SALA VIVA - SALA MORTA - SALA SECA
Qual a melhor sala para se ouvir música?
2ª. Parte
Acústica
Introdução
No artigo anterior, havíamos estudado
alguns aspectos importantes referentes às ondas sonoras, pois estas são as nossas
principais ferramentas em toda audição e reprodução musical.
Neste artigo, pretendemos definir
e estudar um dos parâmetros mais importantes da acústica, que é o
Tempo de Reverberação (RT = Reverbaration Time), cujos primeiros
estudos quantitativos foram realizados pelo americano Wallace Clement Sabine, a
menos de cem anos atrás. Mostraremos a sua influência na audição, para em
seguida adequá-lo às diversas salas existentes. Iremos
definir os vários tipos de salas, as vivas, as mortas (também
chamadas salas surdas pelo pessoal de gravação), e as salas secas,
para em seguida verificarmos qual delas é a melhor opção para nós.
Muito temos lido na Internet
sobre o assunto. Além disso, temos realizado várias pesquisas no nosso Laboratório de
Acústica e Áudio. Interessante que, navegando, encontramos um site
(do Clube de Audiofilia de Atenas, na Grécia: Audiophile
Club of Athens,
http://aca.gr) que
mostra pesquisas semelhantes às nossas e eles também chegaram a constatações que
levam a uma direção muito próxima da nossa. Isto muito nos animou, pois
apesar dos excelentes resultados auditivos que temos obtido, temos
feito algumas constatações diferentes daquelas largamente publicadas na
Web e aceitas no nosso meio audiófilo. Pretendemos torná-las públicas, nesta série,
para gerar uma discussão em torno do assunto, pois os resultados são
surpreendentes.
Vamos analisar também o que vem a
ser conforto auditivo, como alcançá-lo, e quais as
suas conseqüências para o nosso emocional.
© 2010-2020 Jorge Bruno Fritz Knirsch
Todos os direitos reservados
http://www.byknirsch.com.br
Tempo de Reverberação
O dicionário define reverberação como sendo sinônimo de reflexão.
No meu entender, reverberação significa múltiplas reflexões. Tempo de
reverberação é o tempo que um determinado som permanece audível, em um
dado ambiente, desde a sua emissão até o momento exato em que deixa de
ser perceptível. Quando emitimos um som forte e instantâneo, em um dado
ambiente, como um tiro, por
exemplo (somente ilustrativo), as ondas
sonoras (que são esféricas), batem em todas as superfícies da
sala, refletindo-se e permanecendo audíveis durante um
certo tempo, até se extinguirem. Tempo de reverberação também pode ser entendido como o
tempo necessário para que uma energia sonora emitida em um ambiente seja
totalmente absorvida por ele. Este tempo pode variar de 0 (zero) a vários segundos. No
espaço livre, sem paredes e sem reflexões, o tempo de reverberação é nulo e
representa o que chamamos de ambiente anecóico. Uma
câmera anecóica, portanto, é um ambiente com forte tratamento acústico, onde o
tempo de reverberação é nulo em todo o espectro. Vemos o oposto disto acontecendo, por exemplo, em uma grande igreja
ou templo, como a
Igreja Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida do Norte, no Estado
de São Paulo, que apresenta tempos de reverberação bem altos,
em torno de vários segundos.
Uma forma simples e rudimentar de verificarmos o tempo de reverberação
de um certo ambiente, uma sala, por exemplo, ou um quarto, ou cada um
dos outros ambientes de nossas residências, é batermos palmas nos
recintos em questão e estimarmos o tempo que leva desde o instante da
emissão do som até o instante em que deixamos de ouvi-lo “ecoar” ou se refletir naquele ambiente.
(Coloquei “ecoar” entre aspas, pois tecnicamente não ocorre um eco,
embora
popularmente o significado seja este a que nos referimos). Isto nos dará uma idéia e
permitirá comparar os diversos tempos resultantes. A grosso modo,
obteremos os
tempos de reverberação dos vários ambientes.
Há vários sites
na Internet que nos orientam a realizar testes para diversos ambientes. É só vocês
entrarem no
www.google.com, colocarem Reverberation Time e
começarem a investigar
os vários sites existentes, os quais apresentam diversas experiências e testes que
vocês poderão realizar. É muito interessante e é muito bom adquirirem um
pouco de experiência a respeito deste tipo de avaliação, pois vamos utilizá-lo intensamente
daqui para a frente.
