OTIMIZANDO
UM SISTEMA DE SOM
PARTE
3: Depois da Acústica, o que vem?
Acústica
Jorge
Knirsch
Introdução
Com
esta série de artigos pretendemos analisar os aspectos básicos
envolvidos na reprodução eletrônica da música. Para isso, estamos
incluindo, além do equipamento propriamente dito, fatores como: a sala,
a energia elétrica e o aterramento. O nosso objetivo último é
proporcionar-lhes algumas ferramentas adicionais para que possam
otimizar os seus próprios sistemas de som, elevando assim o nível da
reprodução musical.
Nas
duas primeiras partes desta série tratamos, ainda que de forma bem
abrangente, do fator que mais influencia a reprodução sonora: a sala.
Dissemos que, como a maioria das nossas salas é pequena, a influência
que elas exercem sobre o resultado final chega a ser de 50 a 70%,
independentemente do equipamento que estivermos utilizando. Numa sala
pequena, mesmo com “o melhor equipamento do mundo” não conseguiríamos
de forma alguma obter um som a altura. Poderíamos investir pesado em
equipamentos e mesmo assim não atingiríamos o som desejado. Isso
porque, nas pequenas salas, o tratamento acústico é decisivo para o
resultado final. Levei 19 anos como audiófilo, “quebrando a cabeça”
como engenheiro eletrônico, para finalmente ter “o estalo” que me
levou a esta constatação irrefutável: o fator sala é vital! Acho que
o que mais me confundiu durante todo este tempo foi o fato de eu ter
acreditado que minha sala fosse bastante adequada para o som. Afinal,
ela não me parecia tão pequena assim (tem aproximadamente 70 metros cúbicos)
e, além do mais, suas dimensões são privilegiadas (pois se aproximam
das tais medidas de ouro(*1)). Entretanto, depois de tantos embates, hoje
estou convicto de que, a menos que a nossa sala tenha um volume considerável,
digamos superior a 100 metros cúbicos (*2), a influência negativa que
exercerá sobre o resultado sonoro será danosa, pois ela com certeza
estará limitando e muito o desempenho do nosso sistema.
Todavia,
tratar acusticamente uma sala não é colocar uma espuma aqui e outra
acolá. E preciso se fazer um estudo em maior profundidade das superfícies
refletoras (paredes da sala), através de várias medições acústicas,
para se levantar a problemática do local. A partir daí, em alguns
locais específicos, provavelmente haverá a necessidade de se colocar
materiais apropriados para se absorver as ondas sonoras. Já em outros
locais, as ondas sonoras talvez precisem ser difundidas (refletidas) ou,
quem sabe, deverão ser refratadas (modificadas na sua forma e
refletidas). Para este trabalho, recomendo-lhes consultarem um
engenheiro de acústica idôneo, pois assim vocês irão obter um
resultado adequado. E interessante que, com a sala tratada, mesmo um
equipamento eletrônico de nível médio já permitirá um resultado
sonoro final surpreendente. E o que é mais chocante é que, no cômputo
geral, esta forma de procedimento, além de sair mais barata, garante um
resultado sonoro muito melhor!!
Nos
dois últimos artigos lhes dei alguns conceitos básicos que deverão
nortear o tratamento acústico de sua sala.
Nosso laboratório há
muito tempo
atrás. Venha visita-lo!!
Relatando
de forma resumida, quero lhes indicar aqui as quatro formas de ondas acústicas
que podemos ter em uma sala:
© 2004-2008 Jorge Bruno Fritz Knirsch
Todos os direitos reservados
http://www.byknirsch.com.br
As Quatro Ondas Acústicas
As
Ondas Diretas
— São as ondas que, saindo das caixas acústicas sem reflexões em
nenhuma das paredes da sala, atingem diretamente o ouvinte. Estas são
as ondas mais importantes para se obter uma boa reprodução sonora.
As
Primeiras Reflexões
— São aquelas ondas que saem das caixas e, após se refletirem em uma
das paredes, atingem o ouvinte. Portanto, são aquelas ondas que atingem
o ouvinte logo após as ondas diretas, apenas após um pequeno espaço
de tempo, se confundindo com as ondas diretas. Elas são muito
prejudiciais para o resultado final, principalmente em salas pequenas,
pois deterioram o palco sonoro, o equilíbrio tonal e a organicidade da
reprodução. Uma observação: para não reforçar estas primeiras
reflexões, não coloque as caixas muito próximas das paredes!
As
Ondas Reverberantes
— São as ondas que, após se refletirem algumas vezes entre as
paredes, atingem o ouvinte. Estas ondas criam um som difuso, retirando a
nitidez daquilo que se ouve. Elas são muito prejudiciais em auditórios
e teatros, mas, em salas pequenas, um discreto campo reverberante pode
até ajudar na formação do palco sonoro. Estas ondas trazem volume ao
som, permitindo que o equipamento possa trabalhar num volume mais baixo,
uma vez que o som naturalmente já se apresenta numa boa altura.
Ondas
Estacionárias
— São criadas por muitas reflexões de ondas de baixas freqüências
(abaixo de 160Hz). São determinadas pelas medidas da sala, ou seja pelo
comprimento, largura e altura. Estas ondas precisam ser eliminadas
por absorvedores específicos como absorvedores de membrana ou absorvedores de
Helmholtz, também chamados de absorvedores de volume. Os tão
falados “bass traps” , só atuam nos médios e agudos, não
absorvendo graves como se imagina normalmente.
Vamos
agora ao segundo fator mais importante, pela sua influência, na reprodução
sonora.
