OTIMIZANDO
UM SISTEMA DE SOM
Parte
1:
Componentes do Áudio
Áudio
Jorge
Knirsch
Introdução
Desde
março de 1996, quando saiu o número zero da revista “Clube do Áudio”,
temos escrito os artigos da seção destinada ao “hobbysta”. Fomos
convidados a
escrever sobre esse tema porque o áudio tem sido um “hobby”
fascinante para mim já há bastante tempo.
Há
quase 20 anos, eu, como engenheiro eletrônico, me sentia de certa forma
frustrado, uma vez que profissionalmente só estava assumindo funções
de gerência, e isso me contrariava, pois eu me via bem longe dos
circuitos eletro-eletrônicos, que sempre me atraíram e empolgaram. Foi ai que
tomei uma decisão: a de fazer da eletrônica o meu “hobby”!
Resolvi, com os meus próprios botões, assumir um desafio: construir um
sistema de som tal que o ouvinte, fechando os olhos, tivesse dificuldade
para definir se aquele som que ouvia estava sendo tocado “ao vivo”
ou se estava sendo reproduzido.
Daquela
época para cá, venho percebendo que a eletrônica, no meu caso, é
algo que “está nas veias”. Ela passou a fazer parte de mim, na
medida em que, fui descobrindo como esse campo é empolgante! Essa área
do conhecimento nos envolve de uma tal maneira que se torna impossível
deixa-lá de lado: são tantos desafios intrincados a resolver, tantas
hipóteses a confirmar, sem falar das inúmeras descobertas que vão nos
empolgando e impulsionando, tudo isso nos movendo, apesar das incontáveis
variáveis que muitas vezes funcionam como vilas, pois vão nos levando
à conclusões falsas e becos sem saída, se não soubermos lidar com
elas. A eletrônica é de fato um verdadeiro mundo à parte, que nos
afasta dos problemas do dia-a-dia e nos insere dentro de um grande
quebra-cabeça, intrincado e divertido, sobre o qual vamos construindo
todo um sistema de raciocínio e onde podíamos, ao mesmo tempo, ir
testando tudo por meio dos circuitos nos aparelhos. Nessa experimentação
intensa e dinâmica, o resultado sonoro se torna o nosso referencial
para avaliarmos os acertos e os erros.
Comecei
no áudio em novembro de 1980, desenvolvendo um sistema triamplificado.
No inicio, o meu enfoque se fixava basicamente na eletrônica. Construí
vários aparelhos e posso dizer que brinquei bastante. As caixas acústicas
eram as da KEF 105.2 (construídas por mim). Nesse tempo era muito
divertido trocar os valores dos componentes eletrônicos nos circuitos
dos aparelhos, e assim fazer os ajustes necessários na direção que eu
queria ir, para conseguir obter um determinado resultado sonoro. Na
qualidade de engenheiro eletrônico eu sabia com exatidão onde mexer
para “melhorar” os graves, os médios ou os agudos e os adequar para
“tocarem” da forma como eu desejasse. Mas aí, para enrolar o meio
de campo, um novo problema começou a se delinear, fora da área da
eletrônica: muitas vezes os meus amigos e eu não conseguíamos chegar
a um consenso com relação ao resultado sonoro que ouvíamos, devido à
subjetividade da nossa avaliação. Uns achavam que deveria ser
“assim” e outros achavam que deveria ser “assado”. Cada um
achava uma coisa diferente e ninguém sabia quem estava com a razão!
Como avaliar o som de uma forma objetiva, para que viesse a se tornar o
mais próximo possível do som “ao vivo”? Foi neste tempo que
sentimos grande necessidade de assistir às inúmeras apresentações
musicais “ao vivo”, o mais amiúde possível. Mesmo assim, muitas
vezes não conseguíamos chegar a um denominador comum.
A antiga revista
"Clube do Áudio" no seu idealismo e grande empenho iniciais para elevar o nível do áudio
e dos audiófilos no nosso meio, veio trazer uma grande contribuição
para minorar esse problema por via de uma série de cursos onde nos
ensina a ouvir com maior propriedade. Como estratégia para conseguir
efetivar tal propósito, além de pretender garantir uma linguagem única
entre nós, através de uma metodologia criada pela revista, e possibilitar
uma real comunicação no meio audiófilo, adotou uma série de
discos-referência por meio dos quais aponta detalhes significativos em
cada disco, que devem ser identificados com cuidado. Esse é um
procedimento válido, coerente e objetivo para se avaliar um sistema de
som e mesmo para se comparar sistemas entre si.
Hoje já temos vários discos de referência publicados no nosso site.
Bem,
como estava relatando, há quase 20 anos venho continuamente fazendo
experiências em todas as áreas do áudio: na eletrônica, nas caixas
acústicas, nas vibrações e, mais recentemente, na acústica da sala.
E claro que, ao longo deste tempo, fui passando por diversas fases e
amadurecendo em uma série de aspectos.
Desde
96, quando esta revista foi lançada, tenho escrito uma dezena de
artigos sobre vários temas básicos do áudio. O fato de eu ter me
tornado um articulista, me levou a intensificar mais ainda a experimentação.