Agora que vocês já têm alguma
experiência, vejam dois fatos muito interessantes e importantes. O primeiro é que,
dependendo do lugar onde vocês forem bater palmas, dentro da sala, o tempo
de reverberação poderá mudar. Esta variação vai depender das paredes e dos móveis que
estiverem mais próximos, ao seu redor. A rigor, para cada posição
espacial do ambiente, poderá existir um novo tempo de reverberação.
Portanto, o tempo de reverberação que você estiver definindo tem que
estar
associado àquela posição espacial onde o teste está sendo realizado.
Este aspecto é muito importante e não poderá
ser esquecido na análise acústica do ambiente.
O segundo fator importante é
que o tempo de reverberação normalmente varia com a
freqüência do som dentro do espectro sonoro. O tempo de reverberação
nas baixas freqüências, ou seja, nos
graves, pode ser muito diferente do encontrado nas médias freqüências e
também bastante diferente do obtido nas
altas freqüências. Daí resulta uma infinidade de curvas advindas dos
vários tempos de
reverberação (nas ordenadas, em segundos), em função do espectro das
freqüências sonoras emitidas (nas abscissas). Normalmente o eixo das abscissas, quando
representa as freqüências sonoras, é um eixo logarítmico, como se vê na
figura abaixo (aproximado). Devido a estas variações, o que normalmente se faz, num
tratamento acústico, é otimizar o tempo de reverberação para uma certa região da
sala, onde preponderantemente ficarão os ouvintes.
Como
vocês podem perceber, o tempo de reverberação é um parâmetro importante
e pode ser muito complexo.
Estudá-lo profundamente é uma das
premissas fundamentais para que possamos entender o processo acústico que
ocorre em nossas salas.
Tempo de
Reverberação: Um Pouco de Teoria
Os técnicos definem tempo
de reverberação como sendo o tempo em que o término de uma emissão sonora cai a um
milionésimo da sua intensidade inicial. Também é definido como o tempo
necessário para que um som, emitido com 0 dB de intensidade, caia a -60 dB,
o que corresponderia ao espaço de tempo entre a emissão de um som na sua
intensidade máxima (0 dB), até o momento em que sua queda auditiva tenha
chegado a um milionésimo daquela intensidade máxima inicial (-60 dB). As duas definições são, na realidade, idênticas,
sendo que a segunda utiliza a escala em Bel. É por isso que o tempo de
reverberação é apresentado pelo símbolo
RT60
(que representa o tempo decorrido em
segundos até atingir menos 60 dB). Passaremos
a usá-lo daqui para frente.
Pode-se encontrar também, na
literatura técnica, símbolos colocados na forma de RT125,
ou RT500,
etc., que representam cada um
dos tempos de
reverberação
nas respectivas freqüências indicadas.
É possível, à partir da fórmula do
Tempo de Reverberação de Sabine, ou da fórmula de Eyring, calcular teoricamente o
RT60
de um ambiente, com boa aproximação ao
resultado obtido pela medição prática. Contudo, a nossa intenção aqui
não é entrarmos na parte do projeto propriamente dito, mas sim
pretendemos dar uma orientação muito segura
quanto às principais
características que uma sala precisa apresentar para que tenhamos a
melhor reprodução possível.
Importante é ter em mente que o RT60
depende fundamentalmente de
dois parâmetros, a saber: do volume livre da sala (V ) e do valor de absorção
sonora total desta sala (ΣΑ ). A absorção sonora vai depender tanto das superfícies das paredes, do piso e
do teto,
quanto das portas, janelas, móveis e também dos utensílios que
estejam no interior da sala. Podemos representar tudo isto, de acordo
com a equação simplificada de Sabine, da seguinte maneira:
RT60
= K•V/ΣΑ
Onde K representa uma
constante que depende do sistema métrico usado, o
V é o volume livre da sala e o
ΣΑ
é o valor de absorção sonora total
das superfícies
desta sala. Portanto, quanto maior for o
ΣΑ,
ou seja, quanto maior for a absorção sonora da sala, menor será o RT60
em segundos, pois a reflexão
será drasticamente reduzida. E também, por outro lado, quanto mais
reflexivas forem as superfícies, mais baixo será o valor de absorção sonora total
da sala
ΣΑ,
o que tornará os valores de RT60
cada vez mais altos. Estes cálculos são
bastante trabalhosos, pois precisam ser feitos para cada superfície
da sala e também para todas as freqüências sonoras. Quanto ao volume,
temos que quanto maior for a sala,
maior será o seu tempo de reverberação.