O
Segundo Fator
Este
segundo fator que mais influi na reprodução sonora, por não ser
evidente à primeira vista, com certeza gerará muita polêmica. Ele
consegue confundir muito alguns e desnortear de forma geral uns tantos outros.
Poucos fabricantes de equipamentos de som o levam a sério, mas,
principalmente no áudio “high-end”, há aqueles que já o
reconhecem como sendo o mais importante fator de sucesso para a parte
eletrônica dos aparelhos, quando corretamente analisado. Alguns de vocês,
talvez intuitivamente, já tenham descoberto quem ele é. Mas, vejamos!!
Vamos
nos reportar a algumas situações que podem vir a ocorrer e, quem sabe,
você vai constatar que já se deparou com alguma delas ou talvez já
ouviu falar algo a respeito.
Um
certo dia, daqueles pesados, quando você sai do trabalho mais cedo,
ainda em horário comercial, chega em casa cansado e ávido por um
momento de descontração e paz... você conhece isso? Liga o seu
equipamento de som para escutar pelo menos um pouquinho, pois já está
de saída para mais um compromisso e... algo lhe chama a atenção: o
equipamento está tocando um trecho de um CD que você conhece bem, você
volta o trecho e comprova que, de fato, um certo detalhe da música lhe
soa num volume mais baixo do que o normal. Que estranho! Por que está
tocando em menor intensidade, se você não mexeu no botão do volume?
Você se senta para ouvir mais atentamente e percebe que, na verdade,
todo o som está diferente, mais chapado, com uma perda notável do
palco sonoro. O que será que aconteceu? Será que alguém mexeu na fiação?
Você vai ao equipamento, olha, analisa, mas tudo está do jeitinho que
você havia deixado na noite anterior. Será que é porque o ruído de
fundo à noite é menor e o ambiente fica bem mais silencioso, que a
percepção sonora se torna muito mais apurada do que de dia? O fato é
que você está perplexo, mas não acha uma explicação razoável para
o que está ocorrendo!
Uma
outra situação, talvez um tanto inusitada, é quando você e seu
amigo, também audiófilo, têm o mesmíssimo equipamento, pré, power,
cabos, tudo igual, salas semelhantes, ambas não tratadas acusticamente,
mas, por um motivo inexplicável, o som do seu amigo é um pouco melhor
do que o seu. E claro que não pode ser uma questão de pé frio, pode?
Claro que não!!
E
agora uma outra situação: vamos supor desta vez que você tenha mudado
de residência. Depois de montar todo o seu equipamento (absolutamente o
mesmo da casa antiga) na nova sala, que tem medidas semelhantes à
antiga ou até mesmo um pouquinho maiores do que as dimensões da sala
antiga, você liga o som e se assusta com o resultado: está muito pior
do que o da casa antiga!! Parece absurdo! O som está mais chapado e você
constata haver mais granulado nas notas da música. O que será que
aconteceu? Confere todas as ligações e verifica que tudo foi ligado
corretamente. Você fica encafifado e sem explicação. Após algumas
semanas, você percebe mais uma diferença interessante: todos os
aparelhos trabalham com uma temperatura maior do que o faziam na casa
antiga. Eles estão agora alguns graus Celsius mais quentes do que
antes. Por que? O que estaria acontecendo?
Conclusão
A
origem de todos os problemas descritos acima está, sem dúvida, na energia
elétrica que recebemos em nossas casas. Ela é a razão do nosso
sistema reproduzir muito melhor à noite do que de dia. Inclusive é ela
quem causa diferenças de temperatura nos equipamentos, conforme o lugar
onde forem ligados. Veremos isto melhor nos próximos artigos. É
importante ressaltar que, quanto mais “high-end” são os
nossos equipamentos de som, mais evidente se torna a influência
negativa da rede elétrica.
A
energia elétrica vem da tomada das nossas casas em forma de uma tensão
senoidal, com uma freqüência de 60 Hz. Como vocês sabem, existem vários
valores para a tensão, como 110 (caindo em desuso), 115, 120, 127 V, ou
então 220 e 230 V entre fase e neutro ou também entre fase e fase.
Acontece que, junto com esta tensão, vêm uma porção de coisas
indesejáveis, como harmônicos e transientes (também chamados de “spikes”),
que deterioram o nosso som. Mas vamos continuar falando sobre isto ainda
em uma outra oportunidade.
Quero
mencionar aqui outros dois fatores muito importantes, não
necessariamente correlacionados com a energia elétrica, mas também
muito relevantes para um sistema de som: o aterramento e aquelas vibrações
que atuam sobre os equipamentos. Minhas últimas pesquisas mostraram uma
influência muito grande do aterramento sobre o equilíbrio tonal do
sistema, fato este que me deixou estarrecido, uma vez que, no Brasil, o
aterramento é uma prática totalmente desprezada.
Bem,
temos muito que contar para vocês. Na próxima parte deste artigo vamos
falar da energia elétrica, seus malefícios e a forma como poderemos
evitá-los. Depois disto, pretendemos falar de aterramento e sistemas
antivibratórios.
Um
abraço a todos e ... boa audição!
(*1).
As medidas de ouro, que são as relações de medidas 1 : 1,6 : 2,5 não são
mais consideradas ideais para salas de audição, devido a falta de graves
abaixo de 35Hz e de ressonâncias triplas em torno de 70Hz.
(*2). Hoje consideramos salas pequenas as que vão até 100m3
e salas médias as que vão até 200m3. Acima deste volume são
salas grandes, mais adequadas para a boa reprodução de som.
Voltar
-
PRODUTOS, PROJETOS E INSTALAÇÕES |