Nesse período aprendi muito mais do que pude escrever. Foi isso que me
ajudou a encontrar um norte, isto é, uma direção para otimizar meu
sistema.
É
claro que toda experimentação está limitada, de certa forma, àquele
sistema de som particular no qual está sendo realizado o experimento.
Se feita em outro sistema, o resultado sonoro poderá não ser o mesmo.
Ao comentar isso, estou querendo enfatizar que é necessário muito bom
senso para se generalizar certas conclusões. Já errei muito em todo o
trajeto que percorri mas, graças a Deus, mais cedo ou mais tarde acabei
percebendo o erro e voltando atrás, para novamente retomar a caminhada
na direção correta. Esse tem sido sem dúvida um caminho árduo e
trabalhoso, mas sempre muito interessante.
Quero
também ressaltar aqui um outro aspecto que sempre considerei
importante: o de procurar manter meus gastos dentro de um valor aceitável.
Comecei montando um sistema que me custou cerca de US$ 1.000,00, com um
resultado não muito bom. Esse valor inicial foi aumentando aos poucos,
ao longo do tempo. Mas eu sempre procurei me assegurar de estar
conseguindo uma relação custo/beneficio ideal para cada valor que
gastava. Não há muito tempo, adquiri uma nova caixa acústica, a Paragon,
Jubilee-JEM e, em seguida, realizamos um tratamento acústico na sala. Hoje, o preço total do
meu equipamento gira em torno de US$ 30.000,00. (Hoje, 11/2003, já está
em US$ 73.000,00).
Infelizmente,
não podemos negar que a melhoria do som está relacionada com um
aumento nos gastos com a acústica e com os equipamentos. Porém, um
gasto exorbitante nesses dois aspectos não é condição necessária e
suficiente para se obter um melhor resultado sonoro. É preciso ter
experiência do som “ao vivo”, ter conhecimento da problemática
envolvida na acústica e uma grande dose (enorme mesmo) de bom senso,
para que a combinação de todos os componentes do sistema venha a levá-lo
a funcionar de fato como um todo harmonioso. Estamos lidando com uma área
muito complicada e complexa. Quem pensa que a simples compra de novos
equipamentos vai conseguir garantir uma melhoria na qualidade sonora do
seu sistema poderá se decepcionar e muito!
Há
questão de um mês, tivemos a oportunidade de reunir, aqui em casa, vários
associados do Clube do Áudio, advindos de alguns Estados do Brasil.
Nessa ocasião, eles puderam constatar e apreciar o resultado que
estamos obtendo. Foi um fim de semana diferente, onde tivemos vários bate-papos com esses amigos audiófilos. O que chamou a
atenção deles foi o fato de termos conseguido muito com um
investimento relativamente baixo. Mais tarde vim a saber que esse
encontro desencadeou um comentário’ geral no meio audiófilo e isso
me chamou a atenção! Entendi que seria interessante escrever esta nova
série, com o objetivo de passar para vocês o que fui aprendendo com as
minhas experiências. Procurarei transmitir aqui um rumo, ou seja, um
caminho para ajudá-los a otimizar os vossos sistemas de som. Pretendo
abranger muitos tópicos diferentes como acústica, energia elétrica, a
parte digital e a eletrônica. Vamos lá?
© 2004-2008 Jorge Bruno Fritz Knirsch
Todos os direitos reservados
http://www.byknirsch.com.br
Fatores
que Atuam na Qualidade Sonora
Em
maio de 1997, no artigo “E a rede elétrica, você consegue
ouvi-la?” -Parte 2, publicamos
uma relação de dez fatores que influenciam e decidem a qualidade
sonora. São eles:
1 |
. |
Transporte:
CD-Player ou toca-discos analógico. |
2 |
. |
Conversor. |
3 |
. |
Disco
de vinil ou CD. |
4 |
. |
Cabos:
a)
de força,
b)
digitais,
c)
de interconexão,
d)
de caixas acústicas |
5 |
. |
Pré-amplificadores
e Amplificadores integrados. |
6 |
. |
Amplificadores
de potência. |
7 |
. |
Caixas
acústicas. |
8 |
. |
A
sala. |
9 |
. |
A
rede elétrica. |
10 |
. |
Aterramento. |
Naquela
ocasião, escrevíamos que: “À medida que seu som progride, atingindo
uma reprodução cada vez mais apurada e natural, todos os fatores
envolvidos assumem importância relevante”. Eis o que é
surpreendente: o peso de cada fator torna-se quase o mesmo!! Ou seja: na
melhor reprodução que possa existe todos os fatores têm o mesmo grau
de importância. Em outras palavras, nas condições ideais, cada fator
terá um peso em torno de 10%, uma vez que, ao todo, temos dez fatores.