Mais adiante iremos fazer análises mais detalhadas.
Como um milionésimo da intensidade inicial de um som é um volume sonoro muito
baixo, já no nível do ruído normal de uma sala, fica muito difícil
podermos medir o
tempo de reverberação com alguma precisão. Foi adotada, então,
a medição do RT30, para se chegar ao
RT60
da sala, ou seja, medimos
inicialmente o tempo que o impulso sonoro leva para cair à milésima
parte da sua intensidade inicial
e, a seguir,
multiplicamos este valor
por 2 (dois), porque a escala é logarítmica, para então, chegarmos ao
RT60.
O tempo
de reverberação também pode ser definido como -10dB (= queda de 10% da intensidade inicial), RT10,
que multiplicado por 6 (seis) é comparável com o RT60.
A partir de agora, vamos chamar RT10
X 6 de
"Tempo do Primeiro Caimento" ou "EDT" (Early Decay Time).
O EDT
é muito importante em salas de concertos, como vamos ver adiante. O
gráfico acima apresenta o decaimento da intensidade de um som, emitido
em 60dB, em 3 salas de concertos diferentes, mas que possuem um mesmo
RT60. Como
se pode ver, dependendo dos
diversos aspectos construtivos de cada sala,
o decaimento da intensidade do som segue uma curva específica, onde
observamos diferentes EDT para um mesmo RT60.
Vejam, no eixo das ordenadas, a intensidade
sonora do impulso, que no caso é 60dB e, no eixo das abscissas, o tempo
de reverberação medido em segundos. As três curvas de caimento da
reverberação estão aí representadas, com diferentes EDT, apesar
de possuírem um mesmo RT60. A
curva superior possui um EDT maior do que o correspondente RT60;
a curva do meio, que é uma reta, o EDT é igual ao RT60
e; na curva inferior, o EDT é menor do que o RT60.
Analisem um pouco e procurem entender por vocês mesmos estes parâmetros.
Não é difícil percebermos o que eles estão mostrando.
Que volume uma sala
ideal deverá ter?
Quando falamos da nossa sala,
normalmente mencionamos a sua largura e o seu comprimento, imaginando já
tê-la definida. Porém, apesar do comprimento e da
largura serem muito importantes, a altura também tem grande relevância.
Desta forma, o primeiro parâmetro mais importante é, sem dúvida alguma, o
volume da sala. O volume é primordial! E aqui vem um conceito relevante:
quanto maior for o volume do ambiente, melhor reprodução sonora poderá
ser obtida.
Aqui alguém já poderá me
perguntar se as medidas em si são importantes. Sem dúvida alguma, são
muito importantes. Existem relações de medidas que são muito ruins para
salas com grandes volumes e também existem relações muito ruins para
salas pequenas, é verdade, mas temos também uma grande relação de
medidas que são boas e até excelentes para as nossas salas. Porém, em se
tratando do volume, quanto maior for, melhor! Mas isto não aumenta o RT60
em demasia? Pode até ser que precisaremos de um tratamento acústico
maior, porém o resultado sonoro final será, com certeza, melhor do que se
estivéssemos lidando com uma sala de volume menor. O volume maior traz
um palco sonoro maior, um realismo na reprodução que pode ser muito mais
acurado. Traz também uma outra grande vantagem, que é a
redução da problemática das ondas estacionárias que, na minha opinião, é
o “pé de Aquiles” das salas pequenas. Mas, este assunto, de ondas
estacionárias, vamos tratar em uma série de artigos exclusivos, devido à
sua
grande complexidade.
Como é um pouco vaga esta afirmação
de que quanto maior o volume melhor para nós, vamos lhes dar uma idéia de volumes
pequenos, médios e grandes. Por exemplo, consideramos uma sala de 3m X 4m X 4,16m, com
um volume em torno de 50m3, como uma sala de pequeno porte.
