, tanto a corrente quanto a tensão não são uniformes
no tempo, mas variam, se alternando 60 vezes por segundo, porque foram
geradas na freqüência de 60 Hz. Graficamente, podemos ver como isto se
dá, pela Fig 1.
Fig
1. Forma alternada, senoidal, da tensão elétrica (ou da corrente)
Como
vocês podem ver, a onda senoidal tem picos positivos e negativos (no
fluxo e contra-fluxo), de mesmo valor absoluto. Nós dividimos este
valor pelo fator 1,414 (que é o valor da raiz de 2), para obtermos o
que chamamos de valor eficaz, tanto para a tensão quanto para a
corrente.
As
tensões eficazes que chegam às nossas casas podem ser: 110V, 115V,
120V, 127V e/ou 220V ou 230V. No entanto, as tensões 110V e 220V estão
caindo em desuso.
Como
o sistema elétrico é trifásico, ele é composto por três fios de
tensões, chamados de fases, contra um quarto fio, o neutro, aterrado
pela concessionária e também pelo usuário (não confundir com o
terceiro pino, que é o terra.). Cada uma das três fases possui a mesma
tensão senoidal, porém elas são defasadas umas das outras em 1/3 do
período (que é de 16,7 milisegundos), ou seja, elas são defasadas em
120 graus (um terço de 360 graus, que é a volta inteira).
Esta
energia gerada nas usinas é levada através de linhas de transmissão
aos grandes centros urbanos onde, em potentes subestações, é
transformada nas tensões que recebemos em nossas casas.
A
nossa Rede Elétrica e suas Aberrações
Bem,
a energia foi gerada, ou melhor, transformada em energia elétrica. Na
sua origem lá na usina, esta energia é a mais pura possível, ou seja,
tanto a tensão como a corrente se apresentam bem próximas da onda
senoidal. Mas, a partir daí as coisas mudam, e muito! Vamos verificar o
que acontece. Quando a energia, através das linhas de distribuição,
chega às subestações, sua tensão é abaixada e a partir daí ela é
distribuída pela rede pública, tanto para as indústrias como para as
nossas residências. Observamos que, quando esta energia é utilizada, aí
é que surgem as contaminações. Qualquer aparelho que necessite de
energia elétrica para o seu funcionamento acaba sujando a rede, em
menor ou em maior escala. Na eletricidade, um aparelho elétrico é
considerado como uma “carga” justamente porque ele, quando entra em
funcionamento, gera interferências (os harmônicos) que provocam distorções
na onda senoidal da rede, alterando-a. Na verdade, os harmônicos são
ondas senoidais também, porém em múltiplos da freqüência da rede,
de ordem ímpar, que invadem a rede elétrica e se propagam por ela,
poluindo-a. Observe as diversas figuras a seguir, que nos mostram esta
poluição, através das alterações da onda senoidal da rede elétrica,
tanto na tensão como na corrente:
Fig.
2— Tensão e corrente de rede elétrica em um dado instante
As
cargas que geram menor poluição são as cargas resistivas, como por
exemplo um aquecedor e as torradeiras de pão das nossas casas, entre
outras. As cargas que possuem motores geram uma poluição razoável,
mas as piores cargas, normalmente localizadas nas indústrias, são as
que possuem componentes eletrônicos não lineares, como os tiristores,
diodos, triacs e outros componentes que são utilizados em aparelhos
como retificadores, inversores e conversores, fontes chaveadas
(c0mputadores) pois são estes os maiores
poluidores da rede elétrica. Eles geram muitos harmônicos, em várias
freqüências e em níveis elevados.
Infelizmente
no Brasil não há uma legislação severa que impeça a indústria de
poluir a rede elétrica, como ocorre na Europa ou nos Estados Unidos. Em
conseqüência, aqui, quando você pega um osciloscópio para verificar
a onda de tensão da entrada de uma máquina que consome uma potência
razoável, descobre que ela já está muito alterada, contendo várias
oscilações e garranchos, devido à poluição dos harmônicos que estão
sobre ela.
Fig 3—
Curva de tensão na entrada de retificador
Não
bastasse toda esta distorção causada pelos harmônicos, ainda existem
outras também espúrias na nossa rede elétrica. Uma delas, bem simples
de se entender, é o “spike”, que surge ao ligarmos uma chave de um
aparelho qualquer. Nesta hora, surge um degrau na onda senoidal de tensão
da rede, também chamado de transiente ou transitório. Como milhões de
aparelhos são ligados a todo instante, não é de se admirar tantas
irregularidades na onda senoidal da nossa rede!
Fig. 4—
Curvas de tensão e corrente
Fig.
5 — Curvas
de tensão e corrente em controles de velocidade de motores
As
cargas elétricas atmosféricas também podem se tornar bem problemáticas
para nós, quando entram diretamente na rede, introduzindo altas tensões,
pois chegam até a destruir os aparelhos. Mesmo quando apenas caem perto
da rede, essas cargas elétricas já podem causar grandes estragos aos
equipamentos.
Outra
distorção que afeta muito o nosso resultado sonoro é o que chamamos
de “fator de potência”. Aliás, esta denominação não é muito
feliz, pois em nada tem a ver com potência. Vamos explicar o que isso
de fato vem a ser: quando a energia é gerada numa usina, a tensão está
em fase com a corrente elétrica. Percebam na Fig.6 como
as curvas senoidais da tensão e da corrente estão sobrepostas. Isto
porque a corrente e a tensão estão em fase. Porém as cargas,
principalmente as indutivas, como os motores elétricos, alteram esta
situação.
Fig
6- Curvas senoidais de tensão e corrente elétrica em fase.
Os
motores fazem a corrente elétrica se atrasar em relação à tensão.
Vejam isto na Fig 7.
Fig
7
–
Defasagem
q
entre tensão e corrente elétrica, causada principalmente por motores
elétricos, ou seja, por cargas indutivas.
Este
atraso é real no tempo e é medido em
q
(um ângulo). A função trigonométrica co-seno aplicada ao ângulo
q
se chama “fator de potência”.
0
< cos
q
= fator de potência < 1 |
Quando
a tensão e a corrente estão em fase, o fator de potência é igual a
1. Quando a corrente se atrasa em relação à tensão, o fator de potência
diminui, tendendo a zero, se a defasagem chegar a 90°.
Conclusão
Vimos
neste artigo que a geração de energia elétrica ocorre nas usinas
transformadoras de energia: nucleares, termoelétricas e hidroelétricas.
Na sua origem, tanto a tensão quanto a corrente elétrica são bastante
puras, mas acabam sofrendo todo tipo de degradação junto às cargas elétricas
dos consumidores. As grandes vilãs da nossa história são portanto as
cargas elétricas, ou seja, todo tipo de aparelho que necessita de
energia elétrica para funcionar, incluindo-se aqui o nosso próprio
equipamento de som! Estas cargas geram os harmônicos, que são as
piores distorções da rede elétrica, além de gerarem também
defasagens entre a tensão e a corrente elétrica. As piores cargas, as
que mais poluem e geram mais harmônicos, estão nas indústrias, em
equipamentos elétricos que se utilizam de retificadores, conversores e
inversores. Além destas distorções, existem as descargas atmosféricas,
que também criam sérias interferências na rede. Todas essas anomalias
prejudicam o nosso som, deteriorando a boa reprodução sonora. E o que
podemos fazer? Isso veremos com detalhes nos próximos artigos.
Um
abraço a todos e ... boa audição!
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