OTIMIZANDO
UM SISTEMA DE SOM
Parte
2: Acústica
Áudio
Jorge
Knirsch
Introdução
Na
primeira parte deste artigo enumeramos os dez fatores que influenciam e
decidem a qualidade da reprodução sonora. Vamos recordá-los:
1 |
. |
Transporte:
CD-Player ou toca-discos analógico. |
2 |
. |
Conversor. |
3 |
. |
Disco
de vinil ou CD. |
4 |
. |
Cabos:
a)
de força,
b)
digitais,
c)
de interconexão,
d)
de caixas acústicas |
5 |
. |
Pré-amplificadores
e Amplificadores integrados. |
6 |
. |
Amplificadores
de potência. |
7 |
. |
Caixas
acústicas. |
8 |
. |
A
sala. |
9 |
. |
A
rede elétrica. |
10 |
. |
Aterramento. |
Dissemos
que na medida em que o som do nosso sistema progride, atingindo uma
reprodução cada vez mais apurada e natural, todos esses fatores
assumem importância relevante, pois adquirem um peso de influência
equivalente que gira em torno de 10%, ou seja, se todos esses fatores
forem otimizados, irão adquirir o mesmo grau de importância quanto à
sua atuação sobre a reprodução sonora, pois terão o mesmo peso de
influência sobre o resultado final.
Analisando
o fator “sala” dissemos que, quando nos referimos a uma sala de
reprodução “ideal” estamos nos reportando a uma sala de som sem
reflexões ou outras interferências auditivas. Ali, somente o som que
sai diretamente dos alto-falantes atinge o ouvinte. Para eliminar a
possibilidade de haver superfícies refletoras, a “sala ideal” seria
aquela que apresentaria maiores medidas possíveis na altura, largura e
comprimento. Levado às últimas conseqüências, este conceito acaba
por desenhar algo utópico: uma sala cujas medidas são tão grandes que
suas superfícies estão extremamente longe uma das outras, no
“infinito”. A “sala ideal”, portanto, hipoteticamente, seria o
próprio espaço aberto (sem qualquer parede refletora).
Agora,
no entanto, voltando a “por os pés no chão”, verificamos que
nossas salas estão bem longe da sala ideal. O fato é que, quanto menor
for o volume da nossa sala, maior será a influência negativa que suas
superfícies exercerão sobre o som. E aí a importância da sala já não
será mais de 10% (como no caso ideal), mas sim de 50 a 70% em relação
ao resultado final, independente de ter ou não ter as tais “medidas
de ouro” recomendadas pela acústica, ou de se ter ou não um
equipamento de primeira linha. Portanto, a sala passa a ser o fator mais
importante que atua diretamente sobre o resultado sonoro final de um
sistema de som. No último artigo havíamos dito que, numa sala de
pequena cubagem, mais da metade do sucesso de uma boa reprodução
sonora vem do tratamento acústico que for feito nela. Mas, o que
devemos fazer para melhorar a nossa sala?
Neste
campo, as opiniões são largamente divergentes e não há consenso nem
mesmo entre os profissionais de acústica. Isto porque a acústica é um
dos campos mais complexos da física e poucos conhecem com alguma
profundidade.
No
meu caso, levei anos para reconhecer este aspecto. Ficava mudando de
equipamentos, mexendo na eletrônica, mas não conseguia obter aquele
resultado pleno que eu desejava e também me sentia um pouco frustrado
por não ter a satisfação de alcançar aquela boa reprodução que eu
tanto desejava. Como me formei em engenharia eletrônica, os
conhecimentos de acústica que adquiri na faculdade foram muito parcos.
Tenho aprendido alguma coisa sobre este tema pelo que tenho lido. E mais
recentemente, tenho me empenhado em buscar maiores informações. E
quando você começa a procurar informações a respeito de como tratar
a sua sala, você se depara com uma diversidade de teorias de tratamento
que é impressionante!
Alguns
dizem que você deve “espumar” toda a sala, pois garantem que isto
resolve a situação. Outros discordam dizendo que assim a sala fica
muito “morta” e afirmam que a sala não deve ser nem “viva” nem
“morta”, mas sim “semi-viva”. Ainda outros preferem a solução
sugerida pelo Sr. Arthur Noxon e acabam colocando tubos à beça por
toda à parte, os tais “Tube-Trap”. Há os que procuram tratar todas
as superfícies com revestimentos especiais, na tentativa de evitar
qualquer tipo de reflexão. E há aqueles que acreditam que as reflexões
aleatórias é que ajudam a melhorar a reprodução sonora e, por isso,
colocam nas suas salas o maior número possível de objetos, para criar
inúmeras superfícies refletoras! E assim por diante
... Não lhes parece bem contraditórios?
E
agora? Que posição tomar? Onde está o bom senso? Qual será a melhor
relação custo-benefício ? Com certeza vamos precisar de uma análise
bastante crítica para agirmos de maneira correta.