Até um volume em torno de 100m3, vamos considerar a sala como pequena. A
partir daí, até 200m3, consideraremos como sala média e acima disto
consideraremos as salas como grandes. Estes são valores estimados e aproximados,
somente para vocês
terem uma idéia geral do volume. O tratamento acústico é diferente para
uma sala pequena e para uma sala grande. Enquanto que, na sala pequena,
as ondas estacionárias são mais problemáticas, nas salas grandes, o tempo de
reverberação, entre outros parâmetros, exige maiores cuidados técnicos.
© 2010-2020 Jorge Bruno Fritz Knirsch
Todos os direitos reservados
http://www.byknirsch.com.br
Como se pode verificar por
estatística, a maioria das
nossas
salas é composta de espaços pequenos, onde a problemática das ondas
estacionárias é maior do que o problema do tempo de reverberação.
Acontece, porém, que grande parte destas salas não possui tratamento
adequado para as estacionárias, permanecendo então aquele grave
retumbante, embolado e indefinido, que costumamos chamar
de “grave de uma nota só”.
Quando ouvimos
música, o que ouvimos?
Imaginem agora todos nós na Sala
São Paulo, ouvindo os acordes da orquestra sinfônica do Estado de São Paulo.
Visualizem a orquestra completa tocando. O que realmente nós escutamos, quando ouvimos música em uma sala de
concerto? Ouvimos os instrumentos
tocando juntamente com o tempo de reverberação desta sala RT60
e com o tempo do primeiro
caimento
EDT, entre outros parâmetros que também dão um equilíbrio tonal
particular aos instrumentos. Esta orquestra tem um som específico, uma
sonoridade peculiar nesta sala, diferente do som que teria em outra sala
de audição com outras características distintas. Portanto, nós não estaremos ouvindo
somente a orquestra, mas sim, estaremos ouvindo a sala também. Estaremos
ouvindo um conjunto musical composto de toda orquestra tocando e da Sala
São Paulo "tocando junto”. Não é possível separarmos as duas coisas. Forma-se uma
simbiose sonora que, dependendo da sala e da música tocada pela orquestra,
o resultado auditivo poderá ser espetacular,
particular e único.
Existem extensos estudos, pelo
mundo a fora, com relação à
acústica de salas de concerto, com vasta literatura.
Inclusive, a STEREOPLAY alemã publicou recentemente um estudo a respeito das melhores
salas de concerto do mundo, distribuindo um CD contendo peças musicais
clássicas tocadas nas diferentes salas. E, meus amigos, como as
diferenças registradas foram grandes!!! Por isto, dizemos que a acústica das salas,
grandes ou pequenas, é a metade do resultado sonoro. Vamos aqui estudar
de forma abrangente a acústica de salas de concerto, não só para lhes
explicar melhor a sensação musical nestes recintos, mas também para
lhes mostrar a complexidade e a influência da acústica na música.
Só para aumentar o entendimento
acústico, o EDT e o RT60
possuem atributos musicais
diferentes e muito importantes para uma sala de concerto. Por exemplo,
o EDT, que é o tempo do primeiro caimento, representa
as primeiras reflexões na sala e influi preponderantemente sobre os
seguintes atributos musicais:
·
Transparência - representa nitidez, Clarity;
·
Intimidade
- envolvimento musical
·
Lateralidade
- reflexões laterais
Estes são alguns atributos musicais onde o EDT tem maior influência.
Quanto ao RT60,
ele influi nos seguintes
principais atributos:
·
Espacialidade - envolvimento do ouvinte
·
Calor musical - relação de graves (BR)
·
Brilho
- RT60
nas altas freqüências;
·
Reforço musical - graves e agudos, Loudness
Como se pode ver, o assunto é bastante complexo e pode ficar mais
complexo ainda! Existem
estudos profundos sobre estes atributos musicais e também sobre alguns outros não abordados
aqui. A literatura é farta, inclusive com valores e definições numéricas,
para diminuir e cercar a subjetividade de todos estes parâmetros. Quem tiver interesse em se aprofundar no assunto de
salas de concerto recomendo, entre os vários livros existentes no mercado,
o livro “Architectural Acoustics – Principles and Design” de Madan
Mehta, Jim Johnson e Jorge Rocafort. Vamos, porém, neste espaço,
dar apenas uma noção geral destes principais atributos musicais,
com a intenção de mostrar a profunda influência que o ambiente tem sobre
a reprodução musical, a ponto da sala definir, de forma preponderante, a
qualidade sonora desta reprodução musical.