Apesar de hoje ainda concordar com essa mesma linha de raciocínio,
tenho que considerar um pequeno senão quanto à influência que a sala
exerce no resultado sonoro dos nossos sistemas. Em condições ideais,
quando mencionamos o fator “sala” estamos nos referindo a uma
“sala ideal”, ou seja, queremos nos reportar àquela sala que
apresenta as maiores medidas possíveis na altura, largura e
comprimento. Isso, para se garantir que apenas o som proveniente das
caixas acústicas possa atingir o ouvinte, sem nenhum outro tipo de
interferência sonora, evitando-se dessa forma a poluição das indesejáveis
reflexões. E isso só é possível quando as medidas da sala são muito
grandes. Pergunto a vocês: quem tem um tal tipo de “sala ideal”? E
óbvio que ninguém!! Um fato interessante ocorreu há alguns meses,
quando a revista alemã “Áudio” quis testar uma das renomadas
caixas da Wilson Áudio (não me recordo o modelo): levaram todo o
equipamento para um dos desertos dos Estados Unidos, como procedimento
taxativo e radical para se impedir qualquer reflexão do som! Vejam bem,
o deserto não deixa de ser uma boa aproximação da “sala ideal”
pois só apresenta uma superfície refletora, que é o chão. Podemos
dizer que todas as outras superfícies estão muito longe, no
“infinito”. A indústria de caixas acústicas também pensou em
alguma maneira de simular a “sala ideal”, lançando no mercado a
sala anecóica. Nela se procura evitar todo tipo de reflexão pelo
tratamento de cada uma de suas superfícies. Mas, vamos agora nos
reportar à nossa realidade: que avaliação obtemos das nossas salas
quando as comparamos à “sala ideal” (sem paredes)? Inevitavelmente
temos que concluir que são pequenas. E agora, o que fazer?
A
Acústica da Sala
A
orientação que o áudio oferece para quem deseja obter uma sala acústica
adequada é construí-la com as tais “medidas de ouro”, isto é,
construí-la respeitando esta relação entre as medidas: 1 para a
altura, 1,6 para a largura e 2,6 para o comprimento, ou seja, 1 : 1,6 :
2,6 (*1). Mas, sabemos que mais importante que essas “medidas de ouro, e o
volume da sala!! Quanto maior o volume da sala, melhor será a
reprodução do som. A partir daqui, podemos enunciar um corolário,
que vem a ser:” Quanto menor o volume da sala, maior será a sua influência
sobre o resultado final da reprodução sonora ali realizada “. Vejam,
por exemplo, o que aconteceu no meu caso: a minha sala tem 2,55m de
altura, 4,08m de largura e 6,70m de comprimento. Multiplicando-se todos
esse números, vamos encontrar o seu volume, ou seja, 69,7m3. Pelos
conceitos audiófilos, as medidas da minha sala estão muito próximas
das tais “medidas de ouro”. No entanto, quando me preocupei em fazer
um tratamento acústico fiquei estarrecido! Faltam-me palavras para
descrever o avanço que obtive no resultado sonoro. E incrível, levei
19 anos como audiófilo para vir a ter consciência da enorme importância
da acústica no meu sistema! Estimo que, para as salas pequenas que
tenho visto por aí, o peso que elas exercem na reprodução do som
passa a ser de 50 a 70% . Ou seja, numa sala de pequena cubagem, mais da
metade do sucesso de uma boa reprodução sonora vem do tratamento acústico
que se fizer nela. Não existe procedimento algum (mesmo considerando o
maior valor que se possa investir) que supere a melhoria obtida com o
tratamento acústico da sala. Não adianta fazer uma troca de
equipamento ou de caixas acústicas. Você verá: o tratamento acústico
traz uma
Minha
sala, há muito tempo atrás!!
melhoria
indescritível! Numa sala de pequena cubagem, que foi tratada
acusticamente, mesmo que o equipamento seja modesto o resultado sonoro
vai surpreender. Incito todos a tratarem as suas salas!
E
agora? O que executar? Como fazer? Veremos isto no próximo artigo.
Conclusão
Iniciamos
uma nova série de artigos intitulada “Otimizando um sistema de
som”, onde pretendemos analisar, de uma forma prática os diversos
fatores (ao todo 10) que atuam diretamente na qualidade sonora de um
sistema de som. Nesta primeira parte, começamos a falar da sala de
pequena cubagem, que é uma realidade para a maioria dos leitores. Vimos
que, quanto menor o volume da sala maior será sua influência sobre o
resultado sonoro, ou seja, o peso que tais pequenas salas têm sobre o
resultado sonoro é de 50 a 70%.
Agora
vem a pergunta: o que devemos fazer para melhorar a nossa sala? Sabemos
que a acústica faz parte da física, e que é uma área muito complexa.
Por isso, temos visto que poucos, muito poucos, entendem realmente
alguma coisa de acústica. Vamos, portanto, precisar de bom senso e de
uma análise bastante critica para agirmos de maneira correta. Veremos
esses pontos no próximo artigo. Mencionamos que a sala é o fator mais
influente no resultado sonoro de uma reprodução. Vocês podem imaginar
qual é o segundo fator de maior influência?
Um
abraço a todos e ... boa audição!
(*1).
Após ter
estudado acústica profundamente, estas dimensões de sala não são hoje
mais consideradas ideais devido a falta de grave abaixo de 35Hz e de uma
ressonância tripla em torno de 70Hz.
Voltar
-
PRODUTOS, PROJETOS E INSTALAÇÕES |