É
claro que nesta confusão total você precisa de um bom consultor de acústica
para ajuda-lo !
© 2004-2008 Jorge Bruno Fritz Knirsch
Todos os direitos reservados
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O Principal
O
que fazer? Por onde começar ? Vamos procurar clarear as idéias. Nos
parece lógico e de bom senso que nos aproximemos o máximo possível da
situação ideal. Vimos que na sala ideal, somente o som que sai direto
dos alto-falantes atinge o ouvinte. Portanto, o nosso procedimento deverá
ser o de procurar garantir que apenas o som emitido pelas caixas atinja
o ouvinte. Isto também quer dizer que devemos atuar de forma a procurar
eliminar ou evitar qualquer tipo de reflexão do som ou de interferência
sonora que venha a atingir o ouvinte, poluindo o som emitido pelas
caixas.
Na
verdade as reflexões são as grandes vilãs de todas as salas e das
boas audições. Elas são a origem da deterioração da qualidade
sonora que nós ouvimos, pois se misturam com o som que vem direto das
caixas e acabam distorcendo a imagem da gravação que estamos querendo
reproduzir. As reflexões alteram de forma mais profunda a percepção
do som. Que medidas, portanto, devemos tomar? Quero em primeiro lugar
sugerir-lhes uma operação simples: retirem tudo o que não é
essencial da sala. Retirem o móvel que tem como maior finalidade
decorar o ambiente, retirem o aquário, caso haja algum, retirem todos
os objetos supérfluos. E claro que não estou propondo que vocês
tenham desavenças com suas esposas, mas quem sabe, com jeitinho, vocês
possam entrar num acordo, explicando as razões deste procedimento. Já
vimos que quanto maior for o volume livre de nossa sala, melhor será o
resultado sonoro da nossa reprodução. Assim não devemos colocar ali
nenhum objeto adicional porque além de estarmos diminuindo o volume
livre, estaremos criando novas superfícies refletoras. Lidar com as
reflexões das paredes, teto e piso já vai ser um grande desafio,
imaginem se em cada canto criarmos novas superfícies que, por menores
que sejam, estarão refletindo o som de maneira desordenada! Aí, em vez
de estarmos resolvendo o nosso problema, estaremos sim criando um
problemão! É claro que quanto maior o número de reflexões aleatórias
que tivermos, menor será o nosso controle sobre a acústica da sala ! O
ideal seria que as nossas salas pudessem ser específicas para audições,
não é mesmo?
Mas
façam esta experiência. Quem sabe possam executá-la numa tarde calma
de domingo. Retirem tudo o que for possível e verifiquem como o som se
altera! Experimente! Analisem o palco sonoro! Essa é uma experiência
de fato muito interessante. Além do mais, é bem mais fácil se tratar
acusticamente uma sala vazia do que uma toda cheia de coisas.
Um
segundo passo a ser dado seria definir e demarcar, na nossa sala, uma
certa zona ou área específica para a audição.
Aonde os ouvintes vão se sentar? O nosso objetivo com isto será
analisar apenas aquelas reflexões que poderão atingir os ouvintes. Com
isto, estaremos também simplificando o nosso problema, além de
estarmos limitando o nosso procedimento apenas para aquilo que realmente
desejamos: garantir a pureza do som para o ouvinte.
Fig.
01 — Definição da área de audição para estudo das reflexões que
atingem os ouvintes
Se
estivéssemos tratando por exemplo de um estúdio de gravação, a nossa
análise teria que ser diferente da que vamos aplicar aqui.
Para
nós, o importante é que o ouvinte seja atingido fundamentalmente pelo
som que sai diretamente das caixas. Porém, junto com o som direto, vem
as reflexões, evidentemente com atraso de tempo em relação à onda
direta, pois percorrem uma distância maior até chegar ao ouvinte.
As
primeiras reflexões atingem o ouvinte logo após ele ter captado o som
que veio direto das caixas, as segundas reflexões atingem este ouvinte
mais tarde ainda e assim por diante.
Vocês
sabem como nós processamos todo este bombardeamento de sons ? O nosso
ouvido faz uma análise psico-acústica de tudo o que chega até nós.
Para identificar e assimilar o que captamos, os nossos ouvidos misturam
e integram num só bloco todos os sons que são similares entre si,
mesmo que tenham sido captados com um espaçamento de até algumas
dezenas de milissegundos. Em outras palavras, o nosso ouvido junta e
integra sons semelhantes, mesmo que tenham ocorrido com diferenças de
até algumas dezenas de milissegundos e os considera como se tivessem
ocorrido num único instante. Peço que reflitam um pouco sobre isto,
para poderem entender o que estou querendo lhes mostrar, pois é algo
muito sério para o resultado sonoro! Percebam que o som direto se
mistura com a primeira reflexão deste mesmo som (que é de intensidade
um pouco menor que a do som direto) ... e o nosso ouvido considera isto
como um único evento!