Vamos, então, ao
primeiro item, que é a transparência. Podemos chamá-la também de
nitidez, definição ou de inteligibilidade. A transparência aumenta com EDT
curtos. Os americanos também a chamam de Clarity.
Vejam abaixo os
gráficos elaborados com a fala da palavra " MU-SI-CAL", em duas salas
distintas (A e B), com diferentes RT60,
com decaimento linear de
2,0s e 0,4s respectivamente, de forma que, nestas duas salas, o
EDT
é igual ao RT60.
Esta nossa análise envolve o
EDT,
pois a parte mais importante é a
queda dos primeiros 10% da intensidade inicial do som (que no caso é
igual a 70dB, conforme os gráficos). Vejam o que acontece na sala A, com fala normal e RT60
igual a 2,0s: após o pronunciamento da primeira sílaba "MU", a
intensidade do som cai um pouco, digamos para 68dB (nível de mascaramento) e
aí a
próxima sílaba "SI" já é pronunciada. A partir deste ponto as duas
sílabas se misturam e a inteligibilidade fica muito reduzida. Quando a
última sílaba "CAL" é pronunciada, a inteligibilidade já se torna muito pequena,
pois a mistura das três sílabas atinge todo o ambiente. Para que a
inteligibilidade aumente, é necessário que o nível de mascaramento seja o
menor possível. Uma alternativa para melhorar a inteligibilidade seria reduzir
o EDT, (que neste caso é igual ao RT60),
digamos para 0,4s, como nos é mostrado no gráfico do meio, referente à
sala B. Vejam que agora o nível de mascaramento é menor e está próximo do valor de 65dB e
aí a
inteligibilidade é maior. Uma outra forma de se aumentar a inteligibilidade
da sala A, com
o seu RT60
= 2,0s, é falar mais devagar, de forma mais pausada, pois o nível
de mascaramento se tornará menor (gráfico da direita).
É isto que acontece
em igrejas e recintos grandes, onde não foi trabalhado o EDT.
Este aspecto, que estamos aqui relatando, vale para discursos e também para música, em recintos grandes. Por
estes exemplos, podemos concluir que as melhores
salas de concerto possuem EDT curtos.
A intimidade (Intimacy) é
a impressão subjetiva do tamanho da sala. Salas menores, normalmente
retangulares e estreitas, como a Boston Symphony Hall (projetada
por Sabine em 1900) e a famosa
Grosser
Musikvereinsaal em Viena são consideradas salas intimistas. Salas mais
estreitas criam um EDT mais curto e melhoram este atributo
musical. Evidentemente, existe um valor ideal para cada volume em
questão. Salas mais largas criam eventos musicais mais distantes, menos
envolventes.
A lateralidade é
conseqüência também das primeiras reflexões das paredes laterais, com um
EDT curto. Isto explica o porquê das salas mais antigas, estreitas,
possuírem normalmente excelentes acústicas.
Quanto ao RT60,
a situação já é inversa. Normalmente RT60
mais longos trazem uma espacialidade maior, com maior
envolvimento do ouvinte.
O calor musical (bass
ratio = BR) é obtido procurando-se aumentar o RT60
em baixas freqüências, acima do RT60
das médias, com um resultado muito agradável na audição ao vivo.
Quanto ao brilho, em salas
de concerto, é exigido um cuidado todo especial. Como a maioria dos materiais
de construção já absorve freqüências acima de 2KHz e como o próprio ar
já atenua freqüências acima deste valor, é muito difícil, em salas grandes,
se
obter um bom brilho. Por isto, o uso de carpetes e materiais similares, em
salas de concerto, deve ser realizado com muita parcimônia. Na maioria
das salas, porém, o RT60
já sofre um decréscimo à medida que as freqüências sobem.
O reforço musical, que na
verdade é o calor musical com o brilho, representa a
tentativa de dar à sala de concerto um certo loudness que
transmita ao ouvinte uma sensação musical mais intensa.
Como podemos ver, o RT60
em salas de concerto deve ser mais longo. Portanto, de forma geral, as
melhores salas de concerto possuem um EDT curto e um RT60
longo. Naquele gráfico acima, onde
explicávamos e definíamos o RT60,
a melhor curva para salas de concerto, então, é a curva inferior, com
rápido decréscimo da intensidade do som logo de início, dando um baixo EDT e em seguida
um decréscimo mais lento, dando um longo RT60.
O gráfico do RT60
para todas as freqüências, em uma sala de concerto, também não é plano.
Normalmente é desejável ser mais alto em baixas freqüências, (onde as ondas
estacionárias estão abaixo do campo auditivo humano, devido ao tamanho da sala), caindo para um patamar mais
baixo nas freqüências dos médios e, a partir daí, o RT60
declina nos agudos, como pode
ser visto abaixo, no gráfico de famosas salas de concertos.
Como vocês podem ver no gráfico, a variação do RT60
nas diversas salas de concerto, apresentadas acima, é grande e por isso
mesmo a sonoridade de cada uma delas é muito diferente da captada nas outras.
Vejam que os médios estão
mais pronunciados na maioria delas, o que não é o ideal. Apenas duas
salas seguem a tendência que comentávamos
acima, ou seja, baixas freqüências com RT60
mais elevado e nas altas
freqüências, a
partir de 2000Hz, todas elas já com uma queda suave do RT60,
como havíamos analisado acima, o que indica que estas são as melhores,
acusticamente falando. O RT60
está variando em uma faixa grande, de 1,50 segundos até 3 segundos. Os
gráficos de EDT podem chegar a variar muito em relação aos de RT60,
mas infelizmente não consegui nenhum para lhes mostrar.
Resumo
Fizemos aqui uma abordagem sobre a acústica de salas de concerto,
onde mostramos e definimos o que vem a ser os RT60
e os EDT. Mostramos a grande
influência que o ambiente tem sobre o atributo musical. Evidentemente, devido a isto,
algumas salas são mais apropriadas para
tocarem certos tipos de musicas do que outras. No seio
da própria musica clássica, existem salas mais próprias para o
barroco, por exemplo, ou para o romântico, do que outras. De forma
simplificada, isto depende do ritmo da música, mais lento ou mais rápido
e também da
variação do volume sonoro da própria música, onde então os
RT60
deverão ser diferentes para conseguirmos a melhor sonoridade possível
para cada caso.
Abaixo mostramos outro gráfico, com os RT60
próprios para: uma sala de concerto para música sinfônica, outro para
uma sala de
música de câmera e outro para uma sala normal, executada sem nenhuma orientação
especial para acústica. Estas três salas, como vimos, devem tocar de forma muito
diferente. Onde o calor musical será maior? Haverá diferenças de brilho? Deixo
as respostas por conta de vocês, para que possam refletir um pouco mais.
Já o gráfico abaixo, mostra os tempos de reverberação dos principais
ambientes existentes como: salas de concerto, que nós vimos acima, salas
para órgão, auditórios
para múltiplos usos, teatros e salas de aula em função do volume. No eixo das ordenadas
estão os tempos de reverberação e no das abscissas os volumes das
salas pois, como vimos, o RT60 depende do volume.
Cada tipo de sala possui valores ideais de RT60
e de EDT. Inclusive a quantidade de literatura sobre o assunto e
também de
normas correlatas para cada sala é muito grande.
Como vocês vêem, devido à grande interação
existente entre os sons e o ambiente, a execução da música ao vivo tem que levar em conta a
acústica apropriada para os objetivos musicais propostos, seja para uma
orquestra, para um conjunto de música de câmera, ou então, por exemplo, para
um coral, uma capela, um conjunto de jazz, ou um conjunto de música
popular brasileira, como a nossa MPB. Cada uma destas propostas musicais exige
parâmetros acústicos próprios, preparando os ambientes para
proporcionarem os melhores
resultados e atributos musicais nas várias apresentações e shows. Este
resultado final otimizado e simbiótico pode implementar todo o encanto
musical!
No próximo artigo, vamos iniciar um estudo mais profundo sobre salas que realizam
reproduções musicais. A problemática é totalmente diferente da que vimos
agora, pois os
objetivos, como veremos, são outros. Uma coisa é a música ao vivo, com o encanto da simbiose entre os músicos, os instrumentos e o ambiente, e outra, bem
diferente, é reproduzir eletronicamente este evento musical em nossas salas.
Desejo a todos uma sala
corretamente tratada, para que vocês possam ouvir e desfrutar do que realmente
foi gravado!!! Uma excelente audição e aquele abraço!!!
Voltar
-
PRODUTOS, PROJETOS E INSTALAÇÕES |