Sem
tratamento acústico não é de se estranhar que a qualidade sonora do
nosso sistema pareça não ser lá das melhores mesmo que o equipamento
seja de primeira linha! E muitas vezes não entendemos porque o palco
sonoro não se apresenta, ou por que o som pareça chapado num plano só,
se temos investido tanto no nosso sistema! Mas a verdade é que o palco
sonoro só poderá existir se o som que vier direto das caixas se tornar
fortemente predominante sobre todos os demais.
As
primeiras reflexões são as mais prejudiciais para o som e precisam ser
acusticamente tratadas. Por exemplo, as primeiras reflexões que ocorrem
na frente e atrás das caixas acústicas afetam a formação do palco
sonoro na reprodução do som. Já as primeiras reflexões laterais são
responsáveis por prejudicar a textura e o equilíbrio tonal.
Outro
aspecto importante que ocorre com a nossa percepção psico-acústica é
o fato de que as segundas e terceiras reflexões que atingem o nosso
ouvido, num tempo maior do que algumas dezenas de milissegundos, e que
se apresentam em intensidade bem menores do que a do som direto, essas
reflexões são menos relevantes e não consideradas por nós porque não
conseguimos identificá-las e muito menos entendê-las. Na verdade elas
são “ecos” das notas que estão sendo tocadas e que ficam
reverberando pela sala. Tanto é que a acústica chama este fenômeno de
“campo reverberante”. As conseqüências disto para o resultado
sonoro são bastante desastrosas, pois a inteligibilidade do som fica
bastante afetada, ou seja, notas perdem a sua nitidez. Este problema se
torna mais acentuado em salas maiores. Quanto menor a sala, menor a
influência deste fenômeno.
Conforme
as dimensões da sala, podem ocorrer outros tipos de problemática, como
por exemplo, o aparecimento de reflexões em baixas freqüências (na
faixa de 60 a 100 Hz), que influencia na inteligibilidade do grave. Para
o ouvinte, quando isto ocorre, o grave soa retumbante e de “uma nota só”.
Este
é um problema de difícil solução.
Conclusão
Em
síntese, na reprodução sonora, as reflexões são as grandes vilãs
principalmente as primeiras reflexões, quando se trata de salas de audição
pequenas como as nossas.
lnicialmente
é preciso que vocês determinem a posição que suas caixas acústicas
irão ficar de forma definitiva. Para auxiliá-los nesta tarefa vocês
poderão recorrer a um site da lnternet muito conhecido, do George
Cardas, que é especialista em cabos de som
(*1). Neste artigo ele dá alguns
parâmetros para o posicionamento das caixas numa sala com “as medidas
de ouro” (*2). Se não me falha a memória o nosso querido Holbein Menezes
já comentou este site em um dos artigos da nossa então revista “Clube
do Áudio”, publicado naquela ocasião as principais figuras e
orientações apresentadas pelo Cardas.
A
partir das caixas já posicionadas é que vocês vão definir e
delimitar a área de audição da sala, onde os ouvintes estarão
sentados. Só depois disto é que será possível de descobrir, em cada
parede, a região onde estarão ocorrendo as primeiras reflexões que irão
atingir a área de audição. São estas regiões que deverão receber
um tratamento acústico adequado.
Como
a problemática de cada local é única, devido a inúmeras variáveis
tais como: dimensões de cada sala, volume livre, superfícies
refletoras, aspectos como se a sala é unicamente destinada para audições
ou não e etc., recomendo-lhes consultar um engenheiro especialista em
acústica. Como vêem, não existe uma solução única, padronizada,
que seja satisfatória para qualquer sala de audição. No entanto, há
quem se aventure a oferecer “soluções” padronizadas: a revista
americana “Sound Advisor”, por exemplo, apresenta uns kits
para tratamento acústico de primeiras reflexões que, pelo que pude
constatar, nem sempre são dos mais adequados e além disso são muito
caros.
Vamos
agora nos reportar aquela questão levantada no artigo anterior: será
que vocês já descobriram que fator mais influencia o resultado sonoro
depois do fator “sala”, que acabamos de ver. Qual a sua opinião?
Um
abraço a todos e ... boa audição!
(*1).
Os parâmetros de posicionamento de caixas acústicas por Cardas
não são mais corretas. Inclusive o seu site não faz mais referência a
posicionamento de caixas acústicas. Hoje já existem cálculos mais
precisos em função das dimensões da sala.
(*2). As medidas de
ouro, que são as relações de medidas 1 : 1,6 : 2,5 não são mais
consideradas ideais para salas de audição, devido a falta de graves
abaixo de 35Hz e de ressonâncias triplas em torno de 70Hz